Celebridades

Ilva Niño é velada hoje no Rio: atriz estava animada com futuro projeto no teatro

Ilva Niño em registro feito em 2009 — Foto: Internet/Reprodução

Eterna Mina de “Roque Santeiro”, Ilva Niño, em seus últimos dias, ainda sonhava realizar outros projetos artísticos. A atriz morreu nesta quarta-feira (12), no Rio de Janeiro, aos 90 anos, de falência múltipla dos órgãos. Aberto ao público, seu velório acontece nesta quinta-feira (13) no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, a partir das 11h.

Ela estava internada há um mês no Hospital Quali, em Ipanema, quando passou por uma cirurgia cardíaca. Com trajetória reconhecida na TV e no teatro, a artista contrariou expectativas médicas, quando, há dez anos, ouviu que estava prestes a morrer. Durante a última internação, comentava sobre o desejo de sair do hospital e voltar a trabalhar.

— Ela estava animada com o projeto de leitura da peça “Feliz 1954 – O Drama do Alzheimer “, de Eduardo Neves, que seria remontada com amigos artistas — explicou a amiga e comadre da atriz, Marcia Valença.

Ilva Niño se destacou em “Roque Santeiro” (1985) quando interpretou Mina, empregada doméstica e confidente da Viúva Porcina (Regina Duarte). Em sua carreira, também participou de outras produções, como “Cheias de charme” (2012) e “Alma gêmea” (2005), exibidas atualmente nas tardes da Globo. Marcia conta que a expectativa da veterana era de que os ensaios para o próximo trabalho começassem logo após a alta hospitalar:

— Estávamos aguardando o retorno da cirurgia para começar os ensaios. Havia um convite para estrear em Manaus através da Cruz Vermelha, por intermédio da produtora Vivian Marler.

Nascida em Floresta, em Pernambuco, Ilva Niño participou do Movimento de Cultura Popular, no início da década de 1960, e comentou sobre a época ao “Memória Globo”, quando falou de sua trajetória: “A gente fazia um trabalho maravilhoso dentro dos engenhos. Íamos preparando os camponeses para receber o trabalho de alfabetização que vinha de Paulo Freire. O teatro abre essa facilidade de comunicação”.

Na Globo, começou no elenco de “Verão vermelho” (1969), e depois seguiu fazendo outras novelas. Sobre o sucesso de sua Mina, de “Roque Santeiro”, a atriz comentou:

“Uma pontinha de nada em ‘Roque Santeiro’, e a Mina não morreu nunca, até hoje todo mundo grita por ela na rua. Foi um grande sucesso, merecidamente um grande sucesso”, comentou Ilva.

Marcia relembra com carinho da amiga:

— Ela gostava de receber amigos e de viajar. Esteve em abril deste ano em Nova Jerusalém (teatro a céu aberto em Pernambuco) para assistir à Paixão de Cristo, de que participou na juventude interpretando a Boa Samaritana.

Ilva tem no currículo ainda papéis em produções como “O outro” (1987), “Bebê a bordo” (1988), “Sexo dos anjos” (1989), “Pedra sobre pedra” (1992), “Tropicaliente” (1994), “Senhora do destino” (2004), “Terra nostra” (1999) e “Sete pecados” (2007).

Em 2014, a atriz foi diagnosticada com um câncer no intestino, e o médico disse que ela já estava em estágio terminal. Ilva, que tinha acabado de gravar o remake de “Saramandaia”, pediu, então, demissão da Globo para se tratar. Após duas cirurgias, o câncer entrou em remissão.

Em 2017, um documentário sobre Ilva começou a ser produzido pelo cineasta Gregório Albuquerque. A obra rodou o mundo e ganhou prêmios nacionais e internacionais. O longa apresenta ao público a atriz que foi uma incansável guardiã do teatro popular nordestino. Com o seu trabalho nos últimos 30 anos, seja na educação de jovens, na atuação em seu próprio teatro, na TV ou no cinema, Ilva deu voz, por centenas de vezes, à realidade das mulheres das classes populares.

Perto de completar 84 anos de vida, em 2017, Ilva Niño retornou à cidade de Recife, depois de mais de cinco décadas longe do local onde passou boa parte da sua juventude, para encenar uma peça escrita pelo seu filho, Luiz Carlos Niño (1965-2005). Esse espetáculo aconteceu no teatro pernambucano que leva o nome de seu companheiro, Luiz Mendonça (1931-1995).