O líder da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que pretende enviar a presídios de segurança máxima os manifestantes detidos na onda de protestos registrada no país ao longo desta semana. As manifestações começaram na segunda-feira, após o Conselho Nacional Eleitoral declarar a vitória de Maduro numa eleição presidencial contestada pela oposição e por dezenas de países.
“Os criminosos que atacaram hospitais, estações de metro, estações policiais, casas, vamos capturar a todos. 1200 capturados. E vamos prender mais mil. Todos criminosos”, afirmou Nicolás Maduro num discurso publicado no X.
As duas prisões citadas no vídeo, Tocorón e Tocuyito, já existem. Mas, segundo Maduro, serão adaptadas para receber os milhares de presos nesta semana.
O discurso ocorre no mesmo dia em que o Departamento de Estado dos Estados Unidos afirmou que o candidato da oposição, Edmundo González, foi o vencedor da eleição. E dias depois de o Carter Center divulgar um parecer afirmando que não poderia legitimar o pleito por conta de uma série de irregularidades eleitorais.
LÍDER DA OPOSIÇÃO DIZ TEMER REPRESÁLIAS
A líder da oposição María Corina Machado decidiu limitar as suas aparições públicas face à perseguição iniciada pelo Governo da Venezuela após os polêmicos resultados das eleições presidenciais de domingo (28), confirmou à CNN uma fonte da equipe de campanha da ex-deputada e fundadora do movimento Vente Venezuela.
Machado está proibida de deixar a Venezuela desde janeiro de 2014, após os violentos protestos que eclodiram naquele ano em Caracas e outras cidades do país conhecido como “La Salida”.
O suposto cerco a Machado se intensificou depois que na terça-feira o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, pediu a prisão de Machado e Edmundo González, a quem descreveu como “chefes de uma conspiração fascista que tentam impor na Venezuela”.
ATAS ELEITORAIS SEGUEM FORA DO ALCANCE PÚBLICO
O principal questionamento público relacionado à lisura das eleições na Venezuela é a falta de publicação dos dados detalhados dos registros de votação. São as chamadas atas eleitorais, que mostram o resultado de cada sessão eleitoral.
Patricio Ballados Villagómez, vice-chefe da missão Carter Center na Venezuela, disse a Gabriela Frías da CNN que “é incongruente” que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) tenha atas suficientes para declarar um vencedor das eleições presidenciais e vá entregá-los a ao Supremo Tribunal de Justiça para obter pareceres periciais, mas não consegue divulgá-los publicamente.
“Se tivessem 80% da informação das atas tabela a tabela, como salientou o presidente [da CNE, Elvis] Amoroso, então podem publicá-las. Usaram as atas para fazer contas suficientes para que a CNE desse uma vantagem irreversível para um dos candidatos. Então, é contraditório: eles tinham 80% das tabelas que lhes permitiam anunciar um resultado… mas não têm esses 80% para publicá-las”, disse Ballados ao Panorama Mundial.
Por volta da meia-noite de segunda-feira, o presidente da CNE, Elvis Amoroso, disse que Nicolás Maduro venceu as eleições presidenciais da Venezuela com 5.150.092 votos, 51,20% do total, num relatório de resultados que, segundo ele, refletia 80% das atas examinadas.
O presidente Maduro apresentou na quarta-feira (31) um contencioso apelo eleitoral à Câmara Eleitoral do Supremo Tribunal de Justiça para realizar uma perícia e certificar os resultados das eleições presidenciais de domingo. Acrescentou que está pronto para apresentar 100% das atas que “estão em nossas mãos”.
“Saúdo este pedido do Presidente Maduro porque para o Tribunal decidir, a CNE tem de lhe fornecer 100% das atas das assembleias de voto e da contagem total das eleições. Portanto, se a CNE for capaz de dar essa informação aos o Tribunal, significa que também tem o poder de fornecer informações ao povo venezuelano”, disse Ballados à CNN.
Em contrapartida, a líder da oposição venezuelana María Corina Machado e o candidato presidencial Edmundo González Urrutia afirmaram ter 73,20% das atas hospedadas num site, o que demonstra uma vitória retumbante de González.
O Carter Center é uma das poucas instituições independentes autorizadas a monitorar as eleições venezuelanas.