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Golpe da tinta, do colchão e da caixa de morangos: veja dicas para driblar a ‘criatividade’ dos bandidos

Golpe da tinta, da caixa de morango, do colchão… Os criminosos são criativos ao anunciar produtos para atrair vítimas, clonar dados de cartões e roubar dinheiro da conta bancária. Segundo o delegado Fabiano Alves, da Delegacia Especializada de Crimes de Defraudações e Falsificações (Defa), na maioria das vezes, para esse tipo de golpe, os suspeitos miram vítimas idosas. Mas existem outras estratégias. Conheça algumas nessa reportagem e se proteja.

Segundo a Secretaria Estadual de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp), não é possível diferenciar em dados os tipos de golpe que são aplicados diariamente nas vítimas. São muitas variações: golpes do pix, de sites e propagandas falsos, dentre outros. Todos eles representam casos de estelionato (fraude).

De janeiro a maio de 2024 foi identificado um aumento de 8% em casos de estelionato no ES, sendo 18.071 este ano, contra 16.730 no mesmo período no ano passado.

Nos casos retratados nessa reportagem, apenas os suspeitos de um dos golpes foram presos. Os outros casos seguem sendo investigados pela Polícia Civil.

Golpe da tinta

Um caso recente é de uma pensionista de 68 anos que caiu no “golpe da tinta”, e perdeu R$ 3,2 mil ao comprar o produto com falsos vendedores em Viana, no início do mês de junho.

Ela relatou para a Polícia Militar que foi vítima de dois golpistas que se passaram por vendedores de tinta. Eles chegaram em um carro branco e abordaram a pensionista e a vizinha no bairro Nova Bethânia.

Os golpistas ofereceram uma lata de tinta de 18 litros, que vale cerca de R$ 300, por menos da metade do preço: R$ 100. Mas, o pagamento só poderia ser realizado pelo cartão.

“Eu falei que não queria comprar, ele ofereceu para outra pessoa, que também falou que não. Mas aí eu falei para a vizinha, você quer comprar realmente? Eu passo o cartão para você. Aí ela falou que queria. E eles disseram que não queriam dinheiro, pra passar o cartão porque é pelo site, aí ele arrumou todas as desculpas”, relembrou a aposentada.

Pensionista perdeu mais e R$ 3 mil em golpe da tinta aplicado por dupla em Viana, no Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Segundo a vítima, que preferiu não se identificar, três meses de salário foram roubados no golpe em poucos minutos.

Na primeira tentativa para passar o cartão e efetuar a compra, a máquina deu defeito. Depois de tentar pagar mais duas vezes, ela decidiu não digitar mais a senha. A dupla foi embora com a tinta e disse que voltariam depois com outra máquina.

O golpe só foi descoberto cerca de duas horas depois, após a vizinha desconfiar do comportamento da dupla, que não voltou até o local.

“Fiquei sem chão, porque eram uns caras muito bem vestidos. É justamente de onde a gente não espera é que vem”, comentou a vizinha.

 

A Polícia Civil disse que o caso segue sob investigação do 18º Distrito Policial de Viana, mas até a última atualização desta reportagem, nenhum suspeito foi preso.

Estratégias para a venda falsa

 

Aposentada teve cartão clonado após cair no golpe da tinta em Viana, Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta

O delegado Fabiano Alves explicou que em casos como esse, os criminosos já possuem uma estratégia para conseguir atrair a vítima.

“Geralmente esse tipo de golpe os criminosos só mudam o produto a ser oferecido, porque o outro já ficou conhecido por ter sido aplicado em outro golpe. Mas o modo de ludibriar a vítima é o mesmo. É um golpe presencial porque envolve a utilização do cartão da vítima com a clonagem ou aumento do valor na hora de passar o cartão ou até mesmo a troca do cartão, em que o criminoso fica com o cartão da vítima e devolve um outro cartão de outra vítima anterior”, explicou o delegado.

Sendo assim, uma espécie de “roteiro” é seguido pelos criminosos:

  • Primeiro, um produto é escolhido para ser oferecido para a vítima;
  • O produto sempre é vendido como mais vantajoso do que os outros na praça, com mais qualidades, ou até mesmo “milagroso”;
  • Outro fator atrativo é o preço, que é ofertado de forma mais barata para o consumidor;

Um ponto também analisado pelo delegado é que os criminosos não agem sozinhos, justamente para conseguir distrair e passar mais credibilidade. Além disso, as ações não retiram grandes quantias e geralmente as vítimas escolhidas são pessoas idosas.

“Geralmente eles também atuam em dupla. Enquanto um está pegando os dados do cartão, o outro tenta distrair, conversar com a pessoa para convencer sobre o produto. A princípio não são valores muito altos, eles pegam um pouco de cada vítima a partir de uma máquina modificada para conseguir clonar o cartão”, pontuou o delegado.

Outros golpes

O delegado relembrou outros golpes aplicados no Espírito Santo que seguiram o mesmo padrão, apenas mudando o tipo de produto. Dentre eles, dois chamaram a atenção: o golpe da caixa de morango e do colchão.

Em maio, dois homens foram presos suspeitos de venderem uma caixa de morangos na feira em Vitória por R$ 4.400.

A dupla alterou o valor combinado com o cliente na máquina de cartão sem que ele percebesse. Os dois fugiram e houve perseguição pela cidade antes da prisão ser feita.

Segundo uma testemunha que estava no local, um dos suspeitos abordou a vítima oferecendo morangos.

Na hora de efetuar o pagamento por aproximação, o outro homem disse que o cliente precisaria inserir o cartão por causa de um erro e também digitar a senha. Neste momento, o valor da compra foi alterado.

A Polícia Civil informou que os suspeitos, de 25 e 19 anos, conduzidos à Delegacia Regional de Vitória, foram autuados em flagrante por associação criminosa e por extorsão qualificada pela participação de duas ou mais pessoas com emprego de violência ou grave ameaça. Eles foram encaminhados para o Centro de Triagem de Viana (CTV).

Mas a criatividade nos golpes não é algo muito recente. O delegado contou de um caso curioso que ocorreu a cerca de dez anos atrás em que o produto foi outro: um colchão.

“Os criminosos ofereciam um colchão com características de cura, que ele ajudava a curar dores na coluna. Davam um determinado preço e quando passavam o cartão cobravam um valor muito maior”, relatou.

 

Como evitar?

As dicas do delegado para tentar evitar cair em golpes como esses são:

  • Verificar se o valor que está na máquina é o valor combinado;
  • Se o visor da máquina estiver quebrado, não aceitar efetuar a compra;
  • Quando receber o cartão de volta, verificar se é mesmo o seu cartão;
  • Evitar distrações na hora do pagamento para prestar atenção em toda a movimentação;