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Tema da redação da Fuvest 2015 é desagregação social

Tema da redação da Fuvest 2015 é desagregação social

Caio Kenji/G1

Gustavo disputa vaga em enfermagem

O tema da redação da Fuvest 2015 é desagregação social. A prova de português e redação, a primeira da segunda fase, foi aplicada neste domingo (4). Para desenvolver o tema, os candidatos tiveram acesso a três textos de apoio que mostravam que seja em um estádio de futebol ou em uma balada, há pessoas que podem pagar para ter um espaço reservado e vantagens em relação às outras. Foi usado o termo "camarotização."

Opinião dos candidatos

Para Gustavo Aragão, de 19 anos, que disputa uma vaga no curso de enfermagem, o tema foi surpresa. "Mas achei bom, dava para explorar." Aragão disse que fez as questões de língua portuguesa primeiro, depois partiu para o texto. Ele afirmou que é contra esse fenômeno da "camarotização." "Se um lugar é publico por que outras pessoas podem pagar a mais para ter privilegios?"

A candidata Jéssica Pacheco, de 25 anos, que está concorrendo a uma vaga de filosofia, conta que considerou o tema da redação fácil, já que todo mundo consegue ter várias opiniões sobre o tema, mesmo sem ter um conhecimento específico.

Segundo ela, os textos de apoio mostravam que, mesmo quando as classes mais baixas conseguem ter acesso a bens e serviços, não há convivência entre as classes, situação evidenciada pelos camarotes e espaços VIP.

Para Felipe Bazzoni, de 21 anos, candidato a uma vaga de ciências sociais, o tema da redação foi interessante e bem atual. "É um tema importante, a questão da criação de áreas VIP em baladas e estádios, áreas em que só quem tem dinheiro pode entrar e que promovem uma separação entre ricos e pobres".

Segundo ele, não houve dificuldade na redação, já que há várias coisas a serem ditas sobre o tema. Ele considerou as questões de gramática fáceis e as sobre os livros bem feitas, apesar de difíceis. "Se não tivesse lido os livros, seria difícil enrolar alguma coisa."

Pedro Siqueira, de 27 anos, candidato ao curso de ciências contábeis na USP, foi um dos primeiros a deixar o prédio, e disse ter gostado do tema da redação. "Achei o tema bom, não tão previsível, não um tema batido como água", comparou o candidato, que cursava economia também na USP, mas que decidiu mudar a carreira.

Sobre o material de apoio, Pedro elogiou o tamanho dos textos, o que teria deixado a prova mais ágil. "Os textos têm que ser curtos mesmos", afirmou, destacando um dos textos que falava da ideia de camarotização, relacionando com a democracia dos EUA.

Pedro reservou críticas apenas às questões de literatura, que, segundo ele, estavam muito fáceis. "A prova de literatura parecia que você não precisava ler os livros", disparou o candidato.

Catarina Lindenberg, de 26 anos, que concorre a uma vaga de enfermagem, conta que esperava um tema mais abstrato e filosófico para a redação. "Foi algo mais ligado ao cotidiano. Esperava que fosse mais difícil."

Ela conta que, em sua redação, escolheu falar sobre a cidade de São Paulo como o "grande camarote brasileiro". "Falei dessa onda de separatismo que teve depois das eleições e sobre as discussões sobre o local onde seria o estádio da Copa, de não ser em um bairro de elite."
Marina Romanelli, que presta letras na USP e conversou mais cedo com o G1 ao entrar na prova, foi também uma das primeiras a deixar seu local de prova e elogiou o tema da redação.

"Achei a redação fácil, é um tema interessante e bem atual", disse a jovem, que fez a prova com tranquilidade, com exceção das questões de literatura, envolvendo as obras obrigatórias. "A prova em si foi fácil. O problema é que eu não lembrava dos livros", disse, destacando que já tinha lido algumas dos títulos bem antes do vestibular. "Sou rápida para fazer prova, adoro fazer. Trouxe até chá de camomila e não tomei. Trouxe um monte de coisa e não comi", afirmou.

Beatriz Costa Moreira, de 21 anos, conta que não houve nenhuma questão específica de gramática. A gramática só apareceu associada à interpretação de texto. Quanto aos livros, houve questões sobre "O cortiço", "Viagens de minha terra" e "Memórias póstumas de Brás Cubas". "Em algumas questões, você tinha que associar o contexto filosófico da época", conta Beatriz, que concorre as uma vaga de ciências sociais.

"Achei bem feita a prova, acho que todo mundo tinha condição de responder", avaliou André Bianchessi, de 19 anos, que tenta uma vaga no curso de engenharia mecatrônica, disse que a prova estavam bastante clara e direta, e que os livros foram bastante cobrados. Contudo, o jovem garante que o livro "A cidade e as serras", de Eça de Queirós, não tinha questões específicas na prova, ao contrário dos outros títulos obrigatórios da Fuvest. "Cobraram muito, havia bastante conteúdo dos livros", pontuou.

Consenso entre André e a turma com qual estava reunido após a prova, o destaque ficou para a dificuldade em uma questão que pedia aos candidatos definirem um sinônimo para a palavra "conformado". O candidato também definiu um dos textos da prova, de Sérgio Buarque de Hollanda, como extremamente complicado.

A dificuldade foi tanta que Danyelli Serrano, de 19 anos, não conseguiu responder, e deixou a questão do sinônimo em branco. Já na redação, se surpreendeu com a objetividade da questão. "Achei que seria mais difícil. Não sou boa de redação, mas consegui desenvolver bem", disse Danyelli, que prestou farmácia.

Candidato ao curso de letras da USP pela segunda vez, Caio Victor Rodrigues, de 20 anos, elogiou a elaboração das questões da prova de português, além do tema da redação, que considerou uma agradável surpresa, já que teria conseguido elaborar bem as ideias.

No entanto, o candidato derrapou nas questões dos livros, que exigiam bastante dos candidatos. "As questões dos livros não consegui fazer porque eu não li", contou Victor.

Abstenção
Para a segunda fase de 2015, a Fuvest convocou 29.698 candidatos (32.569, na seleção de 2014) que disputam 11.177 vagas (11.057 na USP e 120 no curso de medicina da Santa Casa). Compareceram à prova de português e redação 27.286 candidatos (30.027 em 2014), com 8,1% de abstenção (2.412 ausentes). No ano passado, deixaram de comparecer no primeiro dia de prova 2.542 candidatos, o equivalente a 7,80% do total de classificados.