A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar as circunstâncias da morte de Júlio César da Silva, de 60 anos, que morreu na quarta-feira (26) após ter sido atacado por um vizinho no meio da rua em Ribeirão Preto (SP).
O suspeito, Sérgio Salomão Bernardes, foi preso em flagrante e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.
O caso é investigado como homicídio. A polícia também quer saber se o crime foi premeditado.
Testemunhas disseram que o suspeito tinha comportamento agressivo e ameaçava moradores do residencial, além de infringir o regulamento com frequência.
A família de Sérgio acredita que ele sofra de distúrbios mentais.
1.Quem é o suspeito?
O manobrista Sérgio Salomão Bernardes, de 48 anos, é suspeito de atacar e matar o vizinho. Segundo a Polícia Civil, ele coleciona uma série de denúncias feitas por outros moradores do condomínio Parque Residencial Jardim das Pedras, zona Leste de Ribeirão Preto (SP).
Cerca de cinco mil pessoas moram no conjunto de prédios no bairro Jardim Paulistano.
Os boletins de ocorrência envolvem crimes como perseguição, ameaça à integridade física e psicológica e injúria, praticados dentro do residencial.
2.Quem é a vítima?
Júlio César da Silva era natural de Franca (SP) e morava há anos no condomínio Jardim das Pedras. Ele tinha três irmãos.
“Ele era um senhor muito bonzinho, não brigava com ninguém, se dava bem com todo mundo, não tinha problema nenhum no condomínio. Era muito querido e está todo mundo muito triste por isso”, diz a dona de casa Valéria Maciel.
Irmão da vítima, Marcos Antônio da Silva disse que Júlio César era bem-quisto por todos.
“Todo mundo gostava dele. Eu fiquei até sensibilizado por falarem para mim que gostavam dele. Ele era muito sentimental com as pessoas. Sempre fazia uma gentileza de levar uma fruta, esse tipo de coisa”, afirma.
3.Como era o comportamento do suspeito?
Na segunda-feira (24), um dia antes do crime, o condomínio ajuizou uma ação para expulsar Sérgio do residencial devido ao comportamento extremamente agressivo, à perturbação do sossego e as ameaças de morte contra membros da administração e moradores.
Os episódios de desrespeito às pessoas e ao regimento do residencial, segundo a administração, se estendem há mais de um ano.
Segundo o processo ao qual a EPTV, afiliada da TV Globo, teve acesso, Sérgio mora sozinho no apartamento de um dos blocos do condomínio, herança da mãe já falecida. O imóvel inclusive foi alvo de uma ação de penhora em razão do atraso no pagamento mensal da taxa condominial. De acordo com a ação, desde 2015 os valores não são pagos, o que levou a Justiça a determinar o leilão.
De acordo com a ação, Sérgio ameaçava explodir o apartamento com botijão de gás ou derrubar as paredes a marretadas. Imagens de câmeras de segurança do residencial mostram o manobrista intimidando vizinhos com facas, xingando pessoas, fazendo barulho com uma marreta à noite e provocando brigas e discussões com quem questionava as atitudes dele.
Segundo o documento, Sérgio já havia se assumido usuário de drogas por várias vezes, sendo que chegou a dizer que traficava entorpecentes, como maconha.
Após sucessivas multas e notificações administrativas, além de diversas ocorrências policiais, no dia 24 de março de 2024, os moradores realizaram uma assembleia, mediante abaixo-assinado, e aprovaram, por unanimidade, a adoção de medidas para expulsar Sérgio do residencial.
“O comportamento antissocial do requerido tornou a convivência com os moradores insuportável, e há um risco iminente de uma tragédia grave e irreparável, seja contra o próprio requerido, algum morador ou funcionário”, consta na petição.
4.Como Júlio César morreu?
Apesar da confusão no condomínio, o crime aconteceu no Centro de Ribeirão Preto. Segundo o relato de uma testemunha à Polícia Civil, na terça-feira (25), por volta das 14h30, Sérgio e Júlio César caminhavam pela Rua Barão do Amazonas, próximo à Rua Mariana Junqueira, quando começaram a discutir.
A testemunha disse que, de repente, Sérgio deu um soco no rosto de Júlio César, que caiu no chão e bateu a cabeça com força na calçada. Enquanto estava caído, Júlio César teve o tórax pisoteado mais de uma vez pelo agressor.
Uma equipe da Guarda Civil Metropolitana (GCM) passava pelo local e foi acionada. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) prestou atendimento à vítima, que sofreu uma parada cardíaca e foi levada à Santa Casa de Ribeirão Preto.
Apesar do socorro, Júlio César não resistiu à gravidade dos ferimentos e morreu na quarta-feira (26).
5.O que o suspeito disse à polícia?
Levado à delegacia, Sérgio prestou depoimento e disse que agiu em legítima defesa. O manobrista disse que encontrou Júlio César por acaso quando estava a caminho do Bom Prato, no Centro.
Sérgio alegou que aproveitou o encontro para conversar com o vizinho, que estaria incitando outros moradores a praticarem violência contra ele. Segundo o manobrista, os dois passaram a discutir até que Júlio César jogou uma sacola no rosto dele e tentou atacá-lo com chutes. Foi quando Sérgio diz ter dado um chute no vizinho, que caiu.
No entanto, o delegado de plantão determinou a prisão em flagrante do manobrista.
6.Moradores temiam uma tragédia?
No dia 17 de junho, moradores revoltados foram para o pátio do prédio e fizeram uma manifestação. Houve uma tentativa de linchamento contra Sérgio, mas ninguém se feriu. A Polícia Militar chegou a ser acionada, mais uma vez.
De acordo com Vitor Luís Lobo da Silva, síndico do condomínio Jardim das Pedras, o temor era por uma tragédia. Após a assembleia, a administração contratou um advogado para mover a ação e agilizar o processo de expulsão de Sérgio.
A Justiça, no entanto, ainda não se manifestou, apesar do pedido de urgência.
“As pessoas estavam em um nível de estresse que elas não conseguiam dormir, não conseguiam descansar o suficiente, e ficavam com esse barulho dentro do seu apartamento, dentro de sua casa, sendo perturbadas. Eu achei que fosse chegar a um ponto que alguém fosse tentar fazer justiça com as próprias mãos. O fato [crime] aconteceu fora, mas poderia ter sido, sim, aqui dentro”, afirma Vitor.
Um dos moradores que foi ameaçado por Sérgio com uma faca diz que não havia motivos para o comportamento do vizinho.
“O motivo dele era fútil. Se caísse uma colher no chão, a pessoa estivesse no andar de cima e batesse o pé um pouquinho mais forte, um latido de um cachorro, qualquer coisa motivava a violência. Ele xingava e a gente tinha que ficar quieto. [Ele batia marretas?] Todo dia, 2h da manhã, 4h, meia-noite, não tinha horário, batia e balançava o prédio todo. Até vizinhos de fora do condomínio, lá da Rua Carlos Chagas, reclamavam por causa do barulho”, afirma o homem, que prefere não se identificar.
A dona de casa Valéria Maciel diz que muitos vizinhos tentaram conversar com Sérgio, mas que a situação ficou insustentável.
“Como o Sérgio dava muito trabalho, todo mundo tentava pedir pra ele parar, conversar. E ele não aceitava, ficava bravo. O Sérgio é complicado, ele não gostava que chamasse a atenção dele. Ele era uma pessoa que batia uma madeira a noite inteira no prédio, no apartamento dele, uma marreta, xingava, gritava na janela. E não aceitava que chamasse a atenção dele. Tirava o sossego. A polícia sempre era chamada, mas não podia fazer nada”.