O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, afirmou que “nem Jesus Cristo” sabe tudo que acontece nos assentamentos e ocupações, ao ser questionado sobre supostas denúncias de ameaça, situação análoga à escravidão e extorsão ocorridas em ocupações. “Se houver caso de denúncia, vá à delegacia e abra processo, porque o maior afetado é o MST. (…) Nós do MST somos os mais interessados em evitar possíveis desvios e abusos. Somos contra arrendamento (de terras). Nem Jesus Cristo sabe que acontece em todos os assentamentos”, afirmou Stédile. Ele exaltou, no entanto, que os casos não podem ser generalizados, uma vez que os casos são “da vida” e comuns para movimentos populares. “As regras do acampamento e do assentamento são decididas pela própria comunidade, é uma democracia popular. Outra coisa é, em caso de desvio de comportamento de dirigentes ou recursos, é Código Penal. É o nosso dever que se corrija esses desvios. O MST quer organizar o povo para lutar pela terra, para acabar com a pobreza, ao organizar o povo pobre, não é fácil. Então acontece distorções, transtornos, da vida normal, como qualquer um que organiza qualquer movimento popular e de massas, acontece tipos de fora do combinado”, completou.
Durante as mais de quatro horas de depoimentos e perguntas, João Pedro Stédile também foi questionado sobre a recente invasão de área da Embrapa, em Pernambuco, e admitiu que o movimento foi “um equívoco”. “Foi um erro, um equívoco entrar na Embrapa. Mas eles decidiram porque era a área pública mais próxima e entraram na Embrapa não para reivindicar a área da Embrapa, entraram na Embrapa para chamar a atenção da opinião pública e conseguiram”, comentou, citando que os acampamentos têm autonomia. “Ah, muitas vezes eles exageram ou erram? Concordo. Às vezes, eles exageram e erram, mas eles têm o direito de decidir. Nenhuma instância nacional decidiu que eles deviam ir”, completou.
Stédile também foi questionado se seria amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando ele esclareceu que é um “companheiro de luta” do petista, negou ter um passaporte diplomático e foi chamado de “vagabundo” pelo deputado federal Éder Mauro (PL-PA), o que causou um bate-boca entre governistas e opositores. “A gente sabe que esse MST não tem absolutamente nada de movimento social, o MST não tem nada com reforma agrária. É movimento terrorista, que invade terra, que queima plantação, que mata gado, que queima casa nas fazendas, inclusive pessoas. (…) O senhor é um vagabundo”, afirmou o parlamentar, sendo interrompido pelo presidente do colegiado, Luciano Zucco (Republicanos-RS), que pediu respeito ao depoente.