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Funcionário de delator do PCC pegou sacola em quiosque da praia em Maceió, diz segurança

Gritzbach levava na bagagem joias e objetos de valor que somavam mais de R$ 1 milhão — Foto: Reprodução

Em depoimento à polícia, um dos seguranças de Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, delator do PCC, contou que, durante a viagem a Alagoas, o único momento que “fugiu da normalidade” foi quando um funcionário dele foi até um quiosque na avenida da praia em Maceió pegar uma sacola pequena de um homem desconhecido.

O soldado Samuel Tillvitz da Luz afirmou que não sabe se eram as joias, no valor de R$ 1 milhão, que Gritzbach trouxe na bagagem ao desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo. O delator, acusado de lavar dinheiro da facção criminosa, foi executado com 10 tiros na sexta-feira (8).

A Polícia Civil investiga se as joias têm alguma relação com o assassinato. Em delação premiada ao Ministério Público, ele entregou policiais supostamente corrutos do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), além de dois distritos policiais da Zona Leste da capital paulista.

Na viagem, que durou sete dias, Samuel também acompanhou Gritzbach e a namorada dele em visitas a imóveis para locação em São Miguel dos Milagres, a cerca de 100 km de Maceió. O casal queria passar o Réveillon com a família na praia.

O PM ainda contou que prestava serviço de segurança ao empresário havia um ano. Apesar de ser policial da ativa e trabalhar no 18° Batalhão Metropolitano, ele conseguiu acompanhar o casal na viagem ao compensar folgas acumuladas.

No momento do desembarque no Terminal 2, Samuel estava na frente de Gritzbach e a namorada. Após atravessar a faixa de pedestres, ele contou que foram surpreendidos por homens encapuzados que desembarcaram de um carro preto.

O segurança, então, se escondeu atrás de um ônibus estacionado e “partiu em deslocamento a pé por seu lado direito, subindo por um barranco e acessando a via que dá acesso ao pavimento superior do aeroporto”. Em depoimento à Corregedoria da PM, ele explicou que estava em desvantagem e, por isso decidiu proteger a própria vida.

Após o ataque, Samuel e a namorada do delator pegaram um táxi e foram até a casa de um amigo de Gritzbach no Jardim Anália Franco, na Zona Leste da capital, onde a mulher ficou. De lá, o PM voltou ao aeroporto.

Procurada, a defesa de Samuel negou qualquer envolvimento do PM com o crime.

Seguranças indicados por tenente
Além de Samuel, mais quatro PMs integravam a escolta pessoal do delator do PCC. Eles foram afastados de suas funções no sábado (9) até o final das investigações.

Leandro Ortiz, Adolfo Oliveira Chagas, Jefferson Silva Marques de Sousa e Romarks César Ferreira formavam a equipe que deveria receber o casal no aeroporto. Uma das linhas de investigação da Polícia Civil é que os seguranças teriam falhado de forma proposital e indicado o momento em que o Gritzbach estava desembarcando.

Os policiais foram indicados para prestar o serviço de segurança particular — prática considerada ilegal pelo regulamento da PM — por meio do tenente Garcia, do 23° Batalhão Metropolitano.

Em depoimento, o policial Adolfo contou que foi convidado em 2023 pelo tenente. Ainda disse que trabalhou na escolta durante aproximadamente dez meses e interrompeu a prestação de serviço quando descobriu pelo noticiário que Gritzbach estava envolvido com a facção criminosa paulista.

Convidado novamente pelo tenente Garcia, Adolfo aceitou fazer um “serviço esporádico” de dois dias entre quinta (7) e sexta-feira (8) para buscar o delator do PCC e namorada no aeroporto, “em razão de sua precária condição financeira”.

À Corregedoria da PM, Jefferson também relatou que começou a trabalhar na escolta pessoal de Gritzbach — acusado de lavar dinheiro para o PCC proveniente do tráfico de drogas — por intermédio do tenente Garcia. Ainda disse que tinha a função de garantir a segurança do filho do empresário.

Durante o período trabalhado, Jefferson recebeu a informação de um possível envolvimento de Gritzbach com atividades ilícitas, mas que não estaria mais sendo investigado e, por isso, continuou prestando serviço à família.

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que “a Polícia Militar esclarece que atividades externas à Corporação constituem infração ao regulamento disciplinar da instituição, sujeitando o infrator a sanções administrativas. As punições são aplicadas conforme a gravidade da infração e o histórico de transgressões do autor, podendo variar de advertência até a exclusão das fileiras da Polícia Militar. Quanto ao caso citado, os policiais envolvidos foram ouvidos nos dois inquéritos em curso e permanecem afastados das atividades operacionais”.

Como Gritzbach foi morto?
Gritzbach foi executado na área de desembarque do aeroporto, por volta das 16h. Câmeras de segurança registraram toda a ação. Nas imagens, ele aparece carregando uma mala na área externa, onde há uma fila de carros, quando dois homens encapuzados descem de um veículo preto e efetuam ao menos 29 disparos.

Ele tenta fugir e pula a mureta que divide a via, porém cai logo em seguida. Ele foi atingido por 10 tiros: 4 tiros no braço direito, 2 no rosto, 1 nas costas, 1 na perna esquerda, 1 no tórax e 1 no flanco direito (região localizada entre a cintura e a costela).

O que os PMs que faziam a proteção de Gritzbach alegaram?
PMs que faziam a segurança de Gritzbach afirmaram que um problema com um dos carros impediu a chegada deles ao aeroporto de Guarulhos antes da execução.

Segundo depoimentos à Polícia Civil feito por dois deles, o grupo foi chamado para buscar o empresário e a namorada dele no aeroporto.

Eles se dividiram em dois carros. Em um, estavam os policiais Adolfo e Leandro. No outro, foram os policiais Jefferson e Romarks, o filho e um sobrinho do empresário.

Ainda de acordo com os depoimentos, por volta das 15h, eles pararam em um posto de gasolina próximo ao aeroporto para fazer um lanche. Foi quando o filho de Gritzbach informou aos seguranças sobre a chegada do pai.

Um dos veículos, entretanto, teve problema na ignição e não estava mais ligando, segundo os policiais. O outro veículo já estava a caminho, mas, como estava com 4 pessoas, fez meia volta e retornou ao posto para deixar um dos policiais lá e abrir espaço para o empresário e a mulher.

Quando esse veículo – com o policial Jefferson, o filho e o sobrinho do empresário – estava se aproximando do portão de desembarque, ocorreram os disparos.

Investigadores desconfiam dessa versão. Uma das linhas de investigação do DHPP é que os seguranças teriam falhado de forma proposital.