Policiais militares que faziam a segurança do empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach — executado com 10 tiros no Aeroporto Internacional de São Paulo na sexta-feira (8) — dizem que um dos carros usados para buscá-lo teve um problema na ignição.
O outro veículo precisou deixar um dos seguranças num posto de gasolina para liberar assento para o empresário e namorada, que voltavam de Maceió. Com isso, os PMs alegam só chegaram ao local depois do assassinato.
Jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) após denunciar esquemas criminosos ao Ministério Público, Gritzbach contratou quatro PMs para fazerem sua segurança.
Leandro Ortiz, Adolfo Oliveira Chagas, Jefferson Silva Marques de Sousa e Romarks César Ferreira de Lima são investigados pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e foram afastados de suas funções neste sábado (9).
A TV Globo teve acesso ao depoimento de dois policiais: os soldados Jefferson e Adolfo. Ambos trabalhavam na Força Tática do 18° Batalhão de Polícia Militar Metropolitano e foram ouvidos na sede do DHPP, no Centro da capital.
Confira a cronologia dos fatos antes da execução, segundo os depoimentos:
Em depoimento, o soldado Adolfo contou que foi convidado por um tenente a prestar serviço para Gritzbach em 2023. Na época, ele alega que desconhecia a identidade dele.
Somente após nove meses de trabalho, Adolfo descobriu por comentários nas redes sociais que o nome do empresário era Vinicius e que ele tinha ligação com a facção criminosa. Depois da descoberta, ele parou de prestar serviços.
Entretanto, na última semana, ele recebeu a proposta de “um serviço esporádico de dois dias” e aceitou.
Enquanto, o soldado Jefferson disse que começou a trabalhar em setembro para Gritzbach sem saber seu histórico. Também por meio de redes sociais, o policial descobriu que ele era investigado por lavagem de dinheiro.
Procurado pelo g1, João Carlos Campanini — advogado de defesa dos policiais Leandro Ortiz e Romarks Cesar Ferreira de Lima — informou que “aguardará o término das investigações para posicionamento”.
A defesa de Adolfo Oliveira Chagas e Jefferson Silva Marques de Sousa não foi localizada até a última atualização da reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.
Uma das linhas de investigação do DHPP é que os seguranças de Gritzbach teriam falhado de forma proposital e indicado o momento que o empresário estava desembarcando do aeroporto. A polícia quer saber com quem os PMs conversaram momentos antes do crime, por isso os celulares foram apreendidos.
Como Gritzbach era muito visado por ter delatado práticas criminosas do PCC, um investigador disse à TV Globo que o mais lógico teria sido eles deixarem o carro quebrado para trás e os quatro seguranças irem ao aeroporto buscar o homem e não três deles protegerem um suposto carro quebrado.
Os investigadores também acreditam que Gritzbach já vinha sendo monitorado desde a saída de Maceió (AL) pois os assassinos sabiam o horário em que ele desembarcaria. A suspeita é que os matadores foram avisados do momento do desembarque para que o ataque fosse executado no momento em que ele pisasse para fora do saguão do aeroporto.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a namorada do empresário — que estava presente no momento da execução — também prestou depoimento. “Os dois carros utilizados pela escolta da vítima e um terceiro, supostamente usado pelos atiradores, foram apreendidos e periciados, assim como os celulares dos integrantes da escolta e da namorada do homem”, informou a pasta.
Gritzbach entregou esquemas criminosos do PCC (Primeiro Comando da Capital) em depoimentos dados ao Ministério Público de São Paulo nos últimos meses
Ainda segundo as investigações, Vinicius chegou a ter influência em células do PCC, como participação no tribunal do crime — quando se avalia se um integrante deve ou não ser assassinado por deslealdade à facção.
O ataque ocorreu por volta de 16h. Vinícius voltava de Maceió acompanhado da namorada e foi surpreendido quando deixou o Terminal 2 do aeroporto.
Além dele, outras três pessoas ficaram feridas: dois motoristas de aplicativo e uma mulher que estava na calçada do terminal. Eles foram socorridos em estado grave, segundo os investigadores.
Gritzbach chegou a ser atendido pelo Corpo de Bombeiros, mas não resistiu aos ferimentos. Os tiros de fuzil calibre 765 partiram de dois homens dentro de um veículo modelo Gol, cor preta.
Um dos seguranças estava com o filho de Vinícius, que chegou sozinho ao aeroporto. Segundo as investigações, o empresário tinha quatro seguranças, todos policiais militares de São Paulo. Eles foram identificados e serão interrogados, além de terem os seus celulares apreendidos.
A namorada do Vinicius foi embora antes da chegada da polícia, mas os investigadores a identificaram no começo da noite e a levaram para o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), no Centro de São Paulo.
Pessoas próximas a Vinicius disseram informalmente aos investigadores que ele tinha conhecimento que desafetos sabiam da colaboração junto ao MP. O empresário temia pela própria vida, eles contaram.
Os quatro seguranças estavam em um carro a caminho do aeroporto, mas o veículo quebrou no caminho. Um dos homens seguiu com o filho do empresário para o Terminal 2, enquanto os outros ficaram no veículo em um posto de gasolina.
Também houve um outro tiroteio perto do Hotel Pullman, nas imediações do aeroporto.
. Ele é réu em processo em que responde por lavar dinheiro da facção criminosa. Ele teria atuado para lavar R$ 30 milhões em dinheiro proveniente do tráfico de drogas. Segundo fontes da Polícia Federal, a maior parte dessas operações de lavagem foi feita com a compra e venda de imóveis e postos de gasolina.
Em seus depoimentos, o homem entregou esquemas do PCC, deu pistas de ilícitos cometidos pela facção e prometia entregar mais informações. Por isso, a suspeita principal no momento é de seu assassinato é uma queima de arquivo motivada por vingança.