As alterações abruptas da vazão do Rio São Francisco pela hidrelétrica de Xingó têm impactado diretamente as comunidades ribeirinhas e o meio ambiente em Alagoas. Diante desta constatação, o Ministério Público Federal (MPF) provocou o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) para que se valha de sua atribuição de mediação e resolução administrativa de conflitos pelo uso da água no caso em questão.
Na manhã da última terça-feira (7), o procurador da República Lucas Horta participou de evento promovido pelo Comitê do São Francisco, a fim de demonstrar a necessidade da atuação da Câmara Técnica Institucional e Legal (CTIL/CBHSF), que possui atribuição legal para atuar nos conflitos pelo uso da água do rio. Para Lucas Horta, a câmara técnica não pode se furtar ao cumprimento de um de seus papéis, que decorre diretamente da lei, de promover administrativamente mecanismos de diagnóstico e mediação com a finalidade de solucionar os conflitos decorrentes dos múltiplos usos dos recursos hídricos da bacia.
Um pescador, José Rodrigo Vieira Santos, do município de Neópolis/SE (divisa com Penedo/AL), no Baixo São Francisco, testemunhou as aflições que acometem as pessoas que têm sua subsistência ligada diretamente à quantidade de água, à qualidade dos peixes e o impacto que as mudanças abruptas causam no dia a dia dos ribeirinhos.
Após as apresentações preliminares, diversos debates se instalaram e a câmara deve decidir em seguida se reconhece a existência de conflito e, consequentemente, se admite o procedimento suscitado pelo MPF.
Os cientistas alertaram para as instabilidades recorrentes no controle das comportas das hidrelétricas de Xingó, situada entre Alagoas e Sergipe.
No inquérito, o MPF solicitou informações à Chesf, ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), à Agência Nacional de Águas (ANA), ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), além do próprio Comitê do São Francisco, quanto à conformidade das operações de controle das comportas da hidrelétrica em relação à legislação ambiental.
Para Lucas Horta, a regulação da vazão deve atender a estratégia nacional de fornecimento de energia elétrica, porém, deve haver, na maior medida possível, um esforço permanente dos atores envolvidos em evitar os impactos socioambientais que vêm ocorrendo, compatibilizando o interesse público no fornecimento adequado da energia elétrica com a preservação do meio ambiente.
Inquérito Civil nº 1.11.000.000939/2022-59