PM reformado afirmou que levava cerca de 20 minutos para montar um fuzil AR-15.
Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, afirmou em delação que importava as peças de fuzis e que aprendeu a montá-los por meio de vídeos na internet.
“Isso lá nos Estados Unidos é igual comprar um chinelo Havaiana, cara. Igual comprar um maço de cigarro. Qualquer loja vende e entrega em qualquer canto. É uma coisa bem simples lá. Qualquer pessoa lá compra e monta o seu fuzil”, disse Lessa.
O depoimento de Ronnie Lessa foi dado à Polícia Federal por meio do acordo de delação premiada, homologada pelo Superior Tribunal Federal (STF). O ex-PM já responde pela importação ilegal de peças de fuzis em um processo que tramita na Justiça Federal do Rio de Janeiro.
O policial militar reformado detalhou como fazia para montar as armas. Segundo ele, a importação era feita em kits que vinham com canos, gatilhos, molas e ferrolhos. Com as peças em mãos, ele afirmou que chegava a produzir até 30 fuzis a cada importação.
“Eu levava para a minha casa em Jacarepaguá. E lá eu montava, lá eu furava, tinha uma máquina, uma furadeira de bancada, que eu mergulhava todinha. A velocidade tem que ser reduzida, tem todo um sistema para evitar a queima das brocas. E furava ali tranquilamente. Depois montava, era uma coisa simples. Até porque tem vídeos na internet que ensinam a montar de ponta a ponta”.
Lessa afirmou que levava cerca de 20 minutos para montar um fuzil AR-15.
De acordo com Lessa, depois de montar as armas, ele as repassava para duas pessoas: Élcio Queiroz, também preso pela morte de Marielle e Anderson, e um policial militar lotado no 14º BPM (Bangu) chamado Wallace Ferreira e que tem o apelido de Tia Pretinha.
“Eu passava para o Élcio e ele passava para um amigo que era do 14º [batalhão], amigo dele”, afirmou Ronnie Lessa.
De acordo com Lessa, o grupo recebia cerca de R$ 20 mil mensalmente com o esquema de venda e montagem das armas.
“Em 20 minutos, você monta um fuzil AR-15”, contou Lessa no depoimento à Polícia Federal.
Os relatos fazem parte de um dos sete anexos de sua delação aos quais o g1 teve acesso. Os dois primeiros tratam das mortes de Marielle e Anderson e da tentativa de assassinato contra a assessora Fernanda Chaves. Os outros anexos tratam de processos a que Lessa responde nas Justiça estadual e federal do RJ.
Cada uma dessas informações será repassada para seguir em apuração.
A Polícia Militar do Rio de Janeiro afirmou que não foi comunicada oficialmente sobre a delação de Ronnie Lessa, mas afirmou que vai instaurar um procedimento apuratório da Corregedoria da corporação.
A PM afirmou ainda que não tolera e nem compactua com qualquer desvio de conduta de agentes e pune com rigor os envolvidos quando os fatos são constatados.
A defesa de Ronnie Lessa foi procurada pela TV Globo mas não respondeu aos contatos até a última atualização desta reportagem.
Peças de fuzis importadas
Ronnie Lessa responde a processo na Justiça Federal do Rio de Janeiro sobre o recebimento de peças para a montagem de fuzis.
As investigações tiveram início no dia 23 de fevereiro de 2017 quando um pacote vindo de Hong Kong com 16 peças para fuzil AR-15 chamou atenção da Receita Federal no Aeroporto Internacional do Rio, o Galeão.
Na caixa, o destinatário era uma academia de musculação, que, na época, funcionava em Rio das Pedras, Zona Oeste da cidade — região controlada pela milícia. Ronnie e Elaine Lessa eram sócios do estabelecimento.
Mas o destino final do produto era, na verdade, um apartamento de Ronnie em Jacarepaguá — onde segundo a investigação ele armazenava e montava armas. O local foi descoberto nas investigações da morte da vereadora Marielle Franco.