A receptora tem 69 anos e mora em Belford Roxo. Ela quase não conseguiu chegar ao hospital no Cosme Velho por causa de um confronto.
A Linha Vermelha, uma das mais importantes vias expressas do Rio de Janeiro, parou na manhã desta terça-feira (11) para um fígado passar. O fechamento do corredor foi necessário para que um transplante fosse bem-sucedido — e um tiroteio quase pôs tudo a perder.
O Bom Dia Rio acompanhou o traslado do órgão em solo carioca numa corrida contra o tempo. O fígado veio de avião de Vitória (ES) e desembarcou no Galeão, mas o destino era o Hospital Silvestre, no Cosme Velho — a uma engarrafada Linha Vermelha de distância.
Mas a tensão começou muito antes de o fígado deixar o Espírito Santo. Primeira na fila do transplante, Maria Elena Gouveia, de 69 anos, foi avisada ainda na noite de segunda-feira (30) de que teria de dar entrada no Silvestre até a meia-noite. Mas, quando ela e a família se preparavam para sair de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, começou um tiroteio. E ninguém podia sair de casa.
Maria Elena só conseguiu deixar a comunidade onde mora no fim da madrugada, quando o órgão já estava indo em sua direção. Ela se internou no Silvestre às 6h, quase perdendo a vez para o 2º na fila.
Na contramão da Linha Vermelha
Usualmente, quando um órgão chega de avião, uma equipe o leva de helicóptero até o hospital da cirurgia — mas o Silvestre não tem área para pouso.
O jeito foi fazer o percurso Galeão-Cosme Velho de carro, e uma força-tarefa entrou em ação para dobrar o tradicional congestionamento pelo caminho.
Ambos os sentidos da Linha Vermelha foram fechados. Com todo o asfalto só para si, um carro da Secretaria Estadual de Saúde veio pela contramão desde a Ilha do Governador e só pegou a pista “certa” na hora de subir o Elevado Engenheiro Freyssinet, a fim de entrar pelo Túnel Rebouças.
O fígado chegou às 7h20 no destino. O doador é um homem de 55 anos que vivia em Vitória e teve morte encefálica.
A expectativa da equipe médica é de que a operação dure 5 horas.
Atualmente, mais de 44 mil pessoas esperam por um transplante de órgão no Brasil.