O Flamengo iniciou a temporada de 2023 cercado de muita expectativa na tentativa de ‘ganhar tudo’ que viria a disputar. No entanto, o que se viu foram diversos fracassos esportivos e uma crise profunda fora das quatro linhas.
E o vice-presidente de futebol, Marcos Braz, acabou sendo o protagonista de muitas dessas turbulências do Flamengo. A última foi a briga com um torcedor no shopping, na terça-feira (19), mas o cartola foi pivô de tantas outras envolvendo torcida, jogadores e até colegas de direção.
A relação com os torcedores vem desgastada desde a temporada passada, quando Marcos Braz foi duramente criticado por se candidatar a deputado federal na eleição em 2022. O dirigente, eleito vereador em 2020 após o sucesso esportivo do Flamengo desde 2019, acabou não conseguindo os votos necessários.
E a cada fase ruim do time essa situação política fora do clube era martelada pelos torcedores. Faltas de Braz a alguns jogos do clube durante o ano também foram criticadas pelos rubro-negros e causaram uma insatisfação interna no elenco. Ele tem sido cada vez menos presente no Ninho, algo que causou uma reação negativa em alguns atletas. Parte da diretoria que não tem boa relação com o cartola sabe que a política tem sido o calcanhar de Aquiles de Braz.
Em um momento de sucesso na temporada passada sob o comando de Dorival Júnior, um membro da diretoria que figura com presença nos jogos chegou a cutucar Braz abertamente na zona mista após o Flamengo atropelar o Vélez na Argentina com uma sonora goleada por 4 a 0.
“Vereador (Braz) defendia tanto o Paulo Sousa. Se a gente não demite, o vereador iria hoje virar um síndico”, disse o cartola à época.
Além de tentar manter suas convicções até o fim, Braz é criticado por torcedores pelos acordos que costura. Principalmente com as altas multas rescisórias que o clube já desembolsou para arcar com as demissões dos técnicos escolhidos por ele e que acabaram fracassando no Flamengo. Ao todo, o Rubro-Negro já precisou gastar quase R$ 40 milhões com as demissões de Doménec Torrent, Rogério Ceni, Paulo Sousa e Vítor Pereira.
Antes com relação bastante próxima ao elenco, Braz não é mais unanimidade entre os jogadores. Já após a final em Guayaquil, quando o cartola puxou o canto no vestiário ‘Real Madrid, pode esperar, a sua hora vai chegar’, o ato não caiu bem no elenco.
Mesmo com títulos, a insatisfação com a postura de Braz já existia e só aumentou com o caso. A relação com Gabigol, seu grande trunfo da gestão por ter sido entusiasta da contratação do atacante que se tornaria ídolo rubro-negro, azedou. Os dois não têm mais relação como antes e se tratam apenas de forma profissional.
A áspera briga que a ESPN trouxe com exclusividade após a partida contra o Fortaleza, em julho, ainda ecoa no Ninho do Urubu. Alguns jogadores não gostaram da ironia do cartola após Gabigol cobrar um campo de jogo de qualidade. A fala ‘Quer gramado bom? Vai para Premier League’ não caiu bem com líderes do elenco que já reclamaram diversas vezes publicamente sobre a situação.
Atualmente, Braz tem cada vez menos força no Ninho e sua situação é considerada já no limite. O contato com o técnico Jorge Sampaoli é zero. O diálogo com os atletas tem sido cada vez menos frequente. Há quem questione a função e a presença do cartola.
O presidente Rodolfo Landim, que costuma ser fiel aos que o abraçaram na eleição vencida em 2018, é defensor do cartola. Braz é um escudo do presidente, sendo vidraça para as pedras tacadas pela torcida e que acabam não chegando a Landim, outro que está em rota de colisão com a arquibancada.
O Flamengo acendeu o sinal de alerta após a confusão envolvendo Braz e estuda aumentar a segurança para os próximos dias. Há um temor de que a situação possa piorar após a partida contra o Goiás, nesta quarta-feira (20), pela 24ª rodada do Brasileirão.