Muito religiosa, objetivo da matriarca era para que todos nascessem com saúde. Atualmente, maior parte da família mora em Linhares, no Norte do Espírito Santo.
Não é nada incomum uma família se reunir para comemorar aniversário, festa de fim de ano ou almoço de final de semana. Mas, no caso da família Silva, de Linhares, no Norte do Espírito Santo, ter dez irmãos registrados com o nome “Francisco” e quatro irmãs chamadas “Maria” deixa tudo, no mínimo, mais animado e, às vezes, um pouco confuso.
Os responsáveis por essa façanha são Seu Antônio Silva Araujo e Dona Raimunda Adelaide de Carvalho, patriarcas da família. Eles saíram do Ceará para o Espírito Santo ainda no final da década de 1970. De lá, fixaram residência em solo capixaba, onde a maioria dos filhos ainda mora até hoje. Os pais já faleceram.
Confira alguns dos nomes de batismo dos irmãos:
Francisco Tarcísio
Francisco Silva de Carvalho
Francisco Silva Antônio de Carvalho
Francisco Franciscô Silva
Francisco Francidalvo Silva
Francisco Adão
Francisco Franciluve Silva
Antônio Silva Araujo e Raimunda Adelaide de Carvalho, pais dos Franciscos e Marias. — Foto: Arquivo pessoal
Antônio Silva Araujo e Raimunda Adelaide de Carvalho, pais dos Franciscos e Marias. — Foto: Arquivo pessoal
A ideia dos nomes é devida a uma promessa da mãe, Raimunda, que era devota de São Francisco. A intenção da matriarca era que o santo intercedesse pela saúde dos filhos e o companheiro aprovou a iniciativa. No caso das mulheres, a homenageada foi para Maria, mãe de Jesus.
Atualmente, os Franciscos e as Marias têm entre 54 e 82 anos.
Aos 14 irmãos, já se somaram 46 filhos de Marias e Franciscos, além de 46 netos. Uma família grande e animada! É difícil reunir todo mundo, mas quando pelo menos parte deles consegue se encontrar, já é motivo de alegria e a confirmação de que a promessa da dona Raimunda deu certo.
“Acho que a promessa dela deu certo, todos os filhos nasceram saudáveis. No sertão do Ceará, uma mulher simples, devota, que em respeito a sua fé fez essa promessa e pediu pela gente. Papai e Mamãe, Deus levou sem que nenhum dos dois passasse pela perda de um filho, isso nos conforta muito, ou seja, a vida seguiu a regra que tem que ser seguida”, disse Francisco da Silva.
Além dos pais, um Francisco também já não está mais entre os irmãos. Ele morreu há menos de dois meses. O nome dele era Francisco Francival Silva.
Respeitando a religiosidade ensinada pela mãe, quando tem algum encontro, também costuma haver um momento de leitura da Bíblia e agradecimento pela vida de todos.
Brincadeiras e enganos
Para evitar trocas de nome ou enganos, eles se chamam por apelidos ou pelo segundo nome. Mas o advogado Francisco Tarcísio lembra que a mãe gostava de chamar todos pelo nome mais importante para ela.
“Todos nós somos Francisco, nove deles têm dois nomes próprios, só o mais velho que não, então, esse nós passamos a tratar como ‘Chicão’. Mas a mamãe fazia questão, chamava só por ‘Francisco’ e virava todo mundo de uma vez só”, contou.
Entre os irmãos, é comum ouvir histórias que marcaram.
“Perdemos um irmão recentemente, que Deus o tenha. O Francisco, que é professor, tem traços parecidos com esse que morreu. Quando postaram nas redes sociais, começaram a chegar as ligações, perguntando quem tinha morrido, se era um irmão, mas a gente informava que era o outro”, lembrou o advogado.
Até na hora de fazer documento ou cadastro já teve confusão.
“Um dos meus irmãos precisou fazer um cadastro único, mas quando nós terminamos todo o processo identificamos que o Francisco que veio no documento era outro, não era o que a gente estava precisando fazer o cadastro”, contou.
Francisco Antônio da Silva, o segundo mais novo entre os homens, lembrou de mais um episódio.
“Meus irmãos mais velhos tinham contas no banco e, às vezes, um chegava em casa com o cartão de cheque do outro. É que devido à abreviação do nome, sempre ficava igual ou muito próximo”, disse.
Aniversário do Chicão
A última reunião da família aconteceu no dia 27 de outubro para comemorar o aniversário de 78 anos do Francisco, o Silva de Carvalho, filho homem mais velho e, por isso, o primeiro a receber o nome. Ele comentou a tradição criada pela mãe.
“No Nordeste, o padroeiro da cidade de Canindé, no Ceará, onde mamãe morava quando a gente nasceu, é São Francisco. As pessoas faziam muitos votos, devido às grande dificuldades do sertão. Então, mamãe fez votos que se os filhos nascessem todos com saúde, os homens seriam Francisco e as mulheres, Maria. Ela só não achou que ia ser esse tanto, mas nasceu 10!”, contou ele, bem-humorado.
Na hora do “parabéns” para Chicão, mesa cheia. Um não pôde estar presente no almoço, assim como duas Marias, que moram no Ceará.
“Não tem problema, é difícil de reunir mesmo, mas a gente não deixa de tentar. Foi bom que a gente pôde comemorar e ficou um gostinho para o próximo encontro”, disse Francisco, o Silva de Carvalho.