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Sarau “Atravessando a Fogueira” encerra o primeiro ciclo do clube de leitura

O projeto de extensão “Fogueira de Lilith” termina 2024 com programação

O clube de leitura feminista “Fogueira de Lilith” vai fechar o primeiro ciclo do projeto em grande estilo. Após o final dos encontros, ocorridos durante este ano, para debater a questão da discriminação contra as mulheres na sociedade capitalista, no sábado, 7 de dezembro, a partir das 16h, o clube de leitoras comemora esse
momento com o sarau “Atravessando a Fogueira”. O evento, aberto ao público, será repleto de atividades culturais que reunirão diversas expressões artísticas no pátio do Museu Théo Brandão (MTB). O projeto é uma realização do MTB, da Faculdade de Serviço Social (FSSO) e da Escola Técnica de Artes (ETA).

Renner Boldrino

Sarau ‘Atravessando a Fogueira’

A abertura do evento acontece às 16h30. Logo em seguida, às 17h, o público poderá ver a performance de dança “Que tipo de narrativas a sua dança revela?”, com Ana Clara Oliveira, dançarina, pesquisadora e docente do Curso de Dança, da ETA/Ufal. Ana Clara tem doutorado em Artes na Universidade Federal de Minas Gerais (PPGARTES/UFMG) e é colaboradora na Licenciatura em Dança do Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes (ICHCA/Ufal).

A performance terá 15 minutos de duração. De acordo com a professora a apresentação é uma performance-dança que pode mostrar testemunhos comuns, indicar novas questões ou ainda despertar esperanças em resposta ao “sistema-mundo” atual. “A performance se dedica a apresentar memórias e histórias da pluralidade da mulher nos dias atuais. Partindo de temas que atravessam a coletividade e sem incorrer numa dramaturgia literal, a pergunta é disparada a partir do viés da dança como uma provocação para refletirmos sobre as narrativas perfuradas pelos efeitos do colonialismo, racismo, patriarcado, mercantilização e de tantas outras afecções sociais que, há tempos, continuam a desenhar a experiência corporal”, explicou Ana Clara.

Às 17h30, tem início o debate “Mulheres e caça às bruxas” com o Coletivo Sycorax, formado por um grupo de mulheres que faz traduções de livros feministas. O trabalho realizado por elas é disponibilizado, em formato digital, gratuitamente. O coletivo foi o responsável pela tradução da obra “Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva” da filósofa italiana Silvia Federici, discutida no grupo de leitura durante este ano.

A bruxa associada ao misticismo e à maldade

No debate facilitado por Cecília Rosas e Leila Izidoro, o Coletivo Sycorax convida o público a refletir sobre a figura da bruxa. “Historicamente construída para estigmatizar mulheres combativas e resistentes à expropriação de terras e bens comuns, a bruxa foi associada a ideias de misticismo e maldade. O evento
combinará a análise de trechos das obras de Silvia Federici com a leitura de passagens literárias significativas, a discussão de documentos históricos e notícias atuais”, disse Cecília.

O evento também vai contar com a participação de outro evento já consagrado em Maceió. O “Papel no Varal” desta edição, com a curadoria de Ricardo e Larissa Cabús, terá cem poemas de autoras de todos os tempos e lugares. São poemas escritos por mulheres e que provocam a reflexão sobre a polissemia de “ser
mulher”. A atividade, apresentada por Larissa Cabús, terá a primeira parte, com o tema “Ser Mulher: vivências poéticas”, tendo início às 18h30.

Às 19h, é hora de música com “Milena toca Rita” (voz e violão), fazendo uma homenagem à cantora Rita Lee. Às 19h30, tem a continuação do “Papel no Varal” (Parte II). E, para fechar o evento comemorativo, às 20h, tem discotecagem de vinil, com a DJ Fernanda Fassanaro.

A partir das 17h, o público também poderá ver a exposição “A luta contra o corpo rebelde: silenciamento e insurgência”, com cinco obras de alagoanos e paraibanos. As peças, que integram o acervo da Pinacoteca/Ufal, são dos artistas José Crisólogo, José Altino, Hilda Moura e Getúlio Mota.

O nome da mostra faz alusão à obra discutida no grupo de leitura durante este ano. No livro, a autora argumenta que “as feministas colocaram em evidência e denunciaram as estratégias e a violência por meio das quais os sistemas de exploração, centrados nos homens, tentaram disciplinar e apropriar-se do corpo
feminino, destacando que os corpos das mulheres constituíam os principais objetivos – lugares privilegiados – para a implementação das técnicas de poder e das relações de poder”.

“Assim, as telas escolhidas para a exposição representam, de um lado, as incessantes tentativas de silenciamento, e, de outro, a insurgência dos corpos femininos. A luta contra este corpo rebelde é uma espiral de tensão (e também de violência) presente no cotidiano e marcada no corpo/psique das mulheres”, explica a servidora do MTB Fabiana Rechembach, uma das coordenadoras do clube e curadora da mostra, ao lado de Mila Madeira, servidora da FSSO/Ufal. A exposição contou com a montagem de Hildênia Oliveira, Regis Silva e Caio Franklin.

Os desafios na vida das mulheres estão longe de terminar. Dificuldades de ontem e de hoje continuam nos roteiros de livros e da vida. “Atravessando a Fogueira” é a culminância da primeira edição do projeto, que já trouxe uma ampliação do olhar de quem participou. “A Fogueira reforçou minha vontade de reivindicar mais espaços femininos. Lendo “Calibã e a bruxa”, a gente percebe que a comunhão entre mulheres foi propositalmente dificultada. Mais que um clube do livro, a Fogueira significa um espaço de escuta, fala, discussão e desabafo para nós mesmas e sob a nossa perspectiva, que tantas vezes foi silenciada na história do mundo. Perceber semelhanças entre mulheres com trajetórias tão diferentes é um conhecimento que só alcançamos compartilhando a vida umas com as outras”, destacou Samara Albuquerque.

SERVIÇO:

Sarau “Atravessando a Fogueira”

Onde: Museu Théo Brandão

Quando: 7 de dezembro

Aberto ao público

Entrada gratuita