Celebridades

Por que virou moda roupa que simula ‘corpo pelado’, com estampas consideradas polêmicas?

Roupa que simula ‘corpo pelado’ em estampas vira moda

Parece nudez, mas é só deboche. Uma das estampas mais famosas do momento faz referências ao naked dress (vestido nu, em inglês), mas, ao contrário da tendência de mamilos à mostra, apenas ilustra o corpo humano. Tudo graças à ilusão de ótica.

Peitos, abdomens, músculos e ondas de calor estão entre as principais imagens emuladas pelo estilo.

Resgatada dos anos de 1990, quando viveu seu auge na alta costura, a estética trompe l’oeil (engana o olho, em francês) voltou à fama. E desta vez, peladona.

Burlando o Instagram
Embora o mamilo feminino seja proibido no Instagram e Facebook, o sucesso do estilo tem ajudado mulheres a burlarem a censura das redes.

Em setembro, a artista costa-marfinense Laetitia Ky postou uma foto, no Instagram, usando um vestido que dá a impressão de ela estar completamente nua. A peça, no entanto, cobre a maior parte de seu corpo. O algoritmo não barrou a publicação.

Também adepta à tendência, Anitta é outra que emplacou mamilos femininos no feed do Instagram, numa foto em que veste uma blusa de simulação de seios nus.

Mas ilusão de ótica do trompe l’oeil é tão marcante que, em alguns casos, a rede não sabe diferenciar o desenho de um corpo de carne e osso, levando os looks à censura.

Uma estampa de roupa da atriz Vitória Strada foi excluída do Instagram, confundida com um topless.

Em agosto, a empresária e ex-BBB Bianca Andrade reclamou das diretrizes da rede sobre o corpo das mulheres.

“Esqueci que a sociedade precisa conversar mais sobre mamilos femininos. Enquanto isso…”, escreveu ela numa legenda do post em que cobre os seios em trompe l’oeil, numa peça da grife francesa Jean Paul Gaultier.

Mamilos polêmicos
Inserido na moda na década de 1930 com a estilista Elsa Schiaparelli, o trompe l’oeil é um efeito visual que dá um aspecto tridimensional ao look.

Bebendo do surrealismo, Schiaparelli mostrou que era possível inserir detalhes fictícios a uma peça. Pela primeira vez, um suéter pôde estar engravatado sem precisar de uma gravata, em termos literais. Dali em diante tornou-se comum concretizar a imaginação para além da realidade.

O estilo teve seu auge na década de 1990, com Jean Paul Gaultier explorando desenhos geométricos e ultracoloridos, num design que remete a figuras de biquínis e ondas de calor corporais.

Três décadas depois, cá estamos nós, vendo marcas da alta costura e varejistas de apelo popular como a chinesa Shein reviverem a ilusão de ótica.

O forte destaque à nudez reflete o mesmo zeitgeist que rodeia o naked dress, cada vez mais comum em baladas noturnas, desfiles de grife e tapetes vermelhos. Vivemos a era do corpo em evidência.

Em meio a crescentes debates sobre objetificação feminina e liberdade sexual, a escolha por exibir mamilos e lingeries — seja de maneira literal ou lúdica — funciona como afronta aos códigos de vestimenta, além de um enaltecimento da autoimagem.

Assim como Vivienne Westwood, a mãe do guarda-roupa punk, debochou de valores sociais sobre o corpo feminino, em 1977, numa blusa que imita peitos, o trompe l’oeil contemporâneo serve como ironia.

Ainda que a estampa também tenha espaço entre os homens, o sucesso atual seduz o público feminino. Em muitos casos, são mulheres contestando o próprio ato de vestir uma roupa.