A presença de bactéria resistente a antibióticos em pontos turísticos importantes do Rio de Janeiro e também em raia que será usada na Olimpíada de 2016 acende um alerta às vésperas dos jogos. Mas os riscos de contaminação humana, pela água, são baixos
Uma das bactérias mais blindadas aos efeitos de antibióticos foi encontrada nas praias do Flamengo e de Botafogo, além do rio Carioca, na zona sul do Rio de Janeiro. Trata-se da KPC, sigla de Klebsiella pneumoniae carbapenemase, que também foi detectada numa das raias olímpicas da Marina da Glória, sede da competição de vela dos Jogos de 2016. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e o Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (IMPG), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fizeram as pesquisas sobre a presença do micro-organismo nesses locais.
A KPC é considerada uma superbactéria por causa de sua enorme capacidade de resistência à ação dos antibióticos. Ela é encontrada primordialmente em hospitais. No Brasil, desde 2009 há registro de óbitos causados pelo agente devido à infecção hospitalar em cidades como Fortaleza, Brasília, São Paulo, Londrina e Rio de Janeiro. De acordo com os pesquisadores, porém, são raros no mundo os casos de contaminação de KPC fora de ambiente hospitalar – e no Brasil não há.
A superbactéria já havia sido detectada pelo IMPG em esgoto hospitalar em São Paulo e pesquisadores da Universidade de São Paulo a encontraram no rio Tietê. Ela também já foi achada em rios da França e de Portugal, além de esgoto na China e na Áustria. O contágio, na água, acontece de duas formas: por meio da ingestão de água ou por ferida na pele. Os sintomas variam, segundo a pesquisadora Renata Picão, do IMPG. “Os mais comuns são prostração e febre alta”, explica. O tratamento é administrado em hospital, onde são usadas drogas muito fortes, como a polimixina. Porém, elas têm efeitos colaterais importantes, como o prejuízo ao funcionamento dos rins. A presença da KPC nas águas também preocupa porque estimula sua proliferação. “Fezes contaminadas irão para a rede de esgoto, estabelecendo um ciclo de disseminação”, alerta a bióloga Ana Paula D’Alincourt, autora do estudo, em parceria com Carlos Felipe de Araújo, ambos do IOC.
A explicação mais provável para a concentração do micro-organismo nas águas cariocas é o despejo ilegal do esgoto hospitalar nesses locais. A notícia de sua presença em pontos que serão usados nos jogos de 2016 repercutiu internacionalmente. A rede inglesa BBC, por exemplo, deu destaque ao achado. No Brasil, o velejador Torben Grael lamentou a situação, afirmando que a descoberta teve má repercussão entre os velejadores estrangeiros.