Brasil

Vacina em gotinhas da poliomielite é substituída por dose injetável; entenda mudanças

Brasil segue uma tendência mundial ao interromper o uso da vacina de gotinha. A partir de agora, crianças menores de cinco anos receberão as três doses (aos 2, 4 e 6 meses) e mais uma dose de reforço aos 15 meses.

O Ministério da Saúde substitui as duas doses de reforço da vacina oral poliomielite bivalente pela injetável — Foto: Prefeitura de Cascavel

A partir desta segunda-feira (4), o Ministério da Saúde vai substituir as duas doses de reforço da VOPb (vacina oral poliomielite bivalente) por uma dose de vacina injetável da VIP (vacina inativada poliomielite). Ou seja, o esquema vacinal contra a doença será exclusivo com a VIP.

Novo esquema vacinal e reforços contra a pólio para crianças menores de 5 de anos de idade (todas com a vacina injetável):

Primeira dose aos 2 meses;
Segunda dose aos 4 meses;
Terceira dose aos 6 meses;
Reforço aos 15 meses.

O esquema vacinal atual contempla a administração de três doses da VIP aos 2, 4 e 6 meses e duas doses de reforço da VOP, a gotinha, aos 15 meses e aos 4 anos de idade.

A substituição foi amplamente discutida na Reunião da Câmara Técnica Assessora em Imunizações (CTAI), com a participação dos representantes da Sociedade Científica, com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e Organização Mundial da Saúde (OMS).

Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que a vacina em gotinhas foi muito importante para a imunização no país, mas que a decisão de interromper o uso segue uma tendência mundial e uma indicação da OMS.

“A grande vantagem da vacina oral é que, por se tratar de uma vacina que tem o vírus da paralisia vivo, enfraquecido, incapaz de causar a doença, ele era excretado nas fezes de quem recebia o imunizante. E quando a gente vacinava milhares de crianças, esse vírus era eliminado na comunidade e acabavam imunizando indiretamente mesmo aqueles que não apareciam nas campanhas. Uma proteção onde a vacina oral atingia vacinados e não vacinados, levando a uma ampla vacinação”, explica o infectologista e pediatra.

Hoje, isso não faz muito sentido. Mesmo que muito raro, esse vírus vacinal que fica circulando no ambiente pode sofrer uma mutação e reverter sua atenuação.

“Ele pode se tornar virulento e causar paralisia em quem não foi vacinado. Hoje se tem mais casos de paralisia derivados desse vírus vacinal do que pelo próprio vírus selvagem que já eliminamos praticamente do planeta, restrito hoje a dois países, Afeganistão e Paquistão”, completa Kfouri.

Kfouri lembra que a vacina é segura e que já faz parte do calendário de imunizações. “Não há mudanças no esquema de prevenção. As crianças precisam ser vacinadas. A paralisia só ocorre em quem não tem vacina”.

O Brasil está há 34 anos sem a doença e contabiliza 47 anos de sucesso de uso da vacina oral nas estratégias de imunização contra a poliomielite, desde que foi introduzida de forma oficial em 1977.