Apoio deve ser condicionado à aceitação de pontos do programa de governo. PT pressiona pela neutralidade.
Após a derrota de Marina Silva no primeiro turno, o PSB enfrenta o debate sobre seu apoio e a previsão é de que as lideranças se dividam entre as candidaturas da presidente Dilma Rousseff e a do tucano Aécio Neves. Nos bastidores, socialistas admitem que Marina estuda declarar seu apoio pessoal a Aécio.
Para justificar este endosso, a ex-senadora tentará manter uma motivação programática e, por isso, apresentou aos tucanos a exigência de incorporação de alguns pontos a serem incorporados no programa de governo de Aécio, entre eles, o fim da reeleição e compromissos na área ambiental.
“Não tenho dúvida de que alguns pontos do programa de governo devem ser incorporados e que esse apoio a Aécio deve se verificar”, disse o ex-deputado Alfredo Sirkis, que integra da Rede Sustentabilidade, legenda informal liderada por Marina e atualmente abrigada, em grande parte, no PSB. Sou favorável ao apoio a Aécio porque defendo a alternância de poder. Doze anos de governo do PT já está de bom tamanho”, disse o ex-deputado.
O PT, por sua vez, tenta conseguir agora, que pelo menos haja por parte do partido que abrigou Marina uma decisão de não formalizar apoio ao tucano. Os petistas recorreram aos socialistas históricos para tentar resgatar a relação perdida após o rompimento de Eduardo Campos com o governo, no final de 2013, antes de se lançar na disputa.
Para isso, logo no domingo, tanto Dilma, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disparam ligações para restabelecer as pontes com os socialistas. Dilma ligou para o presidente do partido, Roberto Amaral, de quem é próxima. Amaral sempre fez questão de exaltar a amizade com a presidente, se negando a criticá-la, mesmo durante o período em que esteve engajado na campanha de Marina.
Lula, de acordo com petistas, disparou ligações para dirigentes da legenda, entre eles, Amaral. O ex-presidente ainda se dedicou na noite de domingo a falar por telefone com os candidatos do PSB que estão disputando o governo no Amapá, Camilo Capiberibe, e da Paraíba, Ricardo Coutinho. Além de parabeniza-los pela vitória em primeiro turno, Lula confirmou apoio a eles nos estados e pediu a contrapartida.
O apoio formal a Aécio é desejo de grande parte do PSB. No entanto, quadros históricos do partido querem evitar que isso ocorra e cogitam liberar os filiados para atuarem no segundo turno de acordo com as conveniências locais.
Além de Amaral, Coutinho, e Capiberibe – incluindo a deputada reeleita Janete Capiberibe e seu marido, o senador João Capiberibe -, o PT pretende contar, para minar o apoio a Aécio, com a ação do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, derrotado no primeiro turno por Paulo Hartung (PMDB) e aliado, de primeira hora do tucano.
Os petistas também buscam pontes com a senadora baiana Lidice da Mata, que disputava o governo da Bahia e foi vencida pelo candidato do Rui Costa (PT) e com a deputada reeleita Luiza Erundina, ex-petista que não faz segredo de sua impossibilidade de apoiar os tucanos.
Sinais
Já do lado tucano, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso telefonou para vários interlocutores nesta segunda-feira em busca de apoio para Aécio Neves, valendo-se da relação já consolidada com o vice-governador eleito, Márcio França (PSB), na chapa que reelegeu Geraldo Alckmin em São Paulo.
Na reunião da executiva do PSB, marcada para amanhã (8), os tucanos contam com a defesa de socialistas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Distrito Federal, Goiás e Pernambuco.
Para garantir o apoio, até o atual governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, que é do PP e aliado de Aécio, entrou na maratona de ligações, a pedido do tucano. Na manhã de segunda, ele telefonou para o deputado Júlio Delgado, que preside o PSB no estado, para garantir a aliança com o tucano.
O deputado reeleito Bruno Araújo (PSDB-PE) também entrou em campo para garantir a interlocução com o PSB de Pernambuco que, nos bastidores, já decidiu defender o apoio formal a Aécio na reunião da executiva do partido.
Condições
Além das intensas conversas conduzidas na segunda-feira, Aécio sinalizou a aceitação das condições de Marina para selar o apoio. “Vejo absoluta convergência com aquilo que pensamos e com aquilo que queremos para o Brasil. Se vocês avaliarem os nossos programas vão encontrar muito mais pontos de convergências do que pontos divergentes”, disse o candidato tucano.
Embora haja forte pressão de setores do PSB pelo apoio a Aécio, os socialistas querem tomar uma posição que seja somente do partido. Mesmo os que defendem o apoio ao tucano fazem questão de frisar que não pretendem, neste contexto, vincular a posição aos integrantes da Rede Sustentabilidade, legenda informal liderada por Marina e abrigada, em sua grande parte, no PSB.