Ferido, universitário de 21 anos entrou no prédio da namorada, mas morreu. Um dia após o crime, acusado de matar cartunista foi preso no carro do jovem.
Câmeras de segurança registraram o momento em que o estudante de direito Mateus Pinheiro de Morais, 21 anos, morreu após ser baleado durante um assalto na Rua T-29, no Setor Bueno, em Goiânia, no domingo (31). O suspeito de cometer o latrocínio (roubo seguido de morte) é Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 29 anos, Cadu, que confessou ter matado o cartunista Glauco Vilas Boas e do filho dele, Raoni, em 2010. Um dia depois do latrocínio, Cadu foi preso dentro do carro de Mateus, mas nega ter cometido o crime.
Mateus foi baleado quando deixava a namorada em casa, às 21h30. O jovem estacionou por volta de 30 metros do edifício em que ela reside. O vídeo mostra quando o rapaz, ferido, corre em direção à portaria. Do outro lado da rua, a namorada de Mateus também corre, gritando por ajuda.
As imagens registram quando a vítima entra no edifício da namorada e, quatro segundos depois, cai no hall. Após cerca de 30 segundos, a namorada do universitário entra no prédio. Moradores do condomínio relataram ao G1 que ela chorava muito, estava muito agitada e beijava o rosto da vítima.
Síndico do edifício, o policial federal aposentado Raul Nascente, de 59 anos, conta que ouviu o disparo e desceu do apartamento. Ele relata que encontrou Mateus ainda com vida. "Tentei reanimá-lo. Ele ainda apresentava movimentos, contrações involuntárias. Coloquei o dedo no orifício do tiro, na clavícula esquerda, fiz massagem respiratória. No meio da massagem, percebi que as pupilas já estavam dilatadas, o que significa que ele já havia tido uma morte cerebral", disse o síndico em entrevista ao G1.
O policial federal relata que outro morador do edifício e um morador do prédio vizinho, que são médicos, também tentaram reanimar a vitima. Cerca de cinco minutos depois uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também chegou ao local.
Segundo o síndico, ele e os médicos já haviam constatado a morte do estudante. No entanto, esperaram o parecer do resgate para informar à namorada da vítima que Mateus não havia resistido ao ferimento. "O Samu tentou reanimá-lo por cerca de oito minutos. Depois, a médica do Samu se dirigiu à jovem, que estava sentada no sofá, colocou a mão na cabeça dela e disse: ‘Ele já faleceu’. Ela [namorada] não parava de chorar", disse o policial federal.
Os moradores do condomínio ficaram abalados com o crime. "Consternação geral no prédio. A cena foi muito triste. O rapaz frequentava há um ano aqui. Ele era muito educado, bem nascido. A menina é muito querida pelos moradores", relatou Raul.
Natural de Goianésia, no sul goiano, Mateus se mudou para Goiânia para estudar. Após ser liberado pelo Instituto Médico Legal na tarde de segunda-feira (1º), o corpo do estudante foi encaminhado ao município do interior goiano, onde foi enterrado por volta das 8 horas de terça-feira (2).
A namorada da vítima relatou ao síndico que eles haviam estacionado dois minutos antes de eles serem abordados. Ela contou a Raul que viu o rosto dos suspeitos. "Ela disse que viu os dois homens subirem a T-29 e se aproximando do carro, que estava com os vidros fechados. Um deles bateu com a arma no vidro do motorista. Ela não soube dizer se o namorado titubeou, mas ele [suspeito] nem esperou o jovem abrir a porta e atirou. O vidro ficou estilhaçado. Foi um tiro descendente. Em seguida, eles saíram do carro correndo", afirmou o síndico.
O policial federal explicou que a rua é escura e a vítima estacionou o carro em um local de luminosidade mínima, pois a lâmpada do poste de energia mais próxima está queimada há um ano. A situação facilita a ação de criminosos, segundo o síndico. "A rua é escura há mais de quatro anos. Quando um poste não está com a lâmpada queimada é o outro. Já liguei mais de oito vezes na prefeitura e fui uma vez, mas não arrumam. Há 20 dias comprei quatro refletores de LED e, por isso, a porta do prédio é iluminada, mas o casal parou mais embaixo", afirmou Raul.
