Da arte de esculpir a madeira à preservação da identidade cultural, a família Dedé mantém vivo o legado da arte popular que o pai, mestre Antônio de Dedé, deixou para a comunidade alagoana. Os seus filhos que herdaram o talento do pai, colocam toda a sua criatividade em cada obra feita na madeira que consequentemente são apresentadas ao mundo.
No ateliê localizado no agreste alagoano, em Lagoa da Canoa, a mágica acontece, pouco a pouco as obras vão tomando vida e identidade. Com vários tamanhos e formatos, as peças ganham destaque pela forte característica de cartum, expressa com traços faciais como olhos, bocas e dentes. A criatividade é um dos fatores que prevalece no momento da criação e cada filho do mestre Antônio retrata a sua individualidade criativa.
Seguindo os caminhos que o pai abriu, Antônio José de Dedé, um dos filhos, entre os nove, continua com o ofício do pai e transformou o talento da escultura em madeira em sua profissão. Com toda a sua dedicação e fidelidade ao talento herdado, o escultor e artista popular deixou a agricultura de lado e junto aos seus irmãos produzem peças que fortalecem o dom artístico.
“A partir da arte religiosa, cada obra tem um significado e uma representação da memória religiosa popular. Tudo tem uma história, e sem ela o mundo não seria mundo. E assim a arte em escultura tem uma importante contribuição para a preservação dessa memória. Seja em tela ou em madeira, tudo tem uma importância para as pessoas conhecerem a tradição cultural de um povo”, disse o artesão, Antônio José de Dedé.
Rompendo as barreiras locais, o mestre Antônio conseguiu levar a sua cultura para outros lugares e assim foi apresentando a sua arte para o mundo. Enquanto o mestre esculpia as suas obras inspirado em imagens religiosas e nas coisas que via, o seu filho Antônio José retrata em suas peças a cultura quilombola e a intensa religiosidade do povo nordestino.
“A inspiração das peças é algo natural, acredito muito no dom que Deus me concedeu e assim o talento em expressar a minha criatividade em cada peça esculpida na madeira, representando muitas vezes aspectos da religião”, disse Antônio José de Dedé.
A beleza das peças encanta a todos por onde chega. Em toda Lagoa da Canoa, o trabalho artesanal do mestre Antônio de Dedé já era bastante conhecido. Ainda em vida, o mestre Antônio de Dedé disse que foi descoberto duas vezes, a primeira aconteceu após a visita de um galerista ao seu ateliê e consequentemente resultou na venda e um contrato de exclusividade das peças. Porém, esse acordo só durou alguns meses.
Já a segunda ocorreu com a visita da proprietária da galeria Karandash, Maria Amélia, localizada em Maceió. A profissional ficou encantada com a delicadeza das peças e em conversa fechou uma parceria com o mestre do Patrimônio Vivo, convencendo-o assim a explorar outras formas de expressar a sua criatividade nas peças. Esse estímulo acabou impulsionando a direção criativa do mestre e as peças começaram a ganhar outros formatos.
Como o talento não se limita, com o mestre Antônio não seria diferente. Após a visita de Maria Amélia, as peças do mestre começaram a ganhar outros ares e assim a ficarem mais conhecidas no estado. A temática religiosa foi sendo projetada cada vez mais e assim conseguiu romper as barreiras do interior de Alagoas e dessa maneira conquistou espaço no mercado de arte cultural a nível internacional.
Recentemente, as peças de Antônio José de Dedé chegaram às telas da novela “No Rancho Fundo”, exibida pela Rede Globo. A peça, denominada “Virgem Maria com o Menino Jesus”, ganhou destaque em uma das cenas da novela das 18h e proporcionou uma valorização ao trabalho artesanal do escultor alagoano.
Nas redes sociais, alguns internautas teceram elogios à família por continuar com o legado deixado por mestre Antônio.
“É maravilhoso ver esse destaque, a família continuar com o legado de Antônio de Dedé. Parabéns Antônio, você é um grande escultor”, comentou a empreendedora Joelma.
Mestre Antônio de Dedé
Antônio Alves dos Santos, mas conhecido como Antônio de Dedé, foi um artesão alagoano, residente do município de Lagoa da Canoa. Seguindo o mesmo ofício do pai, era agricultor e aos poucos deu lugar ao seu talento como escultor da arte em madeira.
Após ter o seu talento descoberto por admiradores da arte, foi reconhecido como fazedor de arte popular. Assim, as suas peças, desde os carrinhos até o retrato de pessoas, ganharam o gosto popular e foram rompendo as fronteiras dos municípios alagoanos.
Em 2015, após ter a sua contribuição cultural popular reconhecida pelo Estado, recebeu o título de Patrimônio Vivo de Alagoas pela Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult).
“Depois que eu me tornei Patrimônio Vivo, a minha vida melhorou mais. É um dom que Deus dá para a gente sobreviver. É uma tradição da gente aqui, cada um tem um dom que Deus dá. Nunca podemos perder a fé, nem a esperança”, disse o mestre em entrevista após receber o seu título em 2015.
O objetivo do Registro do Patrimônio Vivo é preservar a memória cultural e garantir a transmissão dos saberes e fazeres artísticos e culturais de Alagoas. Cada mestre e mestra compartilha os seus conhecimentos com a comunidade, assegurando que as raízes culturais continuem a desenvolver-se e a inspirar a população.