A jovem cearense Sabrina Gomes, 24 anos, que sofreu uma brusca mudança na cor da pele por conta de tumor raro, aguarda uma melhora no quadro de saúde para poder ser submetida a um remédio (que conseguiu na Justiça) que pode ajudar no tratamento dela. A medicação custa em média R$ 32 mil.
No começo de novembro, Sabrina passou por duas cirurgias por problemas causados pelo tumor. Ela saiu da UTI na última sexta-feira (8) e foi transferida para o Instituto do Câncer do Ceará. Agora, ela é avaliada pela equipe médica para saber quando vai ter condições físicas de receber o o lutécio radiotivo, uma medicação que pode estabilizar e até eliminar o tumor. No entanto, a aplicação da medicação exige uma melhora no quadro de saúde dela.
Sabrina foi diagnosticada com um timoma, um tumor raro no tórax, que levou ao desenvolvimento da Síndrome de Cushing. Juntos, os dois problemas provocaram a alteração da cor da pele, além de diversos outros problemas como hipertensão, dificuldades respiratórias, insuficiência renal e distúrbios metabólicos. Ela, inclusive, precisou abandonar os estudos após receber o diagnóstico para passar pelo tratamento.
A família espera há meses receber da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa) o medicamento, que tem alto custo: em média R$ 32 mil, e ela precisa de quatro doses.
A medicação é fabricada no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares em São Paulo. Contudo, o remédio tem um prazo de validade curto, que implica no processo de aplicação.
“Dizemos que não são produtos de prateleira, então não temos em estoque. São produzidos mediante encomenda, mediante uma demanda prévia. No caso específico do Dotatato Lutécio, esse radiofármaco tem um prazo de validade de dois dias”, explicou Elaine Bortoletti de Araújo, coordenadora da área de radiofarmácia do Ipen, em entrevista ao Fantástico.
“Então, dentro dessa condição de armazenamento dele, que a gente estabeleceu aqui, que é sob congelamento, esse produto se conserva por 48 horas, dois dias, e ele pode ser utilizado”, complementou Elaine.
Sabrina já passou por três quimioterapias, radioterapia e cinco cirurgias – a última foi realizada no último dia 2 de novembro para desobstruir a traqueia, que estava sendo comprimida pelo tumor, impedindo a jovem de comer e dificultando a respira2ção. Atualmente, o tumor localizado no tórax está com 17 centímetros.
A esperança da família é que, além de curar a doença, o tratamento permita a Sabrina retomar alguns de seus sonhos. A jovem quer voltar a estudar e cursar Medicina. Além disso, também quer viajar de avião e ir a shows de cantores como Bruno Mars.
“A Sabrina é um exemplo de superação, de resiliência. Resiliência resume a Sabrina, porque ela é uma pessoa muito, extremamente positiva”, descreveu Vanessa Ívina, prima da jovem.
O tumor no tórax de Sabrina produz um hormônio chamado ACTH. Este hormônio já é naturalmente produzido pelo corpo humano para regular diversas funções do organismo. Mas, por conta do tumor, o organismo de Sabrina o produz em excesso.
Essa alta quantidade de ACTH fez com que as as chamadas glândulas adrenais produzissem, também em excesso, o cortisol. O cortisol é responsável, entre outras coisas, por regular os níveis de açúcar no sangue e fortalecer o sistema imunológico.
O excesso de cortisol, porém, causa problemas como hipertensão arterial, acúmulo de gordura, fadiga, dificuldade de cicatrização, entre outros sintomas.
Foi este cenário do tumor produzindo ACTH, que levou à hiperprodução de cortisol, que fez a jovem desenvolver a Síndrome de Cushing.
“Não é todo tumor que produz hormônio. O mais comum é não produzir, por isso que são entidades raras”, explica a médica endocrinologista Ana Rosa Quidute, do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), que acompanha o caso de Sabrina.
Ela contou que, quando Sabrina começou a ser atendida no HUWC, o mais urgente foi estabilizar os níveis hormonais do organismo dela, que tinha desenvolvido a Síndrome de Cushing.
“Então, apesar dessa paciente ter um tumor, a gente tem que tratar rapidamente esse excesso hormonal, porque se você não trata o excesso hormonal, ele [paciente] morre primeiro do excesso hormonal que até do próprio tumor”, explicou.
As glândulas adrenais de Sabrina, estimuladas pelo ATCH em excesso, hiperestimulavam a produção de cortisol. Primeiro, a equipe tentou controlar a situação hormonal por meio da medicação. No entanto, com a piora do quadro, foi feita uma adrenalictomia, cirurgia para retirada das glândulas adrenais.