O líder do governo no Senado Federal, Jaques Wagner (PT-BA), relatou, nesta terça-feira (20), ter dito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que o mandatário não deveria ter comparado a guerra de Israel contra o Hamas com o Holocausto praticado pelos nazistas.
Wagner é judeu, amigo pessoal e um dos principais conselheiros políticos do presidente Lula.
O presidente Lula afirmou que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza não é uma guerra, mas um genocídio”, e fez referência às ações do ditador nazista Adolf Hitler contra os judeus.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse, durante a entrevista coletiva que encerrou sua viagem à Etiópia.
Se instalou então uma crise diplomática entre os governos brasileiro e israelense. A declaração também causou reações fortes da oposição, que pretende apresentar inclusive um pedido de impeachment na Câmara dos Deputados.
O líder do governo esteve na última segunda-feira (19) com Lula no Palácio da Alvorada, onde discutiu a crise e outros assuntos. Na sessão do Senado desta terça, ele relatou o que disse ao mandatário.
“Eu estou à vontade, porque eu estou neste partido há 45 anos, sou amigo do presidente Lula há 45 anos e tive a naturalidade de ontem visitá-lo e dizer: ‘Não tiro uma palavra do que vossa excelência disse, a não ser o final’, porque, na minha opinião, não se traz à baila o episódio do Holocausto para nenhuma comparação, porque fere sentimentos, inclusive meus, de familiares perdidos naquele episódio, que era uma máquina da morte, com câmaras de gás.”
“Mas é preciso também que os colegas saibam que, dentro do Estado de Israel, a posição do primeiro-ministro Netanyahu não é unânime. Muito pelo contrário. Ele, na verdade, para conseguir montar o seu governo — e eu não vou me imiscuir nas questões internas de Israel –, precisou chamar os ortodoxos religiosos, que é a extrema, para montar o seu governo”, prosseguiu.
“E o que está fazendo? Uma limpeza étnica? Não sei, porque o norte de Gaza já está todo no asfalto. Os prédios, edifícios, já foram todos derrubados, aterrados, com asfalto passado por cima. Então, presidente [Rodrigo Pacheco], eu quero lhe dizer que comungo com vossa excelência e falo isso aqui por já ter comunicado a quem de direito, porque eu acho que a comparação não é pertinente – a comparação não é pertinente -, mas a condenação à morte de civis, crianças, homens e mulheres na Faixa de Gaza é um absurdo sob a desculpa de caçar o Hamas”, finalizou.
Jaques ainda falou sobre defender a convivência entre dois Estados: o de Israel e o da Palestina.
Ao longo de sua fala, buscou apoiar Lula quanto à condenação de ações contra civis palestinos.
“Antes de estar aqui nesta tribuna, antes de me dirigir a qualquer órgão de imprensa, fui ao presidente da República e disse a ele que eu não tiro uma linha do que ele disse, porque como judeu me sinto ofendido.”
“O povo judeu não pode comungar com o assassinato de civis sob qualquer desculpa que seja, até por termos sofrido — não só nós, porque foram Testemunhas de Jeová, foram ciganos, foram homossexuais, foram deficientes que morreram na máquina de morte. Então, eu só queria registrar que a motivação presidente Lula, como vossa excelência fez questão de registrar — e por isso eu comungo –, é a busca do cessar-fogo.”
O líder foi aplaudido por parte dos senadores presentes no plenário.
Nesta terça, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), defendeu que o presidente Lula se retrate. Segundo Pacheco, a fala foi “equivocada e “inapropriada” e “precisa de retratação”.