Em entrevista ao Encontro, da TV Globo, na manhã desta terça-feira (1º), a família da jovem que foi estuprada após um show, em Belo Horizonte, pediu justiça e criticou o comportamento do motorista de aplicativo e dos médicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) durante o crime.
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais e uma audiência de custódia deve acontecer no Fórum da capital, nesta terça, após as 18h, para definir se o suspeito continuará preso.
“Nós vamos ter que catar os cacos da minha irmã para conseguir colocar ela de pé de novo. Minha família está destruída, completamente desestruturada”, disse Kelly, irmã da vítima, em entrevista a Patrícia Poeta.
A família conseguiu localizar o suspeito com a ajuda da polícia e das câmeras de segurança de comércios da região.
O homem, identificado como Weberson Carvalho da Silva, de 47 anos, é morador e trabalha na região, segundo a família. O g1 não localizou os advogados de defesa dele.
Ele está preso desde segunda-feira (31) no Presídio Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves, na Grande BH, e passa por audiência de custódia nesta terça-feira (1º).
A família disse que está ‘pasma’ com toda essa situação e que ainda não sabe muito bem o que fazer.
“O que a gente vai falar para essa menina? Vamos pedir calma? Vamos falar com ela que isso vai passar? Como que fala isso?”, desabafa Diego, cunhado da vítima.
Relembraram, ainda, que a vítima teve acalasia no esôfago, doença rara que dificulta a entrada de alimentos no estômago, e que precisou se alimentar por sonda até os 12 anos de idade.
“Viveu no hospital a vida inteira e, o dia que decidiu sair para passear, acontece uma coisa dessas”, complementou o cunhado.
A família relembrou que a jovem, de 22 anos, estava em um show no Mineirão no último sábado (29), onde disse ter bebido muito e um amigo do trabalho pediu um carro de aplicativo para ela.
“Ela estava bêbada, mas não desacordada. Ela entrou no carro acordada […] e esse amigo se disponibilizou a ir com ela, mas ela não quis, falou que não precisava. Ofereceu de ela dormir na casa dele, mas ela não quis”, relembrou a irmã da vítima.
A moça entrou no carro, então, sozinha e ficou desacordada durante o caminho. Quando chegou em casa, o motorista tentou chamar o interfone, mas não teve sucesso.
O amigo que chamou o carro de aplicativo para a vítima chegou a compartilhar a localização com o irmão mais novo, que mora com ela. Entretanto, de acordo com a família, ele não chegou a ver a mensagem chegar.
“Ele tem asma e nesse dia ele tinha passado no hospital, tomado antialérgico e medicações que dão sono. Ele dormiu e não viu a mensagem chegar”, relatou a irmã da vítima.
Os familiares ainda disseram que o interfone não tocou e criticam o fato de o motorista de aplicativo não ter tentado buzinar ou outra forma de fazer barulho para que alguém da vizinhança pudesse acordar.
Além das críticas ao fato de o motorista não ter feito mais barulho para tentar acordar alguém da vizinhança, a família ainda questiona o fato de uma outra pessoa ter aparecido para ajudá-lo a deixar a vítima sozinha no meio-fio.
“Quem é essa pessoa? Ele chamou por telefone? Porque eu não vejo uma pessoa qualquer parando e ajudando alguém como se estivesse desovando uma pessoa. Minha irmã foi jogada ali como um saco de lixo”, disse a familiar da vítima ao programa da TV Globo.
A família ainda questiona o fato de o motorista não ter levado a vítima, que estava desacordada, ao Hospital Municipal Odilon Behrens, que fica a poucos metros da rua da casa dela, onde foi deixada sozinha.
Em nota, a 99Pop afirmou que bloqueou temporariamente este motorista e que está à disposição das autoridades para as investigações. Diz, ainda, que os motoristas passam por orientações de segurança.
Os familiares voltaram a criticar a atuação do Samu no dia dos fatos. A ambulância foi acionada por volta de 7h de domingo (30), por uma popular que viu a moça desacordada no campo de futebol.
“O Samu foi até o local, viu que ela estava com a calça arreada até o joelho, desacordada. Acordaram minha irmã, atordoada, seminua, e ela pediu pra levar em casa. […] Eles falaram que não podiam fazer isso, só levar no hospital”, narrou a irmã da vítima.
Ainda segundo a família, por se tratar de uma região de muitas pessoas em situação de rua e usuários de drogas, os médicos podem ter achado se tratar de um andarilho da região.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, responsável pelo Samu, confirma que houve o primeiro atendimento e que a vítima recusou o encaminhamento para o hospital, mas nega omissão de socorro.