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Bastidores: como vestiário do Fluminense se ‘vacinou’ com críticas para ser campeão

Fluminense Football Club

Jogadores do Fluminense comemoram o título da Libertadores com o troféu após vitória sobre o Boca Juniors no Maracanã Divulgação/Fluminense

Com uma final épica, o Fluminense conquistou a CONMEBOL Libertadores ao bater o Boca Juniors no Maracanã por 2 a 1. A conquista coroa um ano que parecia predestinado a terminar com a Glória Eterna. Ao menos foi o que o clube sempre acreditou.

“É fruto de um trabalho que começou lá no ano passado. Poucas pessoas viram e vão perceber isso, mas a gente no dia a dia sabe que não começou agora na Libertadores”, afirmou David Braz.

“A gente pagou um preço alto para chegar nessa final e conquistar essa medalha. Estou muito contente e grato a Deus por tudo”, relatou Felipe Melo.

Em entrevistas na saída do estádio para o microfone do ESPN.com.br, jogadores tricolores contaram detalhes dos bastidores da conquista, que vão desde a montagem do elenco até a certeza do título muito antes da grande final.

O elenco da volta por cima
A montagem do elenco do Fluminense, desde o final de 2021, sofreu com críticas, seja pela idade da maioria dos atletas, seja pela desconfiança em uma possível volta por cima. É o caso do grande herói do título, John Kennedy, por exemplo.

“O Keno, o Coudet não queria no Atlético-MG, o Kennedy quase fechou com o Chicago Fire, acabou ficando por aqui, o Felipe Melo veio de graça para cá, e tantos outros jogadores que estavam de repente em baixa e aqui no Fluminense a gente criou uma família, com a vinda do Diniz, e tiramos o melhor de cada jogador”, disse Felipe Melo.

Outro nome altamente contestado foi de Diogo Barbosa, lateral-esquerdo que entrou no segundo tempo e iniciou a jogada do segundo gol.

“Sempre soube da minha qualidade. Vivi um momento diferente da minha carreira no Grêmio, único clube que não tive um título grande. Tinha uma curiosidade muito grande de trabalhar com o Diniz, vim e graças a Deus pude ser campeão, fazer história com a primeira Libertadores do clube”, afirmou ele.

David Braz ainda reforçou a importância do elenco para superar adversidades encontradas. “Na vida, a gente passa por momentos de dificuldade, por dúvidas, críticas, desconfiança. E uma coisa que o Fluminense foi muito feliz foi de unir jogadores que têm potencial, que foram campeões por onde passaram e às vezes eram criticados. A gente se uniu para fazer história em um clube que não tinha uma conquista tão importante e inédita. Cada jogador mostrou seu potencial”.

Críticas que somente fortaleceram
Ao longo da temporada, o Fluminense passou por momentos de turbulência em que conviveu com as críticas e as incertezas. Isso, porém, foi um combustível. E não somente pelo que veio em 2023.

“Foi passado hoje na preleção. O torcedor não vai lembrar, mas hoje na preleção o Diniz fez uma lembrança boa, que estávamos brilhando e encantando o país ano passado, mas daí teve derrotas seguidas para Atlético-MG, Atlético-GO e América. Aí caímos para o 5º lugar e colocaram em dúvida nosso trabalho, mas tivemos uma sequência de oito resultados positivos que nos levaram à Libertadores novamente. Ali a gente cresceu”, contou David Braz.

Mas o clube já estava preparado para potenciais turbulências. E isso foi projetado no início do ano, conforme revelou Samuel Xavier. “A gente tinha essa preparação desde o início do ano. Tivemos várias reuniões e falávamos que era difícil um clube começar arrebentando em janeiro e terminar arrebentando. Sempre vai ter oscilação, e no momento de dificuldade é onde a gente mais aprende. Aprendemos com as derrotas, sem as vitórias, e isso foi coroado hoje”.

Capitão da equipe, Nino falou que a convicção no estilo de jogo foi preponderante para passar por isso. “Nosso time é vacinado em relação a isso. A gente sempre recebeu críticas pelo nosso estilo de jogo, mas pode ver que a gente sempre teve convicção no que era importante para a gente, no que a gente fazia bem”.

A certeza do título
Apesar de muitos pensarem que o título era improvável, o Fluminense construiu uma campanha com grandes atuações e classificações memoráveis. No decorrer dos jogos, muitos começaram a sentir que o título era possível. Para o jovem Alexsander, porém, isso ocorreu bem antes.

“Desde o início, a gente sabia. Falava, mas não era da boca para fora, que tinha alguma coisa importante reservada para a gente. Então trabalhava no dia a dia para chegar aqui e conquistar”, apontou.

Outros, como Felipe Melo, cravaram o título mesmo em momentos de derrota, como ocorreu no Monumental de Núñez, ainda na fase de grupos. “Quando perdemos o jogo para o River Plate, eu cheguei no vestiário e falei que seríamos campeões. Falei: a gente perdeu um jogo que não poderia perder, mas vamos ser campeões. De fato, ali a gente dominava, colocou a fé em primeiro plano e soube que a gente seria campeão”.

Para o capitão Nino, este momento veio logo no início do mata-mata. “Contra o Argentinos Juniors lá, foi o jogo mais impactante para mim, que eu vi que nosso grupo era muito especial. Conseguiu o empate depois de ficar com um a menos, então para mim foi o jogo mais especial”.

Samuel Xavier, protagonista nas oitavas, demorou mais a ter tamanha confiança. “Vários jogos a gente fazia o resultado no final, mas de verdade mesmo que a gente falou que ia ser campeão foi depois do jogo com o Inter. A gente perdendo de 1 a 0, jogo não estava fluindo, e em cinco ou seis minutos fez os dois gols e deu a virada. Ali deu a mostra que seríamos campeões. A gente não estava dominando o jogo e fez os dois gols, então a gente soube que o título seria nosso”.

Se tinham a certeza ou se foi só uma forma de buscar motivação, certo é que hoje o Fluminense é campeão da América. E os jogadores que geraram dúvidas no passado podem ter certeza: venceram a final mais importante do clube e colocaram seus nomes na história.