Quadrilha presa no fim de novembro é suspeita de fraudar também o Enem. Grupo foi desarticulado na Operação Hemostase II, coordenada em Minas.
O promotor André Luis Garcia de Pinho, de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Minas Gerais, afirma que os dois supostos chefes da quadrilha investigada por fraudar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vários vestibulares de faculdades privadas de medicina arrecadariam R$ 6 milhões nesta temporadas de provas.
"O grupo pretendia arrecadar R$ 6 milhões até o final de janeiro, fraudando vários vestibulares do Brasil, em torno de dois por semana. Este valor é desde outubro e sempre vestibulares de medicina", afirma o promotor. Segundo ele, o valor seria divido entre Áureo Moura Ferreira, preso em Belo Horizonte no dia 23 de novembro, e Carlos Roberto Leite Lobo, empresário do Guarujá (SP).
"Nas interceptações telefônicas, o próprio Áureo, conversando com integrantes, disse que a expectativa dele era levantar até o final de janeiro R$ 3 milhões para cada líder", acrescentou Pinho. Segundo o promotor, o levantamento da contabilidade do grupo ainda não foi concluído, mas afirma que a projeção não é exagerada, com base nos valores cobrados aos candidatos que pretendiam ingressar no ensino superior.
A vida de luxo que um dos líderes ostentava foi mostrada pelo Fantástico, em reportagem exibida neste domingo (23). Em imagens gravadas durante a investigação, Áureo Moura aparece em uma Limousine, um Chrysler e fumando charuto. À reportagem do programa, o advogado Délio Gandra, que representa Áureo Ferreira e Carlos Lobo, disse que seus clientes confessaram a fraude, mas não na dimensão dada pela polícia. Eles também assumem chefiar o esquema.
Presos e funcionamento do esquema
Trinta e três pessoas foram detidas pela Polícia Civil na Operação Hemostase II, durante o processo seletivo da Faculdade de Ciências Médicas, na capital mineira, no domingo (23). Destes, 22 eram candidatos ao processo seletivo. Investigadores ainda fizeram diligências em Teófilo Otoni, no Vale de Mucuri, e em Governador Valadares, no Leste de Minas, além da cidade do Guarujá, no litoral de São Paulo. O 34º suspeito foi preso em Montes Claros nesta terça-feira (25). Ele é apontado como uma das pessoas que teriam agido no Enem.
A polícia também monitorou a ação da quadrilha em São Paulo. Pelo esquema, os candidatos usavam um microponto eletrônico, tão pequeno que era preciso colocá-lo e tirá-lo com um instrumento médico. Estudantes de medicina integrantes da quadrilha eram os chamados de "pilotos". Eles resolviam as provas no tempo mínimo e depois, transmitiam os dados para os candidatos. De acordo com as investigações, Áureo e Carlos Roberto cobravam até R$ 100 mil por candidato para passar o gabarito.
No caso do Enem, como os candidatos estavam separados, foi usado um dispositivo de telefonia GSM parecido com um cartão de crédito. O gabarito era transferido por celular para todos os candidatos, através do microponto eletrônico, como se fosse uma ligação em conferência. Esta transmissão foi registrada pela polícia. Os equipamentos foram comprados na China, de acordo com a Polícia Civil.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enem, disse por nota que "solicitou à Polícia Federal informações sobre o caso. O Inep reafirma que qualquer pessoa que tenha utilizado métodos ilícitos para obter vantagens no Enem será sumariamente eliminado do exame, sem prejuízo a outras sanções legais".