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Vizinho de Interlagos faz da paixão um negócio com ‘Fórmula 1 na laje’

Vizinho de Interlagos faz da paixão um negócio com 'Fórmula 1 na laje'

Letícia Macedo/ G1

Trechos do circuito podem ser vistos do alto da casa de Gilmar

Vizinho do autódromo de Interlagos e apaixonado por automobilismo, o comerciante Gilmar de Santana, de 41 anos, aguarda ansioso o Grande Prêmio de Fórmula 1, que acontece neste domingo (9). Dono de um ferro-velho, ele organiza churrascos na sua casa durante as corridas na Zona Sul de São Paulo e fatura com o evento chamado "Fórmula 1 na laje".

Ele diz ter se apaixonado pela Fórmula 1 ainda na época em que o piloto Ayrton Senna fez história no esporte. Desde então, assiste todas as corridas pela televisão. “Jamais pensei que essa paixão viraria negócio”, comenta.

Quando trocou o Jardim Ângela por Interlagos, ele não imaginava que o terreno onde construiria uma nova casa teria um “potencial turístico”. A vista privilegiada, que permite ver trechos do circuito, foi descoberta por acaso. “Conforme fomos construindo a casa, a vista foi aparecendo. Dá para ver a reta oposta, a curva da reta oposta e a curva da junção.”

Em 2005, ele assistia ao Grande Prêmio com a família quando três turistas que tinham se atrasado para GP pediram para tirar apenas uma foto para enviar a família. A iniciativa dos apaixonados pela Fórmula 1 despertou o desejo de aproveitar o evento para conseguir um dinheiro extra.

No ano seguinte, ele organizou o primeiro "Fórmula 1 na laje" para acompanhar o GP de uma maneira ainda um pouco improvisada. De cara, a ideia encontrou uma certa resistência da mulher, mas “ela foi acostumando”.

Segundo ele, não é raro que torcedores com ingresso na mão cheguem com atraso ao autódromo e busquem um espaço para ver pelo menos um pouquinho da prova à distância. Outros tentam economizar já que para entrar no autódromo ele teria que desembolsar entre R$ 525 e R$ 2.720.

“Vem do pobre ao rico. Gente de todas as regiões do Brasil e até clientes internacionais. Já tive [cliente] americano, alemão. Nos últimos anos têm vindo muitos latino-americanos, bolivianos, colombianos”, diz.

O sucesso empolgou o vizinho do autódromo, que decidiu aprimorar o espaço. A área, que ainda não tem piso, recebe mesas, cadeiras e guarda-sóis. Com o sucesso da iniciativa, ele conseguiu o patrocínio de uma empresa de bebidas, que, além da mobília provisória, fornece gratuitamente a cerveja.

Uma TV de 46 polegadas, com tela plana e amplificador de som, permite aos convidados acompanhar os trechos do circuito que não são vistos da sacada. Uma nova laje, mais alta, também foi construída. Para o cliente entrar no clima da prova, há uma imitação de Ferrari no espaço. Cuidadosamente preservada, ela chama a atenção de quem passa pela Avenida Interlagos.

Nesta semana, ele preparava o espaço para os churrascos que acontecem nesta sexta (7), sábado (8) e domingo (9). O carvão já tinha sido entregue. Na sexta, a entrada custa R$ 30 e no sábado, R$ 50, com o consumo à parte. No domingo, a entrada com o churrasco incluso custará R$ 150.

Mais da metade dos “ingressos” para o churrasco do domingo estava vendida na quinta-feira (6). Ele deve colocar 30 mesas, com quatro cadeiras à disposição dos clientes. “Vinte pessoas vão trabalhar. Todos uniformizados direitinho”, garante.

A trilha sonora também estava preparada. Em um CD, ele registrou o que chamou de “antigo som dos motores”. Ele selecionou arquivos na internet que pretende colocar no momento em que, vestido de piloto, entrará no “carro”. Entre eles, está uma vitória de Senna em Interlagos narrada por Galvão Bueno.

Para quem quiser dormir pertinho do autódromo, ele está disposto a alugar até a casa, que tem dois quartos, sala e cozinha. “Os quartos têm ar-condicionado, TV com tela plana, wifi e frigobar”, conta. Ele quer fechar o negócio por R$ 3 mil pelos 3 dias de atividades no autódromo.

Piscina
Gilmar quer aumentar ainda mais o negócio, com planos ousados. No ano que vem, o churrasco ganhará uma televisão de 80 polegadas e uma piscina. “Minha ideia é cobrar mais caro para quem quiser entrar na piscina. E vai ser mais caro, claro, porque piscina é coisa de bacana”, afirma.

Depois do patrocínio, Gilmar sonha agora em em encontrar uma empresa que queira oferecer uma festa para os funcionários nos dias de GP. “Imagina se uma empresa alugasse o espaço e patrocinasse a festa para funcionários?”, imagina.

O negócio é lucrativo, mas exige sacrifícios do fã da Fórmula 1. Gilmar ficará na bilheteria. “Se der tudo certo, eu subo um pouquinho só para ver a largada, mas nunca se sabe se chega gente na última hora. Quem vai cobrar o ingresso? Mas eu queria ver mesmo é uma fila de gente”, brinca.