Filme resgata movimento para derrubada da ditadura militar, nos anos 1980. Jogadores como Sócrates viram chance de mudar habituais regras.
Dentro da grande quantidade de recentes documentários sobre times de futebol, “Democracia em preto e branco”, de Pedro Asbeg, que foi lançado no Festival É Tudo Verdade, destaca-se por ser bem mais do que isso.
Através de entrevistas e material de arquivo, propõe-se a resgatar um momento particular na história recente do país, em que futebol, política e música pop se uniram numa mistura única, num movimento para a derrubada da ditadura militar, na década de 1980. O filme estreia no Rio de Janeiro.
No Corinthians, jogadores como Sócrates, Casagrande e Wladimir viram a chance de mudar as habituais regras e imposições sobre a vida dos atletas com a chegada de um novo diretor, o sociólogo Adilson Monteiro Alves, que possibilitou a implantação de um modelo mais democrático.
Assim, surgiram as discussões para uma escolha conjunta de horários de concentração e treinos, novas contratações e até uma divisão dos ganhos do time que incluísse também profissionais como motoristas, roupeiros, massagistas e outros. E, o que é melhor, dentro de campo o time brilhava.
Bem-informados e ligados ao que acontecia fora dos gramados, os jogadores entravam em campo com camisetas que portavam não só a vinculação com aquela que foi chamada de “Democracia Corinthiana”, como também slogans estimulando o povo a votar naquela que seria a primeira eleição direta para governador, em 1982. E que, logo mais, daria fôlego à campanha pelas Diretas-Já, que tomou as ruas do país com milhões de pessoas em meados de 1984 e é mostrada amplamente em inserções de materiais de arquivo.
Na música pop, por sua vez, roqueiros faziam a sua parte para lutar contra a censura, que procurava impedir os artistas de protestar contra a violência e o arbítrio, contestados em músicas como “Estado Violência”, dos Titãs e “Selvagem”, dos Paralamas do Sucesso, entre vários outros.
Os próprios jogadores corinthianos também mantinham uma estreita ligação com o rock, caso de Casagrande e também de Sócrates – que aparecem numa imagem, comparecendo a um show de Rita Lee (que é a narradora do documentário).
O filme traz entrevistas exclusivas com os protagonistas da Democracia Corinthiana, entre elas uma das últimas feitas com Sócrates (que morreu em 2011), além de personalidades, como os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso; Marcelo Rubens Paiva, Marcelo Tas, Edgard Scandurra, Frejat, Serginho Groisman e Paulo Miklos.