Tucanos ligados ao comitê do candidato acreditam que o melhor é esquecer o constrangimento causado por José Agripino Maia, que sinalizou apoio a Marina no 2º turno.
O crescimento de Marina Silva (PSB) nas pesquisas de intenção de voto acabou exacerbando arestas dentro do comitê de Aécio Neves (PSDB). Pequenas rusgas que não tinham maior importância acabaram ganhando ressonância neste período de baixa na campanha tucana. O coordenador-geral da campanha do PSDB, senador José Agripino Maia (DEM-RN), acabou protagonizando parte da turbulência.
Alguns tucanos andavam criticando reservadamente algumas posturas de Agripino. Esperavam um coordenador mais ativo na campanha. Chamou a atenção, por exemplo, sua ausência no segundo debate entre os presidenciáveis, realizado pelo SBT. No mesmo dia, ele acabou dando uma declaração de desencadeou uma onda de irritação interna. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Agripino sinalizou que o PSDB caminharia com Marina Silva no caso de a candidata do PSB chegar ao segundo turno. Como diz um membro do partido, quando eleição vai bem, tudo vai bem, quando vai mal, tudo é motivo para acirrar ânimos.
Embora nem todo mundo dentro do PSDB ainda tenha digerido totalmente o episódio em que o senador sinalizou apoio a Marina, a ordem no comitê tucano é passar uma borracha no assunto. O incômodo entre tucanos é que Agripino, além de ter uma posição importante no comitê, é um político experiente que sabe que não se pode admitir publicamente uma derrota, ainda que haja convicção sobre isso. Regra eleitoral básica. Daí a desconfiança de alguns de que o senador do DEM talvez tenha calculado o gesto. Só que a avaliação de aliados de Aécio é que escanteá-lo ou diminuir seu papel na campanha só prolongaria mais um assunto que os tucanos querem esquecer.
Além do mais, dizem interlocutores de Aécio nos bastidores, mudanças desse tipo não vão desfazer o que está feito. Vida que segue, essa é a ordem agora, que fica bem explícita na fala do ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman, um dos coordenadores da campanha do PSDB em São Paulo. “Isso é assunto encerrado”, dispara Goldman.
Mas correligionários de Goldman dizem reservadamente que ainda há um “clima” com Agripino nas fileiras tucanas. Parlamentares ouvidos pelo iG afirmaram que a atitude do senador foi vista como um gesto de abandono da campanha feito no pior momento possível. Ou seja, justamente quando Aécio e a coordenação tentavam assimilar o atropelo de Marina nas pesquisas de intenção de voto e traçar uma estratégia para lidar com a crise, um aliado de peso joga contra esse esforço.
Nem a posterior mudança de discurso de Agripino nas redes sociais acalmou o tucanato. Mas apesar de alguma mágoa aqui e ali, numa coisa os tucanos concordam, remexer o assunto seria ainda pior e passaria recibo de que a campanha tem problemas. Nas palavras de um parlamentar da sigla, cogitar esse tipo de coisa seria transformar uma “derrapada numa capotagem”. Reina o pragmatismo no comitê tucano, para quem Aécio já tem problemas demais nesta eleição para criar uma guerra civil em seu núcleo eleitoral.
Intensificar é preciso
Os mais práticos admitem que o melhor é dedicar esforços na campanha, que entra numa nova fase neste momento. Tudo porque o comitê tucano avalia que os próximos 15 dias serão cruciais para saber se Aécio terá ou não condições de chegar ao segundo turno. A esperança tucana busca sobrevida. O ímpeto agora é buscar o tom ideal para criticar Marina sem que isso se confunda com ataques pessoais. O objetivo é ir minando o mito Marina apontando contradições e criticando propostas, deixando ao PT e à presidente Dilma Rousseff o trabalho mais árduo de combate frontal à candidata do PSB.
Apesar de Aécio ter registrado mais uma queda na última pesquisa, o PSDB ficou aliviado com o fato de Marina ter parado de crescer. Apostam que Aécio tem espaço para reagir diante das idas e vindas do discurso de Marina. Contradições, a ordem é explorá-las exaustivamente. Também consideram que o tucano pode crescer conforme cresça seu nível de conhecimento entre os eleitores aliado ao distanciamento do período de comoção com a morte de Eduardo Campos, no dia 13 de agosto. É a ideia de que, para o eleitorado, esse episódio vai ficando mais e mais distante no imaginário tendo seus efeitos amenizados.
Aécio deverá ainda intensificar as agendas e o corpo a corpo e demonstrar vigor como alternativa eleitoral para quem buscou em Marina alguém realmente capaz de vencer Dilma. É a forma que o PSDB planeja retomar as intenções de voto que perdeu com a chegada da socialista.