Sal sem sódio pode ser pior que tradicional para quem tem pressão alta.
A indústria teve uma boa ideia ao inventar um salgante sem sódio, que contém apenas potássio. De fato, ele salga e não acrescenta o elemento que aumenta a pressão arterial de muitos. No entanto, especificamente para o grupo de pessoas hipertensas ou com insuficiência cardíaca que tomam remédios poupadores de potássio, substituir o sódio pelo salgante com potássio pode ser muito perigoso. O perigo vem porque há um aumento considerável da ingestão de potássio e o excesso desse mineral provoca arritmias cardíacas (batimentos anormais do coração) levando até mesmo à morte.
O cardiologista do Hospital 9 de Julho Marcelo Paiva confirma que a redução do sódio faz bem aos hipertensos. Mas não adianta substitui-lo pelo potássio, no caso de quem toma esses remédios específicos. “Assim, a pessoa estaria trocando um problema pelo outro.” Por essa razão o médico defende que, para quem tem algum problema de saúde, o salgante de potássio só deve ser usado sob supervisão médica.
A preocupação se concentra em pessoas que tomam os remédios que poupam potássio, que são divididos em duas classes: os inibidores de ECA – enzima conversora de angiotensinogênio (como espironolactona, captopril, enalapril, ramitril) e os bloqueadores de receptores da angiotensina (valsartan e candesartan). Esses remédios seguram o potássio dentro do corpo, diminuindo a pressão arterial. Só que quando há uma ingestão de potássio maior do que aquela que vem naturalmente na dieta (como na banana, batata e outros alimentos), o organismo pode entender que deve poupar todo aquele potássio. E pode acontecer a hipercalemia ou intoxicação por potássio, condição séria e que se torna uma emergência médica.
O excesso de potássio causa fadiga muscular a ponto de a pessoa não conseguir segurar uma caneta. Além disso – e bem mais perigoso – o potássio é um condutor do estímulo elétrico. A descompensação desse mecanismo faz o coração correr risco sério, com arritmias graves. De uma hora para a outra, ele simplesmente pode parar.
Para Daniel Magnoni, nutrólogo e cardiologista do Hospital do Coração (HCor), o sal sem sódio não é vilão. Mas também não é mocinho. “Não é simplesmente pegar na prateleira e consumir. Tem de consultar um médico antes”, recomenda. “Algumas pessoas estão dizendo que esse sal não causa problema algum. Não concordo. Entendo que é um ganho muito positivo no tratamento nutricional, mas esse ganho deve ser indicado para o paciente por um médico”, pondera.
Para quem não apresenta nenhum problema de saúde e nem toma remédio poupador de potássio, os cardiologistas explicam que o salgante de potássio não trará problemas.
Quem tem problemas renais também deve passar longe
Mas não é só quem toma remédio poupador de potássio que deve ficar longe desse tipo de sal. Quem tem insuficiência renal ou outro problema no rim também deve manter distância do tempero. O que tranquiliza o médico é que normalmente quem tem algum problema renal é bem orientado pelo médico quanto às restrições ao potássio. O maior grupo de risco, portanto, são pessoas que tomam o medicamento que poupa potássio mas nem sonham que essa é justamente uma das funções do remédio.
Consultada, a nutricionista Bruna Melo, da Biossalgante – uma das empresas que fabricam o sal sem sódio, apenas com potássio –, explicou que avisos de restrições não estão presentes no rótulo do salgante por ele ser um alimento, não remédio. Por essa razão, a Anvisa não exige essa explicação.
A Anvisa, por meio de nota, confirma a informação. Segundo a agência, existem outras 50 marcas de salgantes isentos de sódio já aprovadas e, por não ser um medicamento, mas sim um alimento, não precisam ter indicações terapêuticas no rótulo.
Sal light também não é completamente inofensivo
O cardiologista do Hospital Samaritano José Renato das Neves explica que o sal light – já antigo no mercado e conhecido por conter 50% de cloreto de sódio e 50% de cloreto de potássio – também não é isento de riscos às pessoas que tomam remédios poupadores de potássio e com problemas renais. “O ideal é reduzir o sódio e lembrar que os produtos industrializados já contêm muito sódio, como os refrigerantes diet, embutidos. A água de coco de caixinha, por exemplo, tem muito mais sódio do que a natural”, complementa.
Ele ressalta que o potássio é importante para o equilíbrio do organismo, mas defende que o consumo seja feito a partir de produtos naturais. “Muitos alimentos contêm potássio naturalmente, então não é necessário acrescentar por meio de uma suplementação extra, como esses tipos de sal”, diz ele. A solução segura para todos, portanto, é reduzir o consumo de sódio, tanto para controlar a hipertensão como para preveni-la.