A advogada Gabriela Soares, de 27 anos, denunciou à Polícia Civil que ficou deformada após fazer um preenchimento labial com Karina Jéssica, que se passava por esteticista em Goiânia. Fotos mostram que os lábios da profissional ficaram completamente inchados e ela contou que ficou mais de 15 dias sem sair de casa.
“Tive vergonha de sair de casa porque ficou muito feio. As poucas vezes que eu saía as pessoas me chamavam de boca de linguiça. Até tomar água era difícil”, contou.
O g1 não localizou a defesa de Karina até a última atualização desta reportagem.
O procedimento foi feito em fevereiro de 2022. Gabriela disse que conheceu Karina por um anúncio nas redes sociais e a escolheu para fazer sua primeira intervenção estética no rosto, por isso achou que certo inchaço era até normal.
“Minha expectativa era que ficasse bonito, eu confiei nela e achei que seria um trabalho. Senti a dor de cada agulhada, continuei porque pensei que era parte do procedimento, depois eu descobri que não era”, relembrou.
Gabriela contou que Karina não fez sequer uma anamnese com ela. Quando chegou à sala de atendimento, os produtos já estavam dispostos na mesa. Minutos depois o inchaço começou e, desde fevereiro do ano passado, “vai e volta”, segundo a advogada.
“O inchaço foi diminuindo. 3 meses depois, voltou a inchar e eu comecei a desconfiar, eu tive várias crises de inchaço. Semana retrasada tive mais uma crise. Eu descobri que tinha algo errado porque outra vítima compartilhou o caso”, disse.
Ao questionar Karina sobre o inchaço, Gabriela disse que a falsa esteticista disse que era normal, receitou um remédio corticoide e disse que a imunidade dela poderia estar baixa.
“Eu quero justiça porque o que essa mulher fez não tem cabimento, a cada momento chegam pessoas no nosso grupo de vítimas”, finalizou.
À Polícia Civil, Karina Jéssica Gomes Souza, de 34 anos, suspeita de se passar por esteticista e lesionar pacientes, disse que aprendeu a fazer os procedimentos estéticos na prática e “vendo conteúdos”. O delegado Wellington Lemos disse que a mulher não tem formação superior, apenas o ensino médio completo.
Segundo o delegado, Karina não especificou onde via os conteúdos, mas acredita que ela quis dizer que assistia à vídeos. Informalmente, durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão, a mulher falou à polícia que ela mesmo produziu o diploma.
“Ela adulterou, falsificou, e usava um documento falso que a habilitava como graduada em estética e também pós-graduada nessa área”, explicou o delegado.
O delegado explicou que pacientes denunciaram que tiveram o rosto deformado e Karina chegava até a receitar remédios controlados após as complicações. A investigação apontou que as pessoas eram atraídas pelo preço abaixo da média do mercado.
A polícia apurou, inclusive, que Karina teve complicações após fazer um procedimento no próprio rosto. Ao delegado, a mulher disse que teve edema após fazer um preenchimento no queixo.
Na última terça-feira (22), a polícia cumpriu cinco mandados de busca e apreensão na casa e em quatro clínicas em que a mulher atendia os pacientes. Segundo o delegado, pelo menos 7 vítimas relataram terem sofrido inchaços, edemas, perdas da sensibilidade, deformação temporária e dor.
“Após ser contatada por essas vítimas que ficaram lesionadas, ela receitava por escrito ou verbalmente, via mensagens, para essas vítimas tomarem medicações até de uso controlado”, descreveu o delegado.
Durante a operação, duas das clínicas foram interditadas, segundo o delegado. Wellington explicou que a polícia cumpriu os mandados de busca e apreensão “para reprimir esse tipo de atividade” e verificar se os estabelecimentos possuíam as documentações legais e alvarás de funcionamento. Além de verificar se os profissionais das unidades possuíam as devidas habilitações.
“Ela sublocava essas salas para atuar. Ela não era a profissional responsável por essas clínicas e apenas sublocava esse horário”, explicou.
O nome das clínicas não foi divulgado, por isso, o g1 não as localizou para obter um posicionamento até a última atualização desta reportagem.
De acordo com o delegado, a investigação começou após a denúncia de uma vítima há cerca de um mês. À polícia, a vítima disse que sofreu lesões após fazer um procedimento com Karina em 2022, em uma clínica no Setor Bueno.
Conforme apurou a polícia, até o momento, sete vítimas da falsa esteticista foram identificadas. O delegado explicou que todos os procedimentos eram feitos no rosto dos pacientes, como preenchimentos labiais, de bigode chinês e olheiras, por exemplo.
Karina está sendo investigada por exercício ilegal da medicina, exercício ilegal de profissão, lesão corporal e uso de documento falso. Segundo o delegado, a imagem da investigada foi divulgada para encontrar novas vítimas.
Conforme detalhou o delegado, a suspeita não foi presa, por se tratar de uma fase inicial da investigação.
“A sua liberdade não demonstra um risco contra a segurança pública, os requisitos da prisão preventiva não estão ainda configurados e o objetivo dessa operação foi para arrecadar material probatório dos fatos relatados pelas vítimas”, finalizou.