Procurada pelo G1, a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) não se pronunciou sobre o problema de iluminação na via até a publicação desta reportagem.
De acordo com Raul, dois latrocínios e duas tentativas de latrocínio ocorreram na região em nove dias. A população está indignada com a insegurança. “Eu vou convocar os síndicos para instalar segurança privada na T-29 e ruas próximas. O policiamento, o número de rondas é muito baixo", afirmou o síndico.
A Polícia Militar informou, em nota, que "as ações de segurança para a região já estão sendo desenvolvidas de forma mais veemente".
O delegado responsável por investigar o crime, Tiago Damasceno, vai analisar as imagens de câmeras de segurança dos imóveis próximos ao local do crime. O investigador explicou que ainda não é possível confirmar a participação de Cadu na execução do estudante.
"Ele foi detido no carro da vítima e com uma arma parecida com a que foi utilizada no crime. Temos que esperar o resultado da balística e o depoimento de testemunhas, como a namorada da vitima, que é uma peça chave nesse caso. Ela já foi intimada e estamos a aguardando. Estamos respeitando o momento de perda", disse o delegado.
Segundo o delegado, apesar de negar o crime, Cadu admitiu ter conhecimento de que o carro em que estava quando foi preso, um Honda Civic, era roubado. "Ele parece mais ser dissimulado do que deficiente mental. Creio que ele não tem condições de viver em sociedade", afirmou o delegado.
Cadu continua detido na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Goiânia. Conforme Damasceno, ele deve permanecer no local até a conclusão do inquérito policial, o que deve ser feito em dez dias.
Perseguição
Cadu foi preso na tarde de segunda-feira, após uma perseguição policial em Goiânia. De acordo com o delegado, ele notou que o veículo em que o suspeito estava era similar ao envolvido no latrocínio e decidiu segui-lo. “Eu tinha a placa e as características do Honda Civic que foi roubado no domingo de um jovem de Goianésia. E hoje, dirigindo pela cidade, eu avistei esse carro e comecei a persegui-lo. Eu pedi ajuda de um guarda municipal. Ao perceber que estava sendo seguido, ele subiu na calçada e tentou fugir, mas acabou batendo no muro e foi rendido”, disse o delegado.
Segundo Damasceno, Cadu atirou contra os policiais, mas ninguém se feriu. Em seguida, o suspeito tentou fugir, mas foi rendido por policiais militares que passavam pelo local. Com ele, a polícia apreendeu um revólver calibre 38 prateado. O outro suspeito, de 33 anos, que dava cobertura a Cadu, não reagiu e se entregou aos policiais.
Cadu também é suspeito de envolvimento na tentativa de latrocínio de um agente prisional, de 45 anos, no último dia 28, no Setor Bueno. Câmeras de segurança registraram o momento em que, segundo a Polícia Civil, ele briga com a vítima, atira e foge. O agente prisional segue internado em estado grave no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo).
Liberdade
Em 2010, Cadu confessou ter matado o cartunista Glauco Vilas Boas e o filho dele, Raoni Vilas Boas, em Osasco (SP). Apesar disso, estava em liberdade porque ele possui esquizofrenia e a Justiça o considerou inimputável, ou seja, incapaz de perceber a gravidade de seus atos. A doença mental não tem cura, mas tem controle, desde que seja tratada.
Incluído no Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator (Paili), em Goiânia, ele passou por tratamento em uma clínica psiquiátrica, mas, em agosto de 2013, a Justiça de Goiás considerou que ele podia receber alta médica. A decisão foi tomada pela juíza Telma Aparecida Alves, da 4ª Vara de Execuções Penais. Na terça-feira, ela explicou em entrevista coletiva que tomou todas as precauções no processo de soltura de Cadu.
A medida foi embasada na avaliação médica do Tribunal de Justiça de Goiás, feita em junho daquele ano, em que o rapaz recebeu parecer favorável à liberação. Segundo a decisão, Cadu estava apto a passar a fazer tratamento ambulatorial, em vez de ficar internado.