Política

Fernando Villavicencio, candidato à presidência do Equador, é assassinado

Villavicencio foi assassinado com três tiros na cabeça, nesta quarta-feira (9). Ele estava em quinto lugar nas pesquisas de intenção de voto.

Fernando Villavicencio em encontro político em Quito, Equador, em 9 de agosto de 2023 — Foto: REUTERS/Karen Toro

Fernando Villavicencio, candidato a presidente do Equador, foi assassinado com três tiros na cabeça depois de sair de um comício em uma escola na cidade de Quito, nesta quarta-feira (9), de acordo com autoridades locais.

Segundo informações iniciais, três criminosos efetuaram disparos de metralhadoras. Nove pessoas ficaram feridas, sendo que, entre elas, uma candidata à Câmara de Deputados e dois policiais.

Um dos suspeitos do crime foi morto depois de uma troca de tiros com a polícia, de acordo com o Ministério Público do Equador. Seis pessoas foram detidas por suspeita de envolvimento no caso.

No último vídeo em que Villavicencio é visto com vida, ele aparece saindo do colégio onde ocorreu o comício cercado por policiais que o ajudam a entrar em um veículo. Antes de fechar a porta, ouvem-se disparos e gritos.

A sede do partido Movimiento Construye, ao qual Villavicencio pertencia, foi atacada por homens armados, de acordo com um texto do grupo em uma rede social.

O cientista político Maurício Santora explica que o trabalho de Villavicencio como jornalista no Equator teve como foco denúncias envolvendo o narcotráfico e a corrupção da elite política do país: “Ele mexeu em interesses de muitos poderosos”.

Na disputa pela presidência, uma pesquisa de intenção de voto publicada na terça-feira (8) apontou que Villavicencio estava 5º lugar, segundo o jornal “El Universo”. A votação está marcada para o dia 20 de agosto.

Por meio de nota, o Itamaraty disse ter tomado conhecimento do caso “com profunda consternação”.

“Ao manifestar a confiança de que os responsáveis por esse deplorável ato serão identificados e levados à justiça, o governo brasileiro transmite suas sentidas condolências à família do candidato presidencial e ao governo e povo equatorianos.”

Fernando Villavicencio foi assassinado com três tiros na cabeça. Ele estava em quinto lugar nas pesquisas de intenção de voto.

Suspeito morreu em troca de tiros
O Ministério Público publicou uma nota na qual afirma que um suspeito morreu.

De acordo com o texto, ele foi ferido em uma troca de tiros com agentes de segurança. O suspeito foi detido e levado, já muito ferido, a uma unidade policial que trata de crimes cometidos em flagrante delito em Quito.

“[Profissionais de] uma ambulância confirmaram a morte, e a polícia está dando seguimento ao processo de coleta do cadáver.”

Lasso afirma que crime não ficará impune
O atual presidente, Guillermo Lasso, afirmou em uma rede social que o gabinete de segurança vai se reunir para dar uma resposta ao crime.

“O crime organizado chegou muito longe, mas o peso da lei vai cair neles”, disse o presidente.

O general da polícia Alain Luna disse que entre os feridos há policiais. Ele afirmou que o incidente é um ato terrorista.

“Estamos implementando um bloqueio na cidade, localização e operações básicas de inteligência, para encontrar os responsáveis.”

Ex-jornalista chegou a ser condenado por injúria
Villavicencio tinha 59 anos, era um ex-sindicalista da empresa estatal de petróleo Petroecuador e, depois, tornou-se um jornalista que publicou histórias em que denunciava que a companhia perdeu milhões de dólares por negócios ruins.

Entre 2021 e 2023, ele foi deputado federal. Ele se declarava defensor das causas sociais indígenas e dos trabalhadores.

O político era um adversário do ex-presidente Rafael Correa — em 2014, quando era jornalista, chegou a ser condenado a 18 meses da prisão porque a Justiça entendeu que ele cometeu injúrias contra Correa.

Ele afirmava que Correa tinha dado ordens para que o hospital da polícia fosse invadido por homens armados — à época, havia uma rebelião de policiais. Ele chegou a ir para o Peru como exilado político.

Villavicencio era casado com Verónica Sarauz e deixa cinco filhos.

Ameaças a autoridades
Na segunda-feira (7), funcionários do Conselho Nacional Eleitoral afirmaram que estavam recebendo ameaças de morte — a presidente da instituição, Diana Atamaint, foi quem fez o alerta.

Ela afirmou que os funcionários públicos “estão expostos a essas circunstâncias, não apenas a receber ameaças, mas também à violência política”, como insultos em redes sociais.

Violência no país

Nos últimos anos, o Equador enfrenta a violência ligada ao narcotráfico, que, durante o processo eleitoral, resultou na morte de um prefeito e um candidato a deputado, além de ameaças a um candidato à presidência.

A criminalidade no país fez com que a taxa de homicídios dobrasse em 2022, chegando a 25 mortes a cada 100 mil habitantes.

Há cerca de duas semanas, um prefeito foi assassinado no país.

“O país se tornou uma rota muito importante para o tráfico de drogas na América Latina, que entra pelos portos equatorianos, atravessa a Amazônia e vai para a Europa e os Estados Unidos. Então, há um crescimento muito grande dessa influência política do narcotráfico”, explica o cientista político Maurício Santoro.

Eleições antecipadas
O Equador irá eleger um presidente, vice-presidente e os 137 parlamentares em 20 de agosto. O presidente Guillermo Lasso dissolveu a opositora Assembleia Nacional, em maio, para pôr fim à “crise política grave e comoção interna”.

A dissolução, que deu lugar a eleições gerais antecipadas, ocorreu em meio a um julgamento político para destituir Lasso.