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Com mais de 100 cirurgias, empresário que teve o braço amputado após choque elétrico compartilha rotina

Empresário goiano Daniel Londes usa internet para mostrar as adaptações que faz para praticar exercícios físicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Em setembro de 2012, a vida do empresário Daniel Londes mudou em questão de segundos. Enquanto trabalhava no cabeamento de um prédio, em Goiânia, um dos fios que segurava encostou em um transformador de alta tensão, fazendo com que ele recebesse uma descarga elétrica de mais de 35 mil voltz.

A gravidade do acidente fez com que Daniel ficasse 44 dias em coma, além de passar por 112 cirurgias, entre elas a de amputação da mão direita e parte do antebraço. 11 anos depois de tudo, o empresário tem uma vida normal e compartilha nas redes sociais sua rotina de exercícios físicos, músicas que gosta de tocar e tira dúvidas sobre o que aconteceu.

Daniel explica que antes do acidente sempre teve uma vida ativa, em que andava a cavalo, pilotava moto, fazia exercícios, tocava instrumentos e muito mais. Depois da amputação, aos poucos, passou por um processo natural de adaptação de todas as suas atividades e hoje faz praticamente tudo que fazia antes, sem ter nenhum problema.

‘Realização’
O vídeo de Daniel que mais repercutiu na internet tem quase 1,5 milhão de visualizações. Nele, o empresário explica que tem Síndrome do Membro Fantasma, uma condição neurofisiológica que faz com que ele continue sentindo a mão que foi amputada, mesmo ela não fazendo mais parte do corpo (entenda mais sobre a síndrome abaixo).

“Eu sinto a minha mão o tempo todo. Já aconteceu em um torneio de futebol de eu levar uma bolada no rosto, porque levantei a mão amputada para me tampar, mas a bola passou. Ou do meu celular cair da mão esquerda e eu, por reflexo, tentar pegar com a direita (amputada)”, disse Daniel ao g1 em meio a risadas.

O empresário também compartilha na internet vídeos tocando diferentes instrumentos e mostra como faz adaptações para praticar exercícios físicos. Em uma das postagens, tocando a música “Só os loucos sabem”, Daniel escreveu: “Deus me deu a vida de volta e me adaptei muito bem”.

Daniel afirma que o hábito de compartilhar a rotina e tirar dúvidas das pessoas surgiu naturalmente e que fica feliz em poder inspirar as pessoas a darem mais valor à vida. Veja alguns dos vídeos do empresário acima.

‘Milagre’
O empresário diz que é considerado por todos ao seu redor como um milagre, pois são raros os casos em que uma pessoa consegue sobreviver a uma descarga elétrica tão intensa. Fora isso, também foi submetido a cirurgias longas, que também ofereciam risco de vida. O procedimento de amputação, por exemplo, durou 26 horas.

“O choque passou dentro de mim e pra sair ele furou meu pulmão, arrebentou meu tendão de Aquiles e algumas faíscas também saíram pelo braço, mão e até pelo crânio. Tenho fotos e vídeos das cirurgias guardadas porque servem como base de estudo para os médicos, porque é raro alguém sobreviver a esse tipo de choque”, conta Daniel.

De acordo com o empresário, os médicos também garantiram que ele havia ficado estéril por conta do acidente. Mas o goiano surpreendeu a equipe mais uma vez, ao se casar e tornar pai de dois filhos.

“Eu acho que o acidente mudou a preciosidade das mínimas coisas da vida. Hoje eu consigo apreciar coisas que antes, na correria, eu não parava para observar. Entendi que a vida é uma coisa única, que o presente é uma coisa única”, reflete Daniel.

Entenda a Síndrome do Membro Fantasma
O médico ortopedista especialista em cirurgia de mão, Leonardo Kurebayashi, explica que a Síndrome do Membro Fantasma é uma condição neurofisiológica. Ou seja, apesar do membro não fazer mais parte do corpo da pessoa, o cérebro dela continua acreditando que ele está lá. Por conta disso, algumas pessoas sentem dores, coceiras e até câimbras nos membros amputados.

“Existem relatos até de pacientes que foram submetidas à retirada das mamas e continuam sentindo os seios”, detalha o médico.
Kurebayashi também afirma que, durante muito tempo, a medicina acreditou que as sensações sentidas pelos pacientes eram psicológicas, mas depois, constatou-se que também haviam fatores fisiológicos.

Atualmente, ainda não há nenhum tratamento específico para a cura da síndrome. Para pacientes que continuam sentindo dores, por exemplo, são recomendadas algumas terapias ou medicamentos.