A vítima era uma senhora, que tinha em torno de 70 anos, e se alimentava por sonda, além de não se movimentar. Pelo tempo acamada, ela tinha os membros muito enrijecidos, o que não facilitava a mobilidade. A gente teve que colocar um cobertor por baixo dela, com muito cuidado, vários bombeiros que estavam submersos a suspenderam.
Colocamos ela em cima do colchão novamente e fomos puxando o colchão sobre a água, cuidando para que ele não afundasse.
O desafio seguinte foi passar pela porta porque ela era bem estreita. Então apertamos um pouco a lateral do colchão para que ele dobrasse levemente e pudesse passar.
Com todo o cuidado, a gente fez esse movimento de lateralização sempre com cuidado com o tubo de oxigênio dela.
Levá-la de barco até o hospital também foi um desafio, um desafio colocá-la em cima do barco. Sem dizer que esse não é o meio mais adequado para fazer o transporte de uma vítima com essa necessidade. Fizemos o caminho até a ambulância, que nos aguardava numa área seca, muito cuidado, pois estava completamente escuro e com as águas turbulentas.
Levamos ela para o posto de saúde e a deixamos aos cuidados dos médicos. A maioria das pessoas que estavam nessas condições foi transferida para Porto Alegre, via terrestre ou por aeronaves.
Com certeza ela foi transferida para Porto Alegre porque o pronto atendimento estava recebendo muita demanda, então não poderia ficar com tantas pessoas nessas condições.
Fizemos tudo isso tendo que proteger uma pessoa que não consegue responder o que está acontecendo com ela. Uma vítima que não pode te dizer onde está doendo. Tivemos apenas os relatos da cuidadora dessa idosa.
Essa ocorrência nos causou um desgaste físico e emocional muito grande, por ser um trabalho noturno, sem praticamente nenhuma iluminação. Foi perigoso e bem complexo. Demandou bastante trabalho da equipe.
Foram cinco bombeiros envolvidos, além da equipe da ambulância.
É difícil quantificar quantos resgates eu fiz nessa operação das enchentes porque foram inúmeras viagens de barco, indo aos bairros e voltando até o local de desembarque. Mas nós temos uma estimativa de que toda a equipe dos Bombeiros Voluntários de Eldorado do Sul socorreram em torno de 4 mil pessoas.
Como eu trabalho como comando na linha de frente, acredito que fiz em torno de 250 atendimentos.
Nós tivemos várias embarcações e motores que se danificaram devido ao grande fluxo de resgates e também por conta do grande número de obstáculos submersos. Havia veículos, madeira, galhos e todo o tipo de material debaixo d’água e isso acaba dificultando a navegação. Por muitas vezes, tínhamos que parar a operação, tirar o motor e limpar antes de continuar.
Se ele quebrasse, a gente tinha que parar e consertar. Sem dúvida, as enchentes foram a maior ocorrência que a gente já enfrentou. Porque quando tu vai num combate a incêndio, num acidente veicular é uma operação pontual que demanda pouco tempo.”