"A essência da regra é que o goleiro não perca a chance de defender o pênalti em uma disputa limpa... Foi um movimento que causou impacto na ação do goleiro"
Um lance ocorrido no empate por 3 a 3 entre Sport e Ponte Preta, pela Série B do Campeonato Brasileiro, tem gerado bastante polêmica e reclamação do lado alvinegro. Fabrício Daniel, do Sport, marcou um gol de pênalti com uma suposta paradinha, que não é mais permitido no futebol.
Quando o jogo estava 3 a 1 para o clube paulista, o Sport teve um pênalti a seu favor. Na cobrança, Fabrício Daniel deu uma paradinha, mas o árbitro José Mendonça da Silva Junior (PR) e o VAR Philip Georg Bennett (RJ) entenderam que o lance foi legal, pois o jogador não tinha completado a corrida.
REGRA
A regra diz que o jogador pode fazer a paradinha durante a corrida para a cobrança. “Ameaçar durante a corrida para cobrar um pênalti para confundir um oponente é permitido, mas ameaçar chutar a bola uma vez que o jogador completou a corrida é agora uma infração da lei número 14 e um ato antiesportivo pelo qual o jogador deve ser punido”, diz a Fifa.
Um argumento utilizado por muitos é que o jogador ainda não tinha colocado o pé de apoio para cobrança. Entretanto, a regra não fala em pé de apoio e, sim, em ter ou não completado a corrida.
EX-ÁRBITRO FIFA DISCORDA DA MARCAÇÃO
O Portal Futebol Interior conversou com Manoel Serapião, ex-árbitro Fifa, para entender melhor a situação. A resposta dele foi clara: o gol foi irregular.
“Para interpretar bem uma norma, é preciso saber o objetivo dela porque não é possível colocar em um papel tudo o que pode acontecer. Acima da norma, existe o principio. Qual é este principio? O goleiro não ser ludibriado, para ter chance de fazer a defesa”, iniciou a explicação.
“A essência da regra é que o goleiro não perca a chance de defender o pênalti em uma disputa limpa. Ali, o jogador fez um movimento e imediatamente cobrou o pênalti. Foi um movimento que causou impacto na ação do goleiro. O goleiro, inclusive, está vendo a perna do jogador atrás da bola, e uma distância muito curta. Se após o movimento, o jogador desse tempo para que o goleiro se recompusesse, estava legal. Mas ele cobrou imediatamente, com objetivo de burlar a regra“, reforçou Manoel.
ESSÊNCIA DA REGRA
Apesar de salientar que o lance precisa de um pouco de interpretação, Manoel Serapião avaliou que a essência de igualdade na disputa foi quebrado.
“É um lance um pouco interpretativo, mas está na essência do futebol a igualdade entre o atacante e o goleiro no pênalti. O goleiro sofreu impacto com o movimento ou não? Se sofreu, não é legal”, cravou.
PÊNALTI NÃO VOLTA, É ANULADO!
Muitos internautas reclamaram do lance e disseram que o pênalti devia ser cobrado novamente. Mas isso não aconteceria.
Se o árbitro entendesse que houve irregularidade, o cobrador deveria receber cartão amarelo e o pênalti anulado. O jogo seria retomado com tiro livre indireto a favor da Ponte Preta.
VEJA O LANCE:
QUEM É MANOEL SERAPIÃO
Ex-árbitro de futebol Fifa, Manoel Serapião atuou em mais de 850 jogos profissionais. Já integrou a comissão de arbitragem da CBF, entre 1994 e 1998 e entre 2005 e 2012, até mesmo presidindo interinamente.
Serapião também integrou o Conselho Técnico Consultivo da International Football Association Board (IFAB), justamente órgão que regulamenta as regras do futebol. Ele representou a Conmebol e CBF de 2016 a 2018, tendo participado ativamente da grande alteração das regras ocorrida em 2017.
Além disso, é considerado “Pai do VAR”, pois foi o autor do projeto e responsável técnico por sua implementação no Brasil.
PONTE PRETA NA SÉRIE B
Com o empate, a Ponte Preta chegou a 34 pontos e está em 16º lugar, uma posição fora da zona de rebaixamento, acima da Chapecoense, tem 30, em 17º.
O time paulista volta a campo no domingo, às 15h45, quando recebe o Atlético-GO no Moisés Lucarelli, em Campinas (SP), pela 32ª rodada.