Atacante foi responsável por participações em gols que deram 28 pontos ao Grêmio na campanha do vice-campeonato brasileiro
A campanha de destaque do Grêmio no Brasileirão, vice-campeão com dois pontos a menos que o Palmeiras (70 a 68), carregou nome e sobrenome: Luis Suárez. Após mais de uma década brilhando no futebol europeu, e um período atuando no Nacional (Uruguai), o atacante de 36 anos decidiu jogar uma temporada no Brasil. Vindo de mais uma Copa do Mundo com a celeste, chegou com fortes expectativas ao time treinador por Renato Gaúcho, que voltou da Série B neste ano.
E o casamento entre Suárez e o tricolor foi de grande sintonia. O atacante, que embarcou rumo ao seu país na manhã de ontem e se despediu dos torcedores no aeroporto, foi embora com as conquistas do Campeonato Gaúcho e da Recopa Gaúcha, deixando legado importante. Em 54 jogos — maior marca de partidas disputadas em clubes na carreira —, marcou 29 gols e contribuiu com 17 assistências.
Apenas no Brasileirão, em 33 jogos, foram 17 gols e 11 assistências, um duplo-duplo. Desde 2015, somente quatro jogadores conseguiram isto na competição: Jadson (2015), Arrascaeta (2019) e Hulk (2023), que terminou com os números menores que o uruguaio. Luisito foi o vice-artilheiro desta edição, empatado com Tiquinho Soares, do Botafogo, e atrás apenas de Paulinho, do Atlético-MG, que fez 20 gols.
— A gente sabe que a qualidade que ele tem, e o futebol encantador e produtivo, seriam algo que o Grêmio teria. Agora, a entrega dele me chamou muito a atenção, em todos os jogos, se comprometendo com o clube, mesmo com todos os problemas físicos — afirmou ao GLOBO Paulo Nunes, ídolo do Grêmio e comentarista do SporTV. — O tamanho dele foi do mesmo tamanho da entrega.
O site Sofascore ainda evidencia como o “Fator Suárez” levou o Grêmio a melhores resultados nesta temporada. Além de ter sido o jogador da Série A com mais participações em gols em 2023, foi o líder do tricolor gaúcho em chutes realizados (187), passes decisivos (94), grandes chances criadas (16) e faltas sofridas (105).
A atuação mais memorável, o hat-trick na vitória por 4 a 3 sobre o Botafogo, foi uma mostra dos melhores momentos de sua carreira, além de ter sido fundamental para o tricolor terminar na segunda posição, e conquistar a vaga direta na Libertadores, após voltar da segunda divisão.
— Ele mudou o patamar do Grêmio, de ser um time vindo da Série B, que normalmente tem como primeiro objetivo não cair, para ser um time que já entrou pensando em G4. Ele havia pedido dois anos de contrato, já perguntando sobre o prêmio de classificação para a Libertadores. Trouxe essa mentalidade, e ainda fez o time disputar o título. Eleva o nível de todo mundo — disse ao GLOBO Cristiano Munari, repórter do jornal Zero Hora.
Presença determinante
Nos 20 jogos em que Suárez participou de gols neste Brasileiro — gol ou assistência —, o retrospecto do Grêmio foi de 15 vitórias, três empates e duas derrotas (80% de aproveitamento). Nos 13 jogos em que ele esteve em campo e não participou: três vitórias, dois empates e oito derrotas (28,2% de aproveitamento).
— O grande jogador aparece muito, mas precisa de um entorno. Todo respeito à maioria dos jogadores do Grêmio: ele não tinha uma parceria muito qualificada. Aí entra o treinador. O Renato armou uma maneira de jogar que favorecesse a qualidade do seu atacante. Fez um time de aproximação, controle de jogo, principalmente jogando por dentro, com vários meias fazendo a bola chegar. Sem o Suárez, o Grêmio brigaria para ficar entre 6º e 8º. Ele foi a cereja do bolo. — avalia Paulo Nunes.
Quando não esteve em campo no Brasileiro, o desempenho da equipe foi razoável: três vitórias (Athletico, Atlético-MG e Flamengo) e duas derrotas (Palmeiras e Santos). Sua importância é ainda mais evidenciada quando se compara o desempenho defensivo gremista.
Ao mesmo tempo que a equipe de Renato terminou com o 2º melhor ataque do campeonato, com 63 gols — dos quais Luisito participou de 28 —, atrás do Palmeiras (64), finalizou a competição com a 4ª pior defesa, com 56 gols sofridos, a frente de América-MG (81), Coritiba (73) e Santos (64), todos rebaixados. O saldo de gols (7) foi o pior das equipes que terminaram no G6.
É seguro dizer que, se não fosse Suárez, o Grêmio estaria mais abaixo, apesar de ter jogadores como o argentino Franco Cristaldo, com 11 gols e 12 assistências em 54 jogos na temporada. Claro que essa não é uma matemática exata, pois grande parte de seus gols seriam redistribuídos entre o time.
Responsável direto por 28 pontos
O uruguaio marcou gols em 14 jogos no Brasileirão, e deu assistência em outros dez. Em quatro destes, teve gol e assistência registradas na mesma partida: Internacional (7ª rodada), Coritiba (12ª rodada), Cruzeiro (21ª rodada) e América-MG (30ª rodada). O Grêmio venceu todos.
Em outras partidas que participou de gols, Luisito não influenciou na pontuação, mas, nesse universo, foi responsável direto por 28 pontos da equipe.
— Ele faz outros jogadores olharem para o futebol brasileiro de maneira diferente. Mostra que se pode vir aqui ganhar dinheiro, e jogar num nível interessante, ter a emoção de estar em meio a uma grande torcida e numa grande competição. Hoje, ele não jogaria em uma das grandes ligas da Europa, pode ganhar muito mais dinheiro nos EUA e na Arábia Saudita, mas o mercado brasileiro consegue ser um intermediário: paga salário altos e oferece competitividade — ressalta Munari.
Os números e as atuações explicam o motivo de Suárez ter sido eleito o craque do Brasileirão ao receber a Bola de Ouro, da ESPN, e o fato de cerca de 200 torcedores gremistas terem ido ontem a um dos portões alternativos do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, às 7h, para se despedir do craque de 36 anos.
— O Suárez foi importante demais para o Grêmio, mas o Grêmio é maior que o Suárez. É um time com vários ídolos, e o Suárez é mais um dentre eles — finaliza Paulo Nunes.