São ao menos 5.300 mortos apenas na cidade portuária de Derna.
As enchentes devastadoras que atingiram a Líbia deixaram ao menos 5.300 mortos na cidade portuária de Derna e mais de 10 mil desaparecidos no país, disse o ministro da Aviação Civil Hichem Abu Chkiouat, à agência de notícias Reuters.
Segundo ele, o número de mortes deverá aumentar, podendo até duplicar.
“O mar despeja dezenas de corpos constantemente”, afirmou o ministro, acrescentando que a reconstrução da cidade custaria bilhões de dólares.
Equipes estão lutando para resgatar os corpos das vítimas que foram arrastadas para o mar em enchentes semelhantes a um tsunami.
O cenário é resultado do rompimento de duas barragens e quatro pontes em Derna, o que fez a cidade — a mais afetada na Líbia — praticamente submergir quando o furacão Daniel atingiu o país no domingo (10).
Ajudas internacionais começaram a chegar, mas os esforços de resgate estão sendo dificultados pela situação política na Líbia, que é dividida entre dois governos rivais.
Os EUA, a Alemanha, o Irã, a Itália, o Qatar e a Turquia estão entre os países que afirmaram ter enviado ou que estão prestes a enviar ajuda.
Vídeos gravados após o anoitecer de domingo mostram um “rio” formado pelas enchentes atravessando a cidade, enquanto carros se movimentam indefesos na correnteza. O país também sofreu com deslizamentos.
Há histórias angustiantes de pessoas que foram arrastadas para o mar, enquanto outras se agarraram aos telhados para sobreviver.
“Fiquei chocado com o que vi, era como um tsunami”, disse Hisham Chkiouat, do governo que controla o leste da Líbia.
No leste, as cidades de Benghazi, Soussa e Al-Marj foram fortemente afetadas. A cidade de Misrata, no oeste, também foi atingida.
“Todos dizem que parece o apocalipse. Os gritos das crianças, os cadáveres nas ruas”, disse à BBC Johr Ali, um jornalista líbio que está em Istambul, mas cuja família ainda está na Líbia.
li diz que falou com uma família que foi a única que sobreviveu às inundações em um bairro.
“Eles contaram que quando as enchentes baixaram, a água revelou o corpo de uma mulher que ficou pendurada em um poste de luz. Ela acabou morrendo lá.”
Kasim Al-Qatani, um trabalhador humanitário atuando na cidade de Bayda, disse à BBC que é difícil para as equipes de resgate chegarem a Derna, já que a maioria das vias para a cidade estão bloqueadas “devido aos enormes danos”.
Além disso, ele diz que falta água potável na cidade, que sofre também com a falta de suprimentos médicos.
Al-Qatani relata que o único hospital em Derna não consegue mais receber pacientes porque “há mais de 700 cadáveres esperando no hospital e ele não é tão grande assim”.
Foi iniciada uma investigação sobre a razão pela qual as inundações causaram tamanha devastação.
Especialistas em engenharia hídrica disseram à BBC que é provável que uma barragem superior, a cerca de 12 km da cidade, tenha falhado primeiro, fazendo sua água jorrar em direção à segunda barragem, mais perto da área populosa de Derna.
País dividido
A Líbia enfrenta um caos político desde que o ditador Muammar Gaddafi foi derrubado e morto por uma multidão em 2011. Desde então, o país rico em petróleo está dividido, com um governo reconhecido internacionalmente operando a partir da capital, Trípoli, e outro governo no leste.
Segundo o jornalista líbio Abdulkader Assad, essa divisão dificulta os esforços de resgate, uma vez que as diversas autoridades não conseguem responder com agilidade a uma catástrofe natural.
“Não há equipes de resgate treinadas na Líbia. Tudo nos últimos 12 anos girou em torno da guerra”, disse ele à BBC.
A administração com sede em Trípoli enviou um avião com 14 toneladas de suprimentos médicos, sacos para cadáveres e mais de 80 médicos e paramédicos.
O enviado especial dos EUA à Líbia, Richard Norton, disse que Washington enviará ajuda ao leste da Líbia em coordenação com os parceiros da ONU e as autoridades líbias.