Brasil

Ibovespa fecha em queda de 1,22% após falas de Lula sobre meta fiscal; dólar sobe a R$ 5

Paulo Whitaker/Reuters

Paulo Whitaker/Reuters

O Ibovespa encerrou em queda de 1,22% nesta sexta-feira (27), aos 113.301,35 pontos, marcada por uma bateria de notícias corporativas e desempenho misto em Wall Street, renovando mínimas da sessão à tarde após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que meta fiscal zero de 2024 dificilmente será alcançada.

Na semana, o principal índice da bolsa brasileira encerrou na estabilidade, com variação positiva de 0,2%, porém registra queda de 2,74% no acumulado do mês

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o governo não deve conseguir cumprir a meta de zerar o déficit primário das contas públicas em 2024. A declaração foi dada durante café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto.

“Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para esse país”, afirmou o presidente.

A frase de Lula – que piscou na tela dos investidores às 13h55 – mudou completamente a direção do mercado. O sinal de um governo mais leniente na área fiscal azedou o humor dos investidores.

Após os comentários, as taxas de juros futuros domésticas viraram para alta. A maioria dos vencimentos terminou o dia perto das máximas. Para vencimento em janeiro de 2025, a taxa voltou aos 11%.

A frase de lula foi encarada no mercado financeiro como sendo um precoce “jogar da toalha” do governo com relação ao esforço fiscal. Em meio à pressão crescente do centrão e da área política do governo, o discurso de Lula enfraquece o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que – até agora – tem mantido o discurso responsável do ponto de vista fiscal.

Haddad defende – pelo menos, até agora – a meta de déficit zero em 2024.

Já o dólar, que caía quase 1%, passou a subir e fechou o dia em alta de 0,44%, cotado a R$ 5,01. Na semana, a moeda norte-americana acumula desvalorização de 0,38%.

Os comentários do presidente ofuscaram o otimismo local com os dados de inflação dos EUA, que registraram sinais de desaceleração na maior economia do mundo.

O índice de Despesas de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês) manteve-se inalterado na mesma taxa de 0,4% em setembro, se mantendo na mesma taxa registada em agosto.

Nos 12 meses encerrados em setembro, o índice caiu para 3,4%, ante 3,5% observado em agosto.

“É possível analisar os números da inflação sob uma ótica de copo meio cheio ou copo meio vazio”, afirmaram analistas da Levante Investimentos em relatório a clientes.

“No lado positivo, a inflação não explodiu apesar do ritmo acelerado de crescimento da economia americana… No lado negativo, a inflação segue elevada”, afirmaram, destacando que a taxa segue acima da meta do Fed, sem sinais de desaceleração.

Eles ponderam que o chair do Fed, Jerome Powell, tem advertido o mercado que ainda não é possível relaxar na luta contra a inflação, e que os preços seguem muito acima do esperado.

“Por isso, apesar das expectativas serem da manutenção dos juros estáveis na reunião do Federal Open Market Committee (Fomc) marcada para a próxima semana, as apostas para os próximos encontros permanecem em aberto.

Os resultados corporativos do terceiro trimestre também são foco dos investidores locais.

Na véspera, a Vale registrou lucro líquido aos acionistas de US$ 2,836 bilhões no terceiro trimestre deste ano, recuo de 36,3% sobre igual período do ano passado. Suzano e Usiminas também divulgaram números pela manhã.

A temporada de balanços pelo mundo também foi outro ponto de atenção para os investidores. Na véspera, a Amazon, Ford e Intel divulgaram seus números.