Após a divulgação da abordagem de policiais militares a um grupo de adolescentes negros na Rua Prudente de Moraes, em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, na última quarta-feira (3), a Polícia Civil abriu uma investigação para apurar o que aconteceu na noite desta quinta-feira (4).
“Vamos apurar dentro da lei, com responsabilidade, para entender o que aconteceu”, afirmou a delegada Patrícia Alemany.
A investigação foi aberta pela Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat), no Leblon, também na Zona Sul da cidade, para apurar se houve algum crime contra os estrangeiros.
A abordagem também será investigada pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na região central do Rio, para apurar crime de injúria racial.
O próximo passo dos investigadores é entrar em contato com as famílias dos menores, que serão ser chamadas para prestar depoimento.
Os dois policiais militares que abordaram os adolescentes também serão intimados a prestar esclarecimentos.
A Corregedoria da Polícia Militar também abriu um inquérito para apurar o caso.
O caso
Um vídeo registrou o momento em que os PMs apontaram armas para os três filhos de diplomatas negros durante a abordagem em Ipanema. Os três estavam acompanhados de dois garotos brancos, brasileiros. A família de um dos brasileiros denuncia que houve racismo durante a abordagem.
Em um post nas redes sociais, a mãe de um dos adolescentes, Raiana Rondhon, contou que o grupo de quatro meninos de 13 e 14 anos está de férias no Rio e deixava um amigo na porta de casa quando foi abordado.
Segundo ela, o incidente envolveu adolescentes de três países diferentes (Canadá, Gabão e Burkina Faso).
O g1 entrou em contato com o Itamaraty, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
“As imagens, os testemunhos e o relato das crianças são claros!! Não há dúvida!! A abordagem foi RACIAL e CRIMINOSA!! Há anos frequentamos o Rio e nunca presenciei nada parecido no quadradinho de Ipanema com meus filhos. É um lugar aparentemente seguro. Depende pra quem!!!”, escreveu a mãe de um dos menores.
Embaixatriz
O embaixador do Gabão no Brasil, Jacques Michel Moudouté-Bell, enviou uma carta ao Itamaraty protestando contra a abordagem, que considerou racista. Segundo ele, o Ministério das Relações Exteriores convocou uma reunião com as famílias dos jovens na manhã desta sexta (5).
A embaixatriz do Gabão, mãe de um dos menores abordados, disse que está chocada com o modo como a abordagem foi agressiva com os jovens. O vídeo mostra o momento que os adolescentes foram colocados contra a parede.
“Como que você vai apontar armas para a cabeça de meninos de 13 anos, como que é isso? Mesmos nós adultos, você me aborda, você me pergunta primeiro. E depois você me diz porque você está me abordando”, questionou Julie-Pascale Moudouté-Bell.
Ela disse que deseja ação das autoridades brasileiras.
“Mas você não sai com uma arma e me manda colocar a mão na parede. A gente confia na Justiça brasileira e a gente quer justiça, só isso”, completou a diplomata.