Responsável pelo início da investigação da morte de uma jovem baleada em Ribeirão Preto (SP), a delegada Vanessa Matos da Costa diz que houve excesso na conduta do policial militar responsável pelo tiro.
O soldado de 35 anos foi preso em flagrante nesta segunda-feira (14) por duas tentativas de homicídio e pela morte de Julia Ferraz, de 27 anos, atingida no peito quando saía de um bar na Avenida Independência, na zona Sul. A via é uma das mais movimentadas da cidade e conhecida por abrigar lojas, restaurantes e casas noturnas.
Em depoimento, o policial, que estava de folga, disse que atirou ao revidar a uma tentativa de assalto praticada por dois jovens que estavam de moto. Os homens apontados como ladrões, no entanto, negam qualquer crime.
Segundo a Polícia Civil, dez cápsulas deflagradas foram encontradas no local do crime e apreendidas. A arma do policial também foi recolhida.
“Ainda que se configure uma legítima defesa em razão de um roubo tentado – a princípio não está configurado -, a meu ver, houve um excesso”, diz a delegada.
Segundo Vanessa, o policial assumiu o risco de matar alguém ao atirar em um local movimentado, inclusive com a saída de clientes no momento dos disparos.
O policial foi levado ao presídio Romão Gomes, em São Paulo (SP), e deve passar por audiência de custódia nesta terça-feira (14).
Advogado do policial, Gustavo Henrique de Lima e Santos disse que não vai se manifestar sobre a investigação que ainda está em andamento e afirmou que a realidade dos fatos será demonstrada durante o processo.
Procurada, a família de Júlia não quis comentar o assunto.
Tiros na porta de bar
A EPTV, afiliada da TV Globo, teve acesso a imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos próximos ao local. Em um dos vídeos é possível ver o policial de moto ao lado de outros dois homens, também de moto. Eles parecem discutir, e o policial saca a arma e faz vários disparos quando a dupla acelera o veículo.
Por outro ângulo, é possível ver os dois homens seguindo na moto pela avenida e, ao fundo deles, um casal atravessando o canteiro central da avenida.
As imagens mostram quando a mulher dá alguns passos e cai. O companheiro dela se desespera.
A gerente de loja Julia Ferraz, de 27 anos, morreu antes da chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ela era casada e mãe de duas meninas.
O que aconteceu depois
Após os tiros, a Polícia Militar foi chamada. Os dois homens que estavam na outra moto acabaram baleados e foram identificados ao darem entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte.
Segundo o boletim de ocorrência, Gustavo Alexandre Scandiuzzi Filho, de 26 anos, e Arthur de Lucca dos Santos Freitas Lopes, de 18 anos, são apontados pelo policial como autores do suposto roubo. Ambos foram feridos no pé, sendo que Gustavo precisou passar por cirurgia e está internado na Santa Casa.
À polícia, Gustavo, que dirigia a moto, disse que discutiu com o policial momentos antes e que o provocou junto com Arthur quando eles emparelharam os veículos, “falando que iriam pegá-lo”.
Gustavo disse ainda que ouviu o barulho de disparos e que ele e o garupa foram atingidos por tiros. Feridos, eles seguiram até o bairro Parque Ribeirão Preto, na zona Sul, de onde foram levados à UPA.
O policial alega que reagiu depois que Gustavo e Arthur o abordaram quando estava a caminho de uma lanchonete e que eles perguntaram se a moto tinha seguro porque ele iria perdê-la.
Segundo o policial, o garupa da moto sacou uma arma, momento em que ele atirou na direção da dupla.
Gustavo e Arthur negam que estavam armados. Os advogados de defesa deles reafirmaram que não houve tentativa de roubo no local.
O caso foi registrado como homicídio consumado, homicídio tentado e tentativa de roubo. A investigação deve ser conduzida pelo 4º Distrito Policial.