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‘Eu não sou um bicho, sou uma pessoa’, diz mulher que foi chamada de ‘macaca’ por atendimento online de empresa

Susan de Sousa Sena denunciou a Magazine Luiza por injúria racial ao receber e-mail de atualização de cadastro da loja com ofensa. A empresa lamentou e afirmou que já excluiu o campo 'apelido' dos seus formulários cadastrais.

A cozinheira Susan de Sousa Sena, de 35 anos, que foi vítima de injúria racial ao receber um e-mail de confirmação da atualização do cadastro na loja Magazine Luiza, no último sábado (4), contou a sua revolta ao ser comparada com um animal, em entrevista ao SP1 nesta quarta-feira (8).

Reprodução/ TV Globo

Susan foi vítima de injúria racial

Susan recebeu um email automático da empresa onde era chamada de “macaca”. O texto começava com a saudação: “Olá, macaca”.

A Magalu lamentou o constrangimento sofrido pela cliente e afirmou que “já excluiu o campo ‘apelido’ de seus formulários cadastrais e adotou uma lista de palavras inapropriadas, que passarão a ser vetadas no momento do preenchimento do cadastro”.

“O ano acabou de começar, eu sou uma mulher de 35 anos, vivi muito, o racismo sempre foi presente na minha vida. A gente esperava que as coisas mudassem, mas eu vejo que não mudou muita coisa. Tenho um filho de 15 anos, eu falava para ele que na minha época era assim, que hoje não aconteceria, mas acontece sim”, afirma.

“Não tem como aceitar. Acho que a tecnologia avançou muito, muito para isso não passe despercebido, o próprio sistema deles deveriam barrar esse tipo de informação porque ninguém se chama por esse nome, não existe. É o nome de um bicho, eu não sou um bicho, sou uma pessoa”, completa Susan.

 

Mulher é vítima de injúria racial ao receber e-mail da Magazine Luiza — Foto: Reprodução

E-mail com ofensa

A vítima estava realizando a compra de uma máquina de lavar pelo aplicativo da loja quando descobriu que precisava atualizar alguns dados, incluindo o e-mail e a senha cadastrados.

Todos os e-mails automáticos enviados pela Magazine Luiza à cliente utilizaram seu primeiro nome na saudação. Entretanto, o mesmo não aconteceu no e-mail de confirmação do cadastro.

“Fiz o procedimento das etapas do aplicativo para recuperar a conta. Logo, eles me pediram foto do documento, depois um reconhecimento facial. Fui recebendo os e-mails, mas não entrei porque sabia que era só confirmação. Finalizei minha compra, tive o prazo de entrega e fechei o app”, contou.

“Não olhei meus e-mails. No dia seguinte, fui olhar se tinha alguma mudança no status de entrega e olhei meus e-mails, e um me chamou atenção”, relatou Susan.

Segundo a cozinheira, uma funcionária do setor de diversidade e inclusão da empresa entrou em contato com ela para pedir desculpa. Também informou que seu cadastro era de 2011 e que alguém teria registrado o sobrenome dela como “macaca” no e-mail.

“Basicamente meu sobrenome na Magazine Luiza é macaca, porque alguém colocou e ninguém viu”, desabafou.

 

O caso foi registrado como injúria racial no 50° Distrito Policial do Itaim Paulista, responsável pela investigação.

O que diz o Magazine Luiza

Procurada, a empresa disse que “lamenta profundamente os constrangimentos sofridos pela cliente e reforça seu compromisso com o combate a qualquer tipo de preconceito ou discriminação”.

“A empresa esclarece que o fato ocorrido nada tem a ver com o processo de biometria realizado pela cliente – essa operação é feita de forma 100% digital, sem qualquer interação humana. O mesmo acontece com as mensagens de confirmação enviadas pela Magalu para os consumidores”, diz nota da empresa.

Acrescentou ainda que “o cadastro original da cliente foi realizado em 2011, de forma online”. “Para evitar que casos semelhantes se repitam, a companhia já excluiu o campo ‘apelido’ de seus formulários cadastrais e adotou uma lista de palavras inapropriadas, que passarão a ser vetadas no momento do preenchimento do cadastro”, informou a companhia.

A Magalu afirmou ainda ser “referência em políticas de diversidade e inclusão e promove, de forma sistemática, ações de conscientização de seus funcionários a respeito desses temas”. “A empresa tem, atualmente, metade do seu quadro de colaboradores formado por profissionais negros.”