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Arte resgata a cidadania dos usuários do Caps

Iniciativa gera renda e trabalho e ainda contribui para o tratamento dos pacientes

Sesau

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É comum entre os artistas o discernimento de que o insight para a arte surge nos momentos de tristeza. Para o escritor Cristovão Tezza, por exemplo, “o que produz a literatura é a infelicidade, mas a literatura produz felicidade em troca”. Foi assim também que, de uma depressão, o usuário Luciano Moraes, do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Everaldo Moreira, em Maceió, enxergou na folha da bananeira elementos para a criação artística.

“Fico anestesiado com os elogios que recebo e chego a me perguntar se fui eu mesmo que criei”, revelou Luciano Moraes, que procurou o Caps devido à dependência do álcool e de substâncias psicoativas. “Foi só olhar para a folha da bananeira que descobri tamanha riqueza que se transforma em arte”, explicou ele, que defende que esse trabalho ajuda no tratamento porque ocupa a mente e o tempo, antes usado para a dependência.

Essa alegria de ter um trabalho valorizado faz parte de um dos resultados da iniciativa, que ajuda no tratamento dos usuários. Segundo o gerente estadual de Saúde Mental, Berto Gonçalo, assim, os pacientes têm a oportunidade de se sentirem úteis, ao se integrarem à sociedade, porque eles se tornam produtivos.

“Os usuários dos Caps passam a interagir com os mais variados segmentos, seja no momento de adquirir a matéria prima ou no momento de comercializá-la”, esclareceu Berto Gonçalo, que aponta o projeto como um eixo de resgate da cidadania, de incentivo à geração de renda e de inserção no mercado de trabalho dos usuários dos Caps.

A forma de relacionamento com a produção artística e com as pessoas é uma estratégia importante da Política Nacional de Atenção Psicossocial, segundo o assessor técnico da Coordenação Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde (MS), Cláudio Barreiros. Para ele, essa estratégia foca na inserção no mercado de trabalho e também na visão de ter os usuários como donos do que eles mesmos produzem.

“A lógica da reabilitação psicossocial é fazer com que o usuário tenha uma vida produtiva e que seja ainda participante das relações sociais”, concluiu o técnico do MS. Uma das incentivadoras dessa prática é a oficineira Laura Lúcia, de Palmeira dos Índios, responsável por multiplicar os saberes artísticos entre muitos usuários do Caps Osvaldo Silva, que a têm como a “Tia Laura”.

“Eu sempre pergunto a eles [os usuários] como eles estão se sentindo quando chegam e saem das oficinas e fico muito feliz quando eles dizem que estão melhores”, relatou a “Tia Laura”. Um dos aprendizes é Gilberto da Silva que passou cinco anos aprendendo a esculpir madeira. Hoje, ele confecciona santos, trabalho este que, segundo ele, “entretém a mente”.