Pergunta aborda o uso reiterado da palavra 'coisa' em uma crônica com referências intertextuais a músicas do cantor baiano.
Será que os organizadores do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 vão considerar a opinião de Caetano Veloso para montar o gabarito oficial da prova?
Uma questão de Linguagens (33 da prova VERDE 🟢, 20 da AZUL🔵, 8 da BRANCA⚪ e 45 da AMARELA🟡) trazia uma crônica com referências a músicas do cantor baiano. Para ele próprio, a resposta correta era a “A”, como mostra o vídeo acima, compartilhado nas redes sociais do artista.
Já segundo professores ouvidos pelo g1, havia duas alternativas aceitáveis.
Na crônica, a escritora Tati Bernardi menciona seu nervosismo ao notar que já escreveu textos com o termo genérico “coisa”.
Em um tom bem-humorado, ela faz essa reflexão de maneira metalinguística: emprega a palavra 11 vezes, incluindo cognatos (vocábulos que têm etimologicamente uma origem comum), como “coisar” e “coisinha”. Em todos os momentos, há referências a versos cantados por Caetano.
Segundo Eduardo Calbucci, professor do Anglo, esse uso reiterado de “coisa” contribui para a progressão textual e para a unidade temática do texto, dando à palavra uma função poética e destacando seu papel como um “termo coringa”.
E isso poderia fundamentar a alternativa C, que foca na repetição da palavra e no seu impacto na estrutura do texto (“reiteração, marcada pela repetição de um determinada palavra e de seus cognatos”).
Contudo, Bernardi também faz referências diretas a quatro canções de Caetano Veloso: “Qualquer Coisa”, “Sampa”, “Lindeza” e “Samba de Verão”. Como essas músicas contêm a palavra “coisa”, seu uso na crônica estabelece uma intertextualidade relevante para o desenvolvimento e a coesão temática, justificando também a alternativa A (intertextualidade, marcada pela citação de versos de letras de canções”).
Por isso, o professor sugere que as duas opções sejam consideradas corretas (ou que o Inep anule a pergunta).
“O gabarito oficial provavelmente apontará a alternativa A (intertextualidade), mas, dada a estrutura da questão, a opção C também seria aceitável. Isso abre margem para o Inep considerar a anulação da questão ou aceitar um duplo gabarito”, diz Calbucci.