O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a cobrar um pedido de desculpas do presidente da Argentina, Javier Milei, e afirmou esperar que ele “tenha respeito pelo Brasil”.
Lula deu a declaração na segunda-feira (22) às agências internacionais Reuters, Bloomberg, Associated Press, EFE, AFP e Xinhua. A assessoria da Presidência divulgou a transcrição da entrevista.
Lula afirmou aos jornalistas que não deve ficar preocupado com o discurso de Milei e que espera uma “relação civilizada” já que não há amizade entre chefes de Estado.
“Ele seja o que ele quiser. Eu só quero que ele tenha respeito pelo Brasil, da mesma forma que o Brasil tem respeito pela Argentina. Eu só quero que um presidente da República não se esqueça nunca que os interesses do povo são sempre maiores do que os interesses do presidente”, disse Lula.
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Questionado se já conversou com Milei, Lula declarou que não, mas relatou que foi cumprimentado pelo argentino durante reunião do G7 na Itália.
“Eu não falei com ele. Não, ele passou por mim na reunião do G7 e me cumprimentou. Eu estava até de costas. Eu estava conversando com o meu pessoal. Eu vejo que eu não tenho nenhum problema. Não tenho nenhum problema”, declarou para em seguida reforçar a cobrança por desculpas:
“Eu já falei isso, ele tem que pedir desculpas ao Brasil, senão a relação é complicada. Você pode falar a bobagem que você quiser falar desde que você respeite o direito dos outros. É assim que eu faço política internacional.”
Durante a campanha eleitoral do ano passado, Milei chamou Lula de “comunista” e “corrupto” em um programa de TV. O economista classificado como “ultraliberal” assumiu a presidência em janeiro e não faz acenos a Lula.
No começo do mês, em sua primeira viagem ao Brasil, Milei não teve compromissos com autoridades do governo federal e participou de um encontro conservador em Santa Catarina ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), adversário de Lula.
Nicarágua
Lula afirmou na entrevista que, a pedido do Papa Francisco, tentou conversar por telefone com o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, a respeito da prisão de padres no país. Segundo Lula, Ortega não atendeu a ligação.
“A Nicarágua, veja, virou um problema não para outros países, virou um problema para a Nicarágua. Faz tempo que eu não converso com o Daniel Ortega, porque quando eu fui conversar com o Papa Francisco, o Papa Francisco pediu para eu conversar com o Daniel Ortega sobre um bispo que estava preso lá. O dado concreto é que o Daniel Ortega não atendeu o telefonema e não quis falar comigo. Então, nunca mais eu falei com ele, nunca mais. Ou seja, eu acho que é uma bobagem”, disse Lula.
Ortega está no poder desde 2017 e, as últimas eleições, foram realizadas com sete candidatos da oposição presos e alegações de fraude por parte de organizações internacionais.
Torturas foram registradas durante o período eleitoral pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Apoiado pelos governos de Cuba e Venezuela, Ortega descreveu essas acusações como “invenções” e acusou os bispos do país de “tomar partido” e estarem comprometidos com os “golpistas”, além de terem promovido a criação de “seitas satânicas”.
Lula recordou que esteve na Nicarágua para celebrar o primeiro aniversário da revolução sandinista, da qual Ortega foi um dos principais nomes em 1979
“Era um bando de meninas e meninas armado de metralhadora que derrotaram o Somoza. Mas você faz uma revolução para quê? Faz uma revolução por que você quer o poder ou você faz uma revolução por que você quer melhorar a vida do povo do seu país? É isso que está em jogo”, disse Lula.