Após o sargento Paulo Pereira de Souza atirar e matar o soldado Yago Monteiro dentro da viatura, na manhã de domingo (14), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga se o policial militar que fez os disparos tinha algum desvio de conduta ou de comportamento por conta de doença de saúde mental. Segundo o delegado-chefe Fernando Fernandes, da 27° Delegacia de Polícia (Recanto das Emas), a investigação segue nesta linha para descobrir as circunstâncias e a motivação do crime.
“A delegacia vai continuar investigando. A nossa intenção é esclarecer as circunstâncias e a motivação desse episódio tão trágico, tão triste neste domingo aqui no Recanto das Emas. […] A PMDF será solicitada a informar se ele sofria algum tipo de desvio de conduta ou comportamental em virtude de alguma doença”, afirma o delegado.
O delegado destaca que a investigação vai partir da premissa de homicídio seguido de suicídio. Testemunhas do crime, comerciantes, familiares serão ouvidos e imagens de câmeras de segurança serão coletadas para a investigação. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), a corporação na qual trabalhavam os dois policiais, será questionada pela PCDF sobre possíveis desavenças entre os colegas e sobre a situação da saúde mental do sargento que fez os disparos.
A perícia foi realizada no local, no domingo, e a arma foi apreendida e encaminhada para análise na PCDF. O terceiro policial, único sobrevivente, que também estava dentro da viatura, o sargento Diogo Carneiro dos Santos, de 49 anos, foi ouvido pela polícia. Para os policiais, o sargento afirmou que acreditou que os disparos tinham sido feito por outras pessoas fora da viatura, mas só percebeu a situação quando viu a arma na mão do sargento Paulo Pereira de Souza, de 46 anos.
“Segundo o sargento sobrevivente, ele verificou que o sargento [Paulo Pereira de Souza] cometeu suicídio e estava com a arma na mão. Então tira essa linha de investigação de tiro acidental”, diz o delegado.
‘Liberado para trabalhar na rua’
Em entrevista à TV Globo, no domingo (14), a comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Ana Paula Barros Habka, informou que o sargento Paulo Pereira de Souza não tinha atestado e estava pronto para o serviço. O soldado foi liberado, há alguns meses, por uma junta médica para trabalhar.
“Atestado ele não tinha, isso eu afirmo. Ele estava pronto para o serviço. Me parece que foi apresentado à junta médica há alguns meses e liberado para trabalhar na rua”, diz.
De acordo com a comandante, a informação de que ele poderia trabalhar normalmente, constava na carteira de saúde do sargento. No entanto, Ana Paula Barros Habka ressalta que as investigações tanto da PCDF, como da corregedoria da PMDF vão mostrar se ocorreu algum problema depois dessa junta médica que possa ter afetado o policial.
Cuidado com a saúde mental do policial
A comandante-geral da PMDF, que tomou posse em 9 de janeiro, há menos de uma semana, ainda afirmou que a pauta inicial agora é o cuidado com o policial, ou seja, a saúde mental é prioridade da gestão.
“Tenho reunião marcada nesta semana com o alto comando, porque a gente não pode esperar mais: é cuidar do policial. Chamei o departamento de saúde e os demais pra gente impor uma estratégia, mas aquela imediata. Não é ‘vamos pensar, montar um grupo de trabalho’, não, é imediato”, diz a coronel Ana Paula Barros Habka.
Em nota, a PMDF afirma que saúde mental de policiais é prioridade para a corporação.
Entenda como foi o crime
O sargento da Polícia Militar do Distrito Federal Paulo Pereira de Souza atirou na cabeça do soldado Yago Monteiro dentro de uma viatura na manhã de domingo (14), no Recanto das Emas, no Distrito Federal. O sargento depois atirou em si mesmo e morreu no local.
O policial militar foi levado para o Hospital Regional de Taguatinga (HRT) e não resistiu. Yago Monteiro, de 31 anos, estava noivo e trabalhava há 3 anos na PMDF.
Um terceiro policial estava dentro da viatura sentado ao lado do soldado Yago Monteiro: o sargento Diogo Carneiro dos Santos, foi atingido por estilhaços do para-brisa quebrado por conta do disparo, ele foi atendido na UPA do Recanto das Emas e liberado.
Segundo o delegado Fernando Fernandes, responsável pelo caso, os três policiais trabalhavam juntos e foram atender uma ocorrência de maus-tratos, no Recanto das Emas, que não foi confirmada, por volta das 9h. Depois, os sargentos Paulo Pereira e Diogo Carneiro dos Santos saíram para tomar sorvete em uma sorveteria, por volta das 11h.
Assim que voltaram para a viatura, o sargento Paulo Pereira, que sentou no banco de trás, atirou no soldado Yago Monteiro, que estava no banco do motorista. Segundo a polícia, não houve discussão entre os dois policiais. Depois de atirar contra o colega, o sargento disparou em si mesmo e morreu no local.
O que diz a PMDF?
“A Polícia Militar do Distrito Federal informa a respeito do grave incidente na manhã deste domingo (14), no Recanto das Emas, envolvendo dois de seus membros. A ocorrência, classificada como homicídio, seguido de suicídio, está sob investigação conjunta da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e da Corregedoria da PMDF.
O policial alvejado foi socorrido pelos bombeiros, mas, com pesar, informamos, que ele foi ao óbito após atendimento no Hospital Regional de Taguatinga.
Diante do ocorrido, ressaltamos que a saúde do policial militar é prioridade da Comandante-Geral da PMDF, Coronel Ana Paula. Inclusive, com reunião pré-estabelecida, desde o dia 09/01/2024, quando da sua a assunção. O assunto será tratado de forma transversal abrangendo todos os departamentos para alcançar o objetivo da segurança em relação a saúde policial militar, bem como perpetuar e otimizar a segurança da sociedade de todo o Distrito Federal.
Dessa forma, ressaltamos nosso compromisso contínuo com o bem-estar e a saúde mental dos integrantes de nossa instituição, empenhados em criar um ambiente de trabalho onde o cuidado com a saúde mental é uma prioridade. Acreditamos que apoiar a saúde mental de nossos policiais é fundamental para manter uma força de trabalho resiliente, eficaz e compassiva.
Enquanto prosseguem as investigações sobre o incidente, pedimos respeito e sensibilidade à privacidade e dignidade de todos os envolvidos. A PMDF está trabalhando em estreita colaboração com a PCDF e a Corregedoria para garantir uma investigação completa e justa.
Agradecemos a compreensão da comunidade e reforçamos nosso compromisso com a segurança e o bem-estar de todos no Distrito Federal.”