Brasil

Advogada atingida por paralelepípedo diz que perda de visão em um dos olhos é definitiva

Após tratamento nos EUA, advogada diz ter perdido definitivamente visão de um dos olhos

Um mês depois de retornar ao Brasil, a advogada Michaella Zukowski, 26 anos, que sofreu um ataque com um paralelepípedo que provocou afundamento de crânio, compartilhou um vídeo em uma rede social afirmando ter recebido o diagnóstico de perda permanente da visão do olho esquerdo. Michaella ficou quatro meses nos Estados Unidos em busca de tratamento.

O trauma foi causado por um ataque sofrido em julho de 2023, quando um morador em situação de rua arremessou o bloco de pedra contra o carro em que ela estava com a família, na Rodovia do Sol, em Vila Velha, na Grande Vitória.

“Depois de quase quatro meses passando por milhares de exames e médicos, a gente chegou a um diagnóstico final: eu recebi a notícia de que a demora do tratamento, demora também da Unimed que negou o tratamento da minha visão, eu perdi permanentemente a minha visão do lado esquerdo”, disse ela no vídeo publicado no último domingo (15).

O ataque resultou em múltiplas lesões cranianas e faciais, exigindo que a advogada passasse por cirurgias e um longo processo de recuperação.

Michaella também contou na gravação que a lesão ocular decorrente do impacto se agravou devido a um edema, cuja progressão levou à formação de uma membrana que impede novos tratamentos no momento.

Ao g1, a advogada explicou que, atualmente, com o olho esquerdo, vê as imagens tortas e embaçadas.

“Fica tudo torto e embaçado, como se fosse um C invertido. As laterais e a parte inferior são pretas. Já não enxergava desde o acidente. A visão central era a que me restava, mas está com o edema. Sou considerada hoje uma pessoa monocular, pois a deformidade que o edema causa na visão central, não deixa eu fazer os afazeres do dia a dia, como ler, dirigir. Só tenho o olho direito bom agora”, contou.
Segundo Michaella, os médicos nos Estados Unidos pediram para ela refazer todos os exames e retornar à clínica americana em seis meses, além de ficar atenta ao surgimento de novos sinais.

“O edema pode crescer ainda mais. Eles pediram para eu ficar sempre atenta a sinais diferentes dos habituais, e se sentir alguma coisa comunicá-los imediatamente”.
A Unimed, citada pela advogada tanto no vídeo quanto na entrevista, foi procurada nesta segunda-feira (16), mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.

Em julho deste ano, a Unimed Vitória se manifestou dizendo que o procedimento não foi autorizado, pois a indicação feita para o uso da medicação pela paciente não se enquadrava na DUT – Diretriz de Utilização, que trata dos critérios estabelecidos pela Agência Nacional de Saúde (ANS).

Na nota, a Unimed reafirmou seu compromisso em seguir todas as normas para garantir um atendimento justo e de qualidade a seus clientes.

Cuidar de si mesma e focar no trabalho
Ainda no vídeo publicado no domingo (15), a advogada lamentou o diagnóstico da perda de visão e disse que pretende passar um tempo afastada para cuidar de si mesma.

“Eu queria trazer a alegria que eu sempre trago aqui para vocês. Sempre fui uma pessoa muito otimista e vou continuar sendo, mas isso não quer dizer que, nesse momento, eu não posso ficar um pouco ‘off’ e poder cuidar de mim”.

Michaella é diretora de marketing em uma marmoraria. Era ela quem gravava vídeos institucionais da empresa antes do acidente.

“Estou bem, na medida do possível.. processando ainda as informações. […] Voltei e foquei no trabalho para pensar em outra coisa. Foi bem difícil pra mim, principalmente porque sei que tinha muita gente torcendo por notícias boas. Foi angustiante!”, relatou.

Relembre o caso
O ataque à advogada Michaella Zukowski aconteceu no dia 8 de julho de 2023. Ela, o pai e o irmão saíram de Guarapari, e estavam de carro, a caminho do Aeroporto de Vitória, onde embarcariam para Minas Gerais para o velório do avô. Quando passavam pela Rodovia do Sol, foram surpreendidos por um homem que atirou uma pedra, tipo paralelepídeo de calçamento, contra o carro.

Um ano após após o ataque, a advogada foi aos Estados Unidos, para tratar o edema ocular em um hospital de referência no país. Na época, os médicos já falavam na possibilidade de que ela poderia perder a visão.

Para ajudar com os custos da viagem, uma ‘vaquinha’ foi feita e mais de R$ 115 mil foram arrecadados. Na época, ela não sabia qual seria o custo da viagem.

“Para quem me conhece, eu sou advogada, mas eu também trabalho na empresa da minha família, e eu realmente tô assustada. Então eu decidi abrir uma vaquinha para poder custear todas essas despesas de passagem, de custear quanto tempo eu for ficar lá, porque eu não sei, eu não sei como vai ser, quanto tempo vou ter que ficar lá, pra poder fazer o meu tratamento, então eu decidi abrir essa vaquinha e pedir ajuda de vocês!”.

Edema ocular
Em janeiro de 2024, Michaella começou a perceber algo diferente em sua visão e chegou a acreditar que o problema poderia ser por conta dos inchaços das cirurgias.

“Como o olho esquerdo ficou muito inchado por causa das cirurgias, pensei que fosse isso. Quando o inchaço melhorou, a visão seguiu estranha, meio torta, embaçada. Procurei um oftalmologista, que pediu alguns exames, e veio o resultado. Eu perdi a visão inferior e a lateral do olho esquerdo, e a parte central é a que está com edema”, contou.

Na época, Michaella disse que a médica apontou que ela precisava de injeções oculares para controlar o problema, pedido que foi negado três vezes pelo plano de saúde e não foi respondido ainda pela Justiça. Cada injeção custa cerca de R$ 6 mil e não é possível saber quantas ela precisaria.

“Ela falou que eu não tinha tempo a perder mais. Aí, com as negativas aqui, um familiar que mora lá conseguiu a oportunidade de me consultar em um hospital referência. Estou indo para uma consulta, uma segunda opinião, e vou realizar um tratamento que ainda não sei qual é, se são outras injeções, laser, se vai ser cirúrgico. Por conta dos seis meses que se passaram não é fato que a visão vai retornar com as injeções”, disse.

Agressor continua preso
Gelson Aparecido dos Santos, foi quem que atacou o carro da família. Ao ser preso três dias após o crime, ele confessou o feito e disse à polícia que andava em zigue-zague pela pista quando o pai de Michaella buzinou. Foi nesse momento que decidiu jogar a pedra e alegou que estava sob efeito de álcool e drogas.

Na ocasião da prisão, o delegado Guilherme Eugênio Rodrigues disse que o suspeito era dependente químico, morador em situação de rua e reconhecido por circular na região do crime.

Após ser detido, o homem teve a prisão preventiva decretada pela Segunda Vara Criminal de Vila Velha, por destruir a tornozeleira eletrônica que usava. O homem usava o equipamento a mando da Justiça em consequência de ações penais que ele responde por crimes como de trânsito, estupro, desacato, roubo e porte ilegal de arma de fogo.

O g1 procurou a Secretaria de Justiça, que confirmou que Gelson segue preso, desde o dia 11/07/2023, no Centro de Detenção Provisória de Viana 2, na Região Metropolitana de Vitória.

A Justiça tornou o homem réu no processo por tentativa de homicídio em 1° de março deste ano, e, no mesmo dia, a juíza Ana Amelia Bezerra Rego, da 4ª Vara Criminal de Vila Velha, negou um pedido da defesa de liberdade provisória a Gelson.