Especialistas observam que o governo está se antecipando à continuidade das chuvas abaixo da média. Mas há perspectiva de melhora no último trimestre.
Mesmo com a seca histórica no Brasil, os reservatórios das usinas hidrelétricas estão acima de 50% — em melhores condições que em outras crises hídricas do passado. Mas é a intensidade das chuvas nos últimos meses do ano que deve ditar as perspectivas para o sistema elétrico.
💡Por temer uma piora, o governo já começou a tomar algumas medidas para garantir o fornecimento de energia.
Na quinta-feira (19), o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) se reuniu de forma extraordinária, no Rio de Janeiro, para analisar um plano de contingência elaborado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
O objetivo do plano é garantir o suprimento de energia no sistema interligado nacional e em Roraima — único estado que não está conectado ao restante do país.
Especialistas ouvidos pelo g1 observam que o governo está se antecipando para o pior cenário: a continuidade da seca nos últimos meses do ano, quando começa o período úmido, e em 2025.
“Como está chovendo abaixo da média histórica, o ONS faz um cenário à frente, uma estimativa da probabilidade de continuar chovendo menos. E os estudos que [o ONS] está fazendo indicam que vai chover menos”, explicou o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro.
A última previsão do ONS aponta que deve chover abaixo do inicialmente previsto em setembro.
Dessa forma, os reservatórios fechariam o mês com níveis inferiores a 50% no principal subsistema do país, o Sudeste/Centro-Oeste.
Veja as estimativas:
Sudeste/Centro-Oeste: 46,9%
Sul: 48,4%
Nordeste: 50,3%
Norte: 74,3%
“Bom, se meu reservatório já não está alto, está chovendo abaixo da média histórica e vai continuar chovendo abaixo da média histórica, o sistema corre um risco de ter nível de reservatório muito baixo. Então, por uma medida preventiva, ele [o ONS] está usando as usinas termelétricas”, continuou Nivalde.
Outras perspectivas
O meteorologista Alexandre Nascimento, sócio-diretor da empresa de previsão Nottus, pinta um cenário mais otimista. Segundo ele, há perspectiva de retorno da chuva nos últimos três meses de 2024.
“Mas é aquela chuva que vai cair num solo seco, extremamente castigado. A ENA [Energia Natural Afluente, ou seja, a quantidade de água que chega às usinas] vai demorar a responder”, afirmou.
Para Alexandre, no final de outubro o sistema elétrico pode começar a ver um aumento no fluxo de água para geração de energia nas usinas hidrelétricas.
“Estamos falando da segunda quinzena de outubro, então tem ainda um mês de sofrimento e talvez ancorado nesses preços elevados [de energia]”, continuou.
A previsão da Nottus é que chova mais nos meses de outubro, novembro e dezembro deste ano, em relação à primavera de 2023. “Ali [em 2023] foi o começo do caos, e esse ano [2024] é o começo da retomada”, declarou o metorologista.
Contudo, a recuperação dos reservatórios deve demorar. “A chuva cai, vai selando o solo, para depois de algumas semanas responder em vazão, para depois de algumas semanas conseguir replecionar os revatórios”, explicou.
Segundo a previsão da Nottus, a recomposição dos reservatórios só deve acontecer entre o final do ano e o início de 2025.
A incidência do fenômeno climático La Niña de baixa intensidade também deve ajudar o sistema elétrico. O La Niña aumenta a incidência de chuvas no Norte e Nordeste.
“Se formar de fato a La Niña e a perspectiva permanecer para o último trimestre, aí temos um período úmido que deve ser infinitamente melhor do que foi no ano passado. Não é aquela condição de ter uma super chuva como foi de 2021 para 2022, mas os modelos estão bastante otimistas”, declarou.