Política

Após colega homem abandonar sessão, ministra do STJ diz que relação entre homens e mulheres no Judiciário precisa melhorar

Na semana passada, a ministra foi criticada pelo ministro Gurgel de Faria porque insistiu na leitura de seu voto mesmo após adiamento do caso. Irritado, faria se levantou e largou o plenário.

A ministra do Superior Tribunal de Justiça Regina Helena Costa defendeu nesta terça-feira (24) que as relações entre homens e mulheres no Judiciário, ambiente tão masculino, precisam melhorar.

Na semana passada, a ministra foi criticada pelo ministro Gurgel de Faria porque insistiu na leitura de seu voto mesmo após um colega dizer que pediria vista, ou seja, mais tempo para analisar o caso.

Faria afirmou que se a ministra insistisse na apresentação do voto, os colegas não lembrariam depois. A ministra, que é a única mulher da Primeira Turma, argumentou que queria fazer a leitura para o público. Faria continuou repreendendo a colega e, irritado, acabou abandonando a sessão (leia mais abaixo).

Na sessão desta terça do colegiado, a ministra comentou o episódio. “Espero que uma situação dessas não mais se repetia. Espero que possamos aprender para que as relações entre homens e mulheres melhorem nos espaços de trabalho, especialmente no Judiciário, que é um ambiente tão masculino”, disse.

Regina Helena contou que recebeu um pedido de desculpas de Faria, que reiterou o gesto em nota pública, “Nossa longa amizade prevalece”. E agradeceu ainda o amplo apoio que teve. “Gostaria de agradecer todas as manifestações de apoio e solidariedade, magistrados, magistradas, entidades, coletivos feminino. Me senti emocionada e acolhida”.

Gurgel de Faria não estava na sessão.

Na semana passada, os ministros começaram a julgar um recurso que era de relatoria da ministra Regina Helena. O presidente da Primeira Turma, Paulo Sérgio Domingues, pediu vista. A ministra disse que iria ler o voto, Faria então pediu que lesse apenas um resumo.

“Presidente, mas vai ler o voto? Ele está pedindo vista”, disse Faria. “A gente vai esquecer o que a senhora vai falar. Cá pra nós, a gente já leu o voto, está no sistema, vai ler para quem ?”, questionou.

A colega respondeu: “Vou ler para o público”.

“Que público, ministra Regina? Estou pedindo para ler ementa [resumo]”, rebateu Faria.

Gurgel de Faria pediu licença, levantou da cadeira e abandonou a sessão.

A ministra disse que não entendeu a postura do colega. “Não vou ler o voto todo. Não disse que ia ler o voto todo. Não entendi essa reação. São 15 para 16h. O tema é diferente, não é coisa banal. eu gostaria de ler meu voto porque não vou ler quando vier o voto-vista”, explicou Regina Helena.

Veja íntegra da nota divulgada pelo STJ:

O ministro Gurgel de Faria lamenta o episódio ocorrido durante a sessão de julgamento da 1ª turma do STJ, do último dia 17 de setembro, por conta da leitura do voto da Ministra Regina Helena Costa. É importante destacar que os dois já tiveram a oportunidade de conversar logo após a sessão. Ele se desculpou pessoalmente de sua atitude.

O ministro Gurgel de Faria renova o seu pedido de sincera escusa pela forma equivocada com que se dirigiu à Ministra Regina Helena e por ter se ausentado da sessão, tendo retornado à reunião do colegiado em poucos minutos.

O ministro Gurgel reitera aqui o seu enorme respeito e admiração pela Ministra Regina Helena Costa, com quem construiu um relacionamento de amizade e de convívio gentil e pacífico desde que iniciaram o trabalho no Superior Tribunal de Justiça, há mais de dez anos.