Aos 18 anos, Duda Nagle presenciou o que seria o momento mais triste de sua vida: a morte do pai, em seus braços. Em 2002, o engenheiro Rogério Marques reuniu os filhos para seguir viagem até a casa do caçula em Araruama, na Região dos Lagos. Era domingo, Dia dos Pais, e a comemoração em família havia sido planejada pelo engenheiro que queria ter os herdeiros juntos para o almoço.
“Meu pai faleceu num acidente de carro, no Dia dos pais, eu estava junto. Voltando da casa do meu irmão mais novo, em Araruama. Já na altura de Rio Bonito, meu pai ia deixar a gente no Rio, e seguir pra Angra dos Reis, porque ele morava lá. Aí passou um cavalo na estrada, à noite, e meu pai atropelou o cavalo. Só ele foi atingido. Acho que ele virou o carro na hora e pegou de lado, Era um Uno Mille, carro baixinho, e o cavalo alto, o capô bateu nas pernas dele, e o peso do animal mesmo veio certinho no para-brisa, e aí foi traumatismo craniano exposto. Meu irmão do meio estava no banco de trás deitado, e eu no carona, cochilando. Meu pai pediu pra eu segurar a Coca-Cola dele, e eu pensei, ‘pô, me acordou pra isso?’. Tentei dormir de novo e rolou o acidente, uma loucura”, contou o ator, durante um papo no podcast “Papagaio Falante”.
Duda é fruto do relacionamento do engenheiro, morto aos 54 anos, e Leda Nagle. Além do acidente fatal, ele não esquece da data, pois pela primeira vez contava ao ai o desejo de se tornar ator:
“Foi uma viagem cheia de símbolos pra mim. Tive a conversa de homem pra homem, contando meus planos, e ele ter aprovado, foi muito importante. Ele gostou da ideia, e meses depois, não sei precisar essa coisa de tempo, porque essa fase pra mim foi muito embaçada, lembrando do acidente toda hora. Eu ali, nos primeiros socorros, fazendo massagem cardíaca, respiração boca a boca. Era cena de guerra, ele faleceu assim, na hora”.
Na época, Duda achou que o pai estivesse apenas desacordado e como havia feito um curso de primeiros-socorros ao tirar a carteira de motorista, preferiu não mexer no corpo dele, sem perceber que a situação era muito grave, já que o rosto de Rogério estava sem cortes e ele não parecia sangrar. Num primeiro momento, imaginou que o pai estivesse apenas desmaiado, quando um médico que passava pelo local parou para ajudá-los.
“Quando a gente foi retirar o meu pai do carro, tirei meu casaco para apoiar a cabeça dele. Quando colocamos ele no chão, senti o cérebro quente dele na minha mão. Lembro muito do momento que eu vi e falei: ‘já era, né?’. O momento em que a realidade se impôs”, disse o artista em outro podcast: “Foi traumatismo craniano na parte de trás da cabeça, fratura exposta”.