Política

Milei diz que vai controlar a inflação em 18 a 24 meses e confirma plano de fechar o Banco Central

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, afirmou nesta segunda-feira (20) que levará entre 18 e 24 meses para conter a inflação de seu país, na casa dos 140% anuais.

Em entrevista à rádio argentina “Continental”, a primeira sobre seu futuro governo após ser eleito no domingo (19), Milei confirmou também que levará adiante o plano para fechar o Banco Central e dolarizar a economia, duas das principais e mais polêmicas propostas de sua campanha.

“Fechar o Banco Central é uma obrigação moral, e dolarizar (a economia) é uma maneira de nos livramos do Banco Central”, declarou. Milei, no entanto, propôs que a moeda adotada por seu governo “seja aquela escolhida pelos indivíduos”.

 

Na entrevista, o ultraliberal disse também que, por enquanto, manterá a taxa de câmbio e não levantará a limitação ao estoque de dólar de bancos do país, imposta pelo governo do atual presidente, Alberto Fernández, para controlar o saldo da moeda norte-americana.

“Antes de levantar a limitação ao estoque do dólar, é preciso resolver o problema da Leliq (a taxa básica de juros do país). Vamos tentar fazer isso o mais rápido possível, porque se for assim a sombra da hiperinflação estará aqui o tempo todo”, disse.

Candidato de oposição, Javier Milei foi eleito na noite de domingo (19) com 55,95% dos votos, contra o governista peronista Sergio Massa (44,04%). Os dois concorreram no segundo turno de uma das eleições mais disputadas da história recente da Argentina.

Aos 52 anos, Milei será o 52º presidente do país e terá que enfrentar a pior crise econômica em décadas, com a maior inflação em mais de 30 anos, dois quintos da população vivendo na pobreza e forte desvalorização cambial. Os desafios são agravados por uma dívida externa bilionária e pela falta de reservas internacionais.

Outros anúncios

Milei discursa pela primeira vez como presidente eleito da Argentina — Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Horas após ser eleito, Milei já fez uma série de anúncios em entrevistas à imprensa argentina. Entre eles, o presidente eleito disse que:

  • Vai privatizar empresas públicas de comunicação na Argentina, como a Telám — a TV pública do país — e a Rádio Nacional. “Tudo que puder estar em mãos da iniciativa privada vai estar”, disse, em entrevista à rádio Mitre.
  • Israel e os Estados Unidos serão os primeiros países que ele visitará após ser eleito o novo presidente da Argentina, e afirmou que viajará a ambos antes da cerimônia de posse, em 10 de dezembro.

 

O presidente eleito argentino já anunciou também nomes que comporão seu gabinete e seus ministérios. Entre eles, o advogado Mariano Cúneo Libarona, que segundo Milei ocupará a pasta da Justiça.

Libarona ficou famoso no país na década de 1990 por defender celebridades envolvidas em escândalos de drogas, entre eles o ex-jogador de futebol Diego Maradona. O advogado chegou a ficar preso por um mês acusado de encobrir o atentado ao prédio da Associação Mutual Israelita Argentina em 1994, um ataque que deixou 85 mortos e ficou conhecido no mundo inteiro.

Ele também já defendeu peronistas em casos de corrupção e, mais recentemente, foi o advogado do ex-governador da região de Tucumán José Alperovich, julgado por suposto abuso sexual contra sua sobrinha.

Propostas para a crise econômica

 

Milei, um economista ultraliberal, propôs durante a campanha medidas radicais como dolarizar a economia, abrindo mão do peso, e extinguir o Banco Central. Segundo especialistas consultados pelo g1, Milei pode ter dificuldade para pôr suas ideias em prática, já que inicialmente não conta com uma base ampla no Congresso argentino.

Sobre um dos motes da campanha, a promessa de dolarização da economia argentina, o economista da LCA Consultores Francisco Pessoa Faria afirmou que “é uma ideia tão difícil de encontrar suporte em questões práticas que quem votou em Milei por essa questão, vai se decepcionar”.

Isso porque, dependente do dólar e do Fed, a Argentina abandonaria sua soberania monetária e pararia de fazer arbitragem de juros básicos na economia. O BCRA perderia o seu principal papel.

“Isso faria o país começar a operar em outra chave. Abandonaria a questão dos juros e do câmbio, e seria uma economia que operaria simplesmente no seu nível de gasto fiscal. Ou seja, o juro da Argentina seria praticamente o juro dos Estados Unidos e [o governo] tentaria fazer com que a inflação do país caminhasse rumo à norte-americana”, explica Alexandre Pires, professor do Ibmec-SP.