Com respostas apagadas, livros didáticos podem ser reaproveitados por outros alunos no ano seguinte. Recurso é comum entre famílias que evitam gastos altos com material escolar.
Nos meses de dezembro e janeiro, a rotina da dona de casa Maria do Carmo Lopes, de 33 anos, envolve borrachas, pilhas de livros e contatos feitos com quem tem crianças em idade escolar. Este é o segundo ano em que ela anuncia o serviço de apagar respostas de livros usados para que outros pais possam economizar no período de renovação do material didático.
Mãe de três filhos, Maria se desdobra entre os cuidados da casa e alguns bicos para garantir o sustento. A ideia de ganhar dinheiro passando a borracha nos livros usados veio quando ela mesma precisou fazer isso no material do filho mais novo.
“O meu menino estuda num colégio particular, a gente resolveu reutilizar os livros. Aí a gente foi apagando (as respostas). E eu pensei assim: ‘sabe de uma coisa? Eu vou tirar esse tempinho e vou ajudar quem precisa.’ Porque não deixa de ser um trabalho que é esquecido”, explica Maria do Carmo.
Em 2022, ela lançou a ideia em grupos com outros pais da escola. E deu certo. Atualmente, ela é até recomendada por vendedores das feiras de livros usados. O serviço existe para quem quer reutilizar os livros escolares e não quer passar pela árdua tarefa de apagar tudo o que já foi escrito pelo antigo dono.
Os interessados levam os livros até o endereço dela, no bairro Rodolfo Teófilo. Detalhe importante: é o cliente que precisa providenciar a borracha. O preço é de R$ 10 para cada livro.
“Quando eu terminar aquela pilha de livros, aí eu tô disponível para pegar. Porque sou só eu mesma, tenho que apagar bem direitinho sem deixar marcas. Porque não adianta fazer um serviço mal feito, né?”, comenta a dona de casa.
O trabalho começa a chegar quando as escolas anunciam os materiais a serem adotados no ano seguinte. Quando não há mudança de livros entre um ano e outro, os pais conseguem repassar materiais dos filhos mais velhos para os mais novos. Ou encontrar estes livros usados em feiras ou espaços de negociação e bazares.
Os primeiros materiais a serem apagados para o ano letivo de 2024 chegaram à casa de Maria do Carmo nesta semana. Ela consegue dar conta dos livros menores quase sempre no mesmo dia. Isso porque precisa conciliar com outras atividades de casa. Os livros mais trabalhosos geralmente são os de português ou matemática.
Até agora, Maria não conhece outras pessoas que oferecem o mesmo serviço. Ela explica que os pais procuram por ela até o começo do ano seguinte, perto do início do ano letivo. Para a dona de casa, é uma oportunidade de fazer uma renda extra no período de gastos do começo do ano